Alckmin diz que operação contra Bolsonaro não pode e não deve comprometer negociações tarifárias
Ele destacou que a operação contra Bolsonaro cabe ao Poder Judiciário e ressaltou que a soberania do país é inegociável

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A operação desta sexta-feira (18) da Polícia Federal a mando do STF (Supremo Tribunal Federal) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não pode e não deve comprometer as negociações tarifárias com os Estados Unidos, disse o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
Ele destacou que a operação contra Bolsonaro cabe ao Poder Judiciário e ressaltou que a soberania do país é inegociável. "Não pode e não deve [comprometer a negociação], porque a separação dos Poderes é a base do Estado de Direito, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos", disse. "Não há relação entre uma questão política ou jurídica e tarifa. É até um precedente muito ruim essa relação entre política tarifária, que é regulatória, e questões de outro Poder."
Ao anunciar uma tarifa de importação de 50% sobre todos os produtos brasileiros importados pelos EUA a partir de 1º de agosto, o presidente Donald Trump vinculou a decisão, entre outros pontos, ao tratamento dado a Bolsonaro, que é julgado no STF pela trama golpista.
Na entrevista, Alckmin evitou avaliar o mérito da operação contra Bolsonaro, argumentando que a parte que cabe ao governo federal é continuar negociando para reverter a tarifa. Ele ponderou que a carta enviada pelo governo brasileiro aos EUA em busca de negociação ainda não foi respondida.
Perguntado sobre a possibilidade de o governo brasileiro buscar a OMC (Organização Mundial do Comércio) contra a tarifa, o vice-presidente respondeu que só é possível acionar o órgão após um fato concreto. Portanto, segundo ele, como a tarifa seria implementada apenas em agosto, o governo não discute esse tema no momento.
Na noite de quinta-feira (17), em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, o presidente Luis Inácio Lula da Silva disse que a decisão de Trump de taxar o país é uma chantagem inaceitável. O petista também criticou políticos favoráveis à sobretaxa, chamados por ele de "traidores da pátria", e disse que todas as empresas, nacionais ou estrangeiras, devem cumprir as regras do país.
No cenário externo, Trump voltou a ameaçar nesta sexta (18) impor tarifas aos membros do Brics e disse que o grupo acabaria "muito rapidamente" se algum dia eles se formassem de modo significativo.
"Quando ouvi sobre esse grupo do Brics, seis países, basicamente, eu os ataquei com muita, muita força. E se algum dia eles realmente se formarem de modo significativo, isso acabará muito rapidamente", disse Trump, sem mencionar os nomes dos países.
A Policia Federal cumpriu nesta sexta (18) mandados na casa de Jair Bolsonaro e no escritório do PL. Foram apreendidos cerca de US$ 14 mil e R$ 8.000 na operação, além de um pen drive. O celular dele também foi recolhido pelos agentes.
O ex-presidente usa a partir de agora uma tornozeleira eletrônica e será monitorado 24 horas por dia por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Bolsonaro foi ainda proibido pelo magistrado de acessar redes sociais e de falar com seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se licenciou do mandato e está nos EUA atuando para que o país aplique sanções a Moraes.
Terá que cumprir recolhimento domiciliar noturno, das 19h às 7h, e também nos fins de semana, em tempo integral; não poderá se comunicar com embaixadores e diplomatas estrangeiros nem se aproximar de embaixadas.