Abin produziu relatório para investigar vulnerabilidade de urnas eletrônicas, afirma diretor
Declaração de Alexandre Ramagem foi dada durante depoimento à Polícia Federal
Foto: Reprodução/Senado
O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, admitiu, em depoimento prestado à Polícia Federal, que o órgão produziu relatórios para investigar supostas vulnerabilidades das urnas eletrônicas nas semanas que antecederam a live do presidente Jair Bolsonaro.
A live referida por Ramagem ocorreu em julho de 2021. Nela, o presidente Jair Bolsonaro atacou duramente as urnas eletrônicas. Apesar admitir a produção de relatórios acerca do assunto, o diretor-geral da Abin afirma que os documento não foram utilizados para subsidiar o discurso do chefe do Executivo.
Essas informações foram divulgadas pela CNN, que teve acesso ao interrogatório, de cinco páginas, conduzido pela delegada Denisse Dias Ribeiro. Veja uma parte do depoimento do diretor-geral da Abin:
“Indagado se determinou a produção de conhecimento a respeito de supostas vulnerabilidades do sistema eleitoral brasileiro, respondeu que o CEPESC/ABIN [Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para a Segurança das Comunicações da Agência Brasileira de Inteligência] trabalha na elaboração de produção de conhecimento relacionada à supostas vulnerabilidades do sistema de votação brasileiro, porém nenhum desses conhecimentos foram encaminhados ou utilizados na live; que um dos motivos da elaboração desse tipo de conhecimento pelo CEPESC/ABIN ocorre em virtude da pretendida participação nos próximos testes públicos realizados pelo TSE [Tribunal Superior Eleitoral] como forma de auxiliar no aperfeiçoamento do sistema eleitoral. Indagado se ficou sabendo se houve produção de conhecimento pela ABIN a respeito de supostas vulnerabilidades do sistema eleitoral brasileiro, respondeu que sim, o conhecimento produzido pelo CEPESC/ABIN também pode auxiliar o TSE; que tal informação é produzida de forma contínua; que nenhum desses dados foram utilizados para assessorar a realização da live.”
Durante o depoimento, a delegada também indagou Ramagem sobre o conteúdo desses relatórios produzidos pelo órgão, ao que o diretor respondeu:
“Que as análises do CEPESC são no sentido de tentar analisar todo o processo de apuração das urnas, com base em dados públicos e normativos do TSE, para tentar identificar e sanear possíveis vulnerabilidades e auxiliar na constante evolução do sistema, desde a fabricação das urnas até para participar dos próximos testes públicos das urnas eletrônicas; QUE essa análise do CEPESC não teve correspondência com o que foi apresentado na live.”
Denisse Dias Ribeiro também quis saber sobre a reunião que Ramagem teve no Palácio do Planalto, uma semana antes da live do presidente Bolsonaro, e que os relatórios foram apresentados.
Ramagem relatou “que a conclusão era de que os vídeos e planilhas expostos na apresentação tratavam de elementos fáticos que indicavam possibilidade de vulnerabilidades no sistema de votação, podendo ensejar em algum tipo de apuração", disse.
A Abin não se manifestou sobre o depoimento do diretor-geral.