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25 de julho: dia de reflexão, luta e reconhecimento para mulheres negras

Data reforça enfrentamento ao racismo, machismo e sexismo

Por Ane Catarine Lima
Ás

25 de julho: dia de reflexão, luta e reconhecimento para mulheres negras

Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado nesta terça-feira, dia 25 de julho, surgiu em 1992 durante um encontro de mulheres em Santo Domingos, na República Dominicana. Desde então, essa data reforça a reflexão sobre o papel das mulheres negras na sociedade e fomenta a luta contra as opressões de raça e gênero.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados no ano passado, mostram que a população negra no Brasil corresponde a 56,1%. Na América Latina e no Caribe, mais de 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes, de acordo com a Associação Rede de Mulheres Afro-Latinas, Afro-Caribenhas e da Diáspora (Mujeres Afro).

Apesar da representatividade numérica, no Brasil, a parcela populacional composta por mulheres negras é a que mais sofre, seja com a falta de políticas públicas ou oportunidades, o que evidencia o racismo estrutural e o machismo enraizado na sociedade. 

Diante dessa realidade, Amanda Oliveira, articuladora do Núcleo de Juventudes do Odara - Instituto da Mulher Negra, ressalta que é fundamental pensar o 25 de julho como uma data de reflexão, valorizando principalmente a luta travada pelas mulheres negras mais antigas e buscando visualizar de forma coletiva os desafios que ainda precisam ser superados.

"Para nós, mulheres negras, o dia 25 de julho carrega muitos significados. É atemporal, pois celebramos a luta de nossas mais velhas que abriram caminhos para seguirmos. Além disso, é também uma celebração da luta contemporânea das mulheres que seguiram e seguem nesse caminho de construção", disse a representante do Odara, em entrevista ao Farol da Bahia.

"É um dia de celebrar as conquistas, mas também de reflexão e reivindicação, considerando que ainda vivemos em uma sociedade racista, machista e sexista que influencia nossa existência. Essa data nos permite enxergar o caminho que já percorremos e as batalhas vencidas, ao mesmo tempo que nos motiva a construir estratégias coletivas para reivindicar os caminhos de luta que ainda temos pela frente", completou.

Segundo Amanda, o mês de julho como um todo é destinado à valorização e visibilidade do movimento de mulheres negras na sociedade. Durante a entrevista, ela enfatizou a importância da reflexão sobre o protagonismo das mulheres pretas que, por serem vítimas de uma estrutura racista e machista, enfrentam cotidianamente diversos desafios.

“No ‘Julho das Pretas’, conseguimos de forma muito estratégica e coletiva mobilizar o movimento de mulheres negras. Nosso objetivo é pensar, pautar e dar visibilidade ao movimento. Então, o mês de julho traz essa carga de reflexão a partir do protagonismo das mulheres negras na condução de suas atividades, tendo a autonomia para pensar e pautar as dores que nos atravessam”, explicou.

“Na maioria das vezes os debates são sobre nós, mas não somos nós que estamos conduzindo. É pensar nesse mês, portanto, como estratégico para fortalecer a nossa autonomia. Somos nós debatendo sobre nós e sobre as pautas que nós vivemos. É a dor que nos atravessa, por isso nós temos que debater”, continuou.

A luta é diária 

Ao pensar em lugares de poder e destaque dentro da sociedade brasileira, fica evidente que a maioria deles ainda são majoritariamente brancos. Embora as pessoas negras venham ganhando mais espaço, as desigualdades de gênero e raça ainda são fatores latentes no Brasil. De acordo com Amanda Oliveira, ser mulher negra é  sinônimo de resistência e luta cotidiana.

“Ser mulher negra e sobreviver em uma sociedade como a nossa que nutre um sistema de opressão estruturado e posto para nos desafiar todos os dias, nos colocando em um lugar de inferioridade e subalternidade, é enfrentar desafios cotidianos. Em todo lugar que a gente vá, nós enfrentamos os desafios ligados à forma estrutural do racismo, machismo e sexismo. Isso afeta a nossa vida diariamente, seja na dificuldade que nós temos em acessar os espaços de poder ou para acessar as políticas públicas”, disse.

“Portanto, repito que ser mulher negra, com todas as nossas interseccionalidades, é enfrentar desafios cotidianos de resistência e enfrentamento às dificuldades que são postas a nós todos os dias. Para construir os nossos caminhos, para acessar a universidade ou qualquer outro espaço nós enfrentamos desafios  porque o sistema diz que devemos ocupar lugares subalternos. Quando enfrentamos esse sistema, somos confrontadas. Isso é desafiador”, continuou Oliveira, reforçando que mulheres devem ocupar o lugar que queiram estar.

Fortalecimento da memória

Os quilombos foram espaços de resistência e fortalecimento identitário para mulheres pretas. Nesse contexto, o 25 de julho assume um papel significativo ao promover a valorização da cultura e da memória. Vale destacar a história de Tereza de Benguela, líder do Quilombo de Quariterê, no Mato Grosso, que no século 18 ajudou mais de 100 pessoas negras indígenas a fugir da escravidão.

Foto: Tereza de Benguela (Divulgação)

Para Amanda Oliveira, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha também desempenha um papel essencial no combate ao apagamento histórico das pessoas negras na sociedade. 

"Acredito que uma das maiores lacunas intencionais criadas pelo racismo para a comunidade negra é a negação de nossa história. Ao refletir sobre a pauta do 'Julho das Pretas' deste ano, que aborda o papel das mulher negra na construção de caminhos para a reparação histórica, fica evidente a importância de compartilhar histórias como a de Tereza de Benguela", explicou Amanda.

"Infelizmente, nas escolas e comunidades quilombolas, não temos o costume de contar a história de Tereza de Benguela. Ela foi uma grande líder quilombola, e sua história ilustra a importância das mulheres negras na organização social, política e econômica da sociedade. Um dos caminhos para a reparação é fortalecer a transmissão de nossa história. Isso contribui para o fortalecimento de nossa identidade e senso de pertencimento étnico, especialmente para a juventude que está chegando agora, muitas vezes fragilizada por conta das histórias que nos contaram", concluiu.


 

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