Quer saber mais sobre a Retinopatia Diabética?

Confira a entrevista com a oftalmologista da OftalmoDiagnose, Débora Moraes Luna

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Quer saber mais sobre a Retinopatia Diabética?

 Confira a entrevista com a oftalmologista da OftalmoDiagnose, Débora Moraes.                                              

 

1.    Como podemos definir a retinopatia diabética?

A Retinopatia Diabética é uma doença que o diabético pode apresentar na retina e que, frequentemente, caso não seja adequadamente tratada, pode levar à cegueira. É a principal causa de cegueira na população economicamente ativa no mundo.

Daí a importância de controlar a doença de base – que é o diabetes - e de reforçar a necessidade do exame de fundo de olho sob dilatação pupilar do paciente diabético.

2.    Quais os tipos de retinopatia diabética?

Há dois tipos: Retinopatia Diabética Não Proliferativa e Retinopatia Diabética Proliferativa.

3.    Quais os sintomas dessa doença?

Na imensa maioria dos casos, a doença se apresenta sem sintoma algum. Quando ela começa a apresentar sintomas, já temos uma situação importante chamada edema macular que, por si só, simboliza um aumento de risco de uma doença cardiovascular (AVC ou infarto do coração) ou em situação mais grave quando temos sangramento, ou mesmo uma deficiência de suprimento sanguíneo na região mais nobre da retina.

O que os pacientes referem que percebem é: “sensação de visão turva”, “nuvem que passa na frente da visão”, “ não consegue ver bem, mesmo quando em uso dos seus óculos”.

4.    E as consequências? O que pode ocorrer com a visão?

A consequência mais grave é a perda irreversível da visão dos dois olhos. Isso é o que tentamos arduamente evitar. Também há a possibilidade de o paciente ficar com a visão mais baixa, limitando seu potencial de dirigir um veículo ou de ler placa de trânsito, por exemplo.

5.    Existe um público com maior predisposição para desenvolver a doença?

As únicas pessoas que podem ser afetadas pela Retinopatia Diabética é o paciente com diagnóstico de diabetes, seja ele do tipo 1 ou do tipo 2. Embora a Retinopatia Diabética possa se apresentar em pacientes diabéticos bem controlados do seu metabolismo, geralmente ela é leve neste público, bem controlado e não exige tratamento, apenas acompanhamento.

É no grupo de diabéticos que estão (ou estiveram por um tempo) cronicamente descompensados que a doença se apresenta muito agressiva e aqui nós, retinólogos, ficamos preocupados e correndo contra o tempo para instituir tratamentos diversos.

A informação que se tem é que o diabetico tipo 1 inicia a RD mais cedo e com maior gravidade que o tipo 2, entretanto, na minha prática diária, vejo uma quantidade muito maior de pacientes do tipo 2 perdendo a visão pelo descontrole do diabetes ou mesmo porque muitos desconhecem que sejam diabéticos.

6.    Quem tem diabetes diagnosticado deve ter acompanhamento oftalmológico? Fala mais sobre essa importância.

É importantíssimo que os clínicos gerais, médicos da família, nutricionistas, endocrinologistas, cardiologistas, enfermeiros e toda a rede multidisciplinar da saúde estimulem o paciente diabético a procurar o oftalmologista o quanto antes para que seja feito o exame de Mapeamento de Retina ou fundo de olho, sempre sob dilatação da pupila. É muito importante que se dilate a pupila no exame do paciente diabético. Este exame precisa ser feito, no mínimo, uma vez por ano.

7.    Quais os exames usados no diagnóstico da retinopatia diabética?

Para o DIAGNÓSTICO da Retinopatia diabética, basta que seja feito o exame de Mapeamento de Retina (ou até mesmo o exame de fundo de olho sob dilatação pupilar); entretanto, com o avanço da tecnologia, podemos lançar mão de exames de ponta, que nos trazem informações complementares valiosas como a ANGIOFLUORESCEINOGRAFIA, Ultrassonografia e a TOMOGRAFIA DE COERÊNCIA ÓPTICA (OCT).

8.    E os tratamentos? O que há de novo?

O tratamento tem 2 pilares:

1)    O que reduz a chance de cegueira: Laser (fotocoagulação)

2)    O que melhora a qualidade visual (injeção intravítrea com antiangiogênicos)

Há ainda o tratamento cirúrgico que reservamos para os quadros mais graves, em que o laser e a injeção já não são capazes de resolver.

9.    Fala mais sobre a cirurgia de vitrectomia.

É uma cirurgia realizada  no vítreo e na retina. Digo sempre que estamos mexendo em tecido neural, o mesmo tipo de tecido que compõe cérebro e medula espinhal, ou seja, é uma cirurgia delicada. Pode demorar cerca de 40 minutos a 2 horas, a depender da necessidade de cada caso. A reabilitação visual pode ocorrer, muito embora o objetivo em muitos casos é manter a visão da forma que estiver, evitando a piora ou a perda definitiva.

10.  Em termos de Bahia, temos dados sobre a incidência da doença na população?

Pelo menos 425 milhões de pessoas em todo o mundo têm diabetes, e é provável que o número de portadores da doença cresça em 50% até 2045, para 629 milhões. Cerca de 50% das pessoas com diabetes não sabem que têm o problema, embora por volta de 2 milhões de mortes todos os anos sejam atribuídas a complicações do diabetes. (Atlas IDF 2017) Depois de 15 anos de doença, cerca de 2% das pessoas com diabetes tornam-se cegos, e cerca de 10% desenvolvem perda visual grave. Depois de 20 anos de doença, estima-se que mais de 75% dos pacientes têm alguma forma de retinopatia diabética. (As Condições de Saúde Ocular no Brasil 2019). Numa busca rápida no Datasus na Bahia, encontrei dados de 2013 que certamente estão aquém dos números atuais.

11.  Mais alguma observação importante sobre a temática para acrescentar?

Primeira mensagem é:

O paciente diabético precisa ter em mente alguns itens que podem piorar a Retinopatia Diabética dele, a saber:

1)    Hemoglobina glicada acima de 7%;

2)    Glicemia capilar variando acima de 50 pontos ao longo do dia;

3)    Anemia;

4)    Gravidez;

5)    Neuropatia diabética;

6)    Problema renal.

Segunda mensagem é:

O tratamento da RD pode reduzir a chance de perda visual em mais de 90% dos casos. Mas saiba que, embora muitas formas da RD possam ser tratadas, uma vez que a visão tenha sido perdida devido à RD, ela não pode ser restaurada totalmente.

Terceira Mensagem é:

O médico que atende o paciente diabético precisa referenciar ao oftalmologista (ou ao oftalmologista retinólogo) e o oftalmologista precisa referenciar o diabético para a equipe multidisciplinar, não esquecendo jamais do nefrologista, que é o médico que cuida dos rins. Sabemos que quando a retina está afetada pela Retinopatia Diabética há um aumento de chance de o rim também já se apresentar afetado. A intervenção sempre deve ser precoce.

Última mensagem, mas não menos importante é:

Diabético, procure um cardiologista para ele avaliar sua possibilidade de fazer atividade física.Você estando liberado pelo cardiologista, faça sua atividade física, aumente sua massa muscular. Procure um nutricionista. Cuide dos horários e do tipo de sua alimentação e de suas medicações, beba água. Este é o jeito de você viver toda a sua vida com os sentido da visão que é necessário e também fonte de prazer. Prevenir que a Retinopatia Diabética inicie em seus olhos é a mensagem mais importante que pretendo deixar.

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