146 defensores ambientais foram mortos ou desapareceram em 2023, aponta ONG
Mais uma vez, os povos indígenas foram vítimas de cerca de um terço dos ataques letais, apesar de constituírem cerca de 6% da população global

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Pelo menos 142 ativistas foram mortos e quatro desapareceram em todo o mundo no ano passado defendendo suas terras, comunidades ou o meio ambiente. Desde 2012, o número de defensores mortos ou desaparecidos chega a pelo menos 2.253.
Os dados são do relatório anual da ONG internacional Global Witness e foram divulgados nesta quarta-feira (17). Mais uma vez, os povos indígenas foram vítimas de cerca de um terço dos ataques letais, apesar de constituírem cerca de 6% da população global.
A América Latina segue sendo o lugar mais perigoso para defensores ambientais, com 117 assassinatos em 2024 – o que equivale a oito em cada dez mortes ao redor do globo.
A Colômbia liderou o ranking mundial pelo terceiro ano consecutivo, com 48 assassinatos. Em seguida vem a Guatemala, onde 20 defensores foram mortos no último ano, um aumento expressivo em relação às quatro mortes em 2023.
Ao menos 18 defensores foram mortos no México e 12 no Brasil. As Filipinas registraram sete assassinatos, enquanto Honduras e Indonésia tiveram cinco mortes cada.
Quatro defensores desapareceram em 2024 e não foram encontrados: um no Chile, um em Honduras, um no México e um nas Filipinas.
Os números do ano passado representam uma melhora significativa dos índices brasileiros: em 2023, tinham sido registrados 25 assassinatos de defensores ambientais e o país ocupava o segundo lugar no ranking mundial.
Metade dos mortos em 2024 no Brasil eram pequenos agricultores. Quatro indígenas foram assassinados, assim como um defensor afrodescendente.
A organização destaca, porém, que apesar da redução no número de homicídios, ataques não letais continuam generalizados em todo o país, chamando atenção para os números da Comissão Pastoral da Terra, que registrou 481 casos de tentativa de homicídio, 44% dos quais contra povos indígenas e 27% contra quilombolas.
"Com laços mais estreitos com as terras em que vivemos, nossas práticas tradicionais resultam em um mundo mais sustentável. Ao nos conceder direitos à terra, nosso planeta fica melhor", afirma em comunicado a ativista Selma dos Santos Dealdina Mbaye, coordenadora política na Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas).
"Mas precisamos de mais do que direitos à terra. Muitas vezes, somos vítimas de uma violência indizível. Pelo menos 413 defensores da terra e do meio ambiente foram mortos ou desapareceram no Brasil desde 2012 36 dos quais eram afrodescendentes", ressalta ela.
Ainda que o relatório não detalhe a motivação das agressões, o documento aponta a constante impunidade como um dos motivadores para os crimes.
O documento também afirma que o setor da mineração é o mais letal, com 29 casos registrados em 2024, seguido de extração de madeira, com oito casos, e agronegócio, com quatro. Obras de infraestrutura, caça ilegal e o setor hidrelétrico também motivaram ataques letais.
Crime organizado, agentes governamentais, milícias, corporações, proprietários de terra e seguranças privados estão entre os atores apontados como perpetradores da violência.
"Defender-se contra a injustiça nunca deveria ser uma sentença de morte", afirma a autora principal do relatório, Laura Furones, em comunicado. "É fundamental que governos e empresas mudem o rumo para defender os direitos dos defensores e protegê-los em vez de persegui-los. Precisamos desesperadamente de defensores para manter nosso planeta seguro. Se virarmos as costas para eles, renunciamos ao nosso futuro."