Alta do petróleo prejudica indústria automotiva em 2022
Disparada dos preços do combustível pressiona custos da indústria, aumentando o preço dos veículos
Foto: VCG/Getty Images
O ano de 2022 começou com pessimismo para a indústria automotiva. Em fevereiro, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) registrou o pior índice de vendas de veículos leves e pesados para o mês de janeiro, em 17 anos: desabou 26,1%.
A consultoria consultoria Jato Dynamics, especializada no setor, afirma que a venda de veículos em fevereiro caiu 24,1% em relação ao mesmo período do ano passado. Se comparado com janeiro deste ano, houve leve aumento de 3%.
A Anfavea disse que os dados do mês de fevereiro serão apresentados nesta terça-feira (8) e que não há o que comemorar.
Entre as causas para a baixa no mês de janeiro estão o avanço da variante Ômicron, do coronavírus, e o novo limite de poluição veicular, que deixou os parques ociosos na primeira quinzena de 2021. Já em fevereiro, os vilões foram o aumento do dólar e da inflação.
E para piorar essa situação negativa há a previsão de um futuro extremamente difícil e pessimista: com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, o preço do barril do tipo Brent, referência internacional, está cada vez mais próximo do recorde absoluto, registrado em 2008.
Somente em janeiro, quando a guerra no Leste Europeu ainda não tinha sido iniciada, a commodity do petróleo já havia avançado 18,2% no ano, o que contribui para o aumento do preço dos veículos.
“O combustível influencia diretamente na inflação do país, o que aumenta o custo de produção das montadoras. Com isso, a indústria acaba aumentando os preços para o consumidor final, enquanto o poder de compra das pessoas diminui, atingindo em cheio a venda de veículos”, disse Antônio Jorge Martins, professor da FGV.
Diante dessa situação, o Governo Federal reduziu, no começo deste mês, em 18,5% o Imposto de Produtos Industrializados (IPI), na tentativa de diminuir os preços e aumentar as vendas de veículos. Entretanto, especialistas afirmam que, na prática, isso não deve ocorrer.
“Esse ano temos uma série de elementos que vão pressionar a inflação, como eleições, então, a médio e longo prazo os descontos oferecidos por esse corte no IPI vão acabar desaparecendo”, afirma Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da Jato Dynamics. Ele complementa dizendo que destino do setor depende do desenrolar dos próximos dias. “Tínhamos uma projeção de um aumento em torno de 150 mil nas vendas de automóveis para esse ano. Mas, isso foi antes da guerra da Ucrânia e dessa disparada do petróleo”, completa.
O conflito entre Rússia e Ucrânia contribui também para a escassez de semicondutores, problema que acertou em cheio a produção de veículos nos últimos dois anos, já que ambos os países são fornecedores globais de paládio e gás neônio, metais usados na fabricação de chips
“A indústria já esperava que a falta de semicondutores continuasse impactando neste ano, uma vez que a cadeia de fornecimento tinha previsão de normalizar apenas em 2023. Agora, isso pode ser ainda mais tarde”, ressalta Martins.