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Amazônia tem a maior pico de seca e queimadas registrada após 14 anos

Cientistas destacam que as secas têm se tornado mais extremas e mais frequentes

Por Da Redação
Ás

Atualizado
Amazônia tem a maior pico de seca e queimadas registrada após 14 anos

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a seca deste ano é a mais extensa já registrada no Brasil, a mais intensa em partes da Amazônia e deve superar em severidade a do Pantanal em 2021, até agora a mais extrema desse bioma. Além disso, foi confirmado na última segunda-feira (9) que o número de focos de incêndios chegou a 164.543. Sendo maior para este período desde 2010 e o quinto desde o início da série histórica, em 1998, porém o pior ano foi 2007, com 184.010 focos.

A gravidade e extensão do fenômeno foram detalhadas em uma nota técnica do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden). De acordo com os dados, o Cemaden, estão sob algum grau de seca 5 milhões de km², ou 59% do país. Até então, a estiagem mais ampla registrada era a de 2015-2016, com 4,6 milhões de km² (54% do território). A terceira mais ampla foi a de 1997-1998, que afetou 3,6 milhões de km² (42%).

Cientistas destacam que as secas têm se tornado mais extremas e mais frequentes. O Pantanal sofre com chuvas abaixo do esperado desde a década de 1980 e está sob seca desde 2019, com agravamento em 2021 e agora em 2024. Fenômeno semelhante ocorre na Amazônia, onde se alternam cheias e secas extremas nas últimas duas décadas.

O climatologista da USP Tercio Ambrizzi relata que as secas extremas devem se tornar mais frequentes, em especial no Norte e no Nordeste, segundo todos os modelos climatológicos. Para Ambrizzi, 2025 deve manter a tendência, mesmo com uma La Niña (associada a períodos frios) em formação.

O Cemaden declara que a estiagem este ano afetou gravemente uma faixa ocupada por Acre, Amazonas, Mato Grosso, São Paulo e o Triângulo Mineiro, todos com municípios há 12 meses consecutivos em seca. “Regiões mais ao Norte e ao Sul apresentam uma condição mais favorável, com menos de 30 dias consecutivos sem chuva”, comunicou a nota.

As Queimadas 

O aumento das queimadas este ano já comprova o dobro em comparação com 2023, num crescimento puxado por todos os biomas, à exceção do Pampa, no Sul. O clima está favorável à propagação do fogo, mas para que os incêndios comecem é preciso haver intenção, frisam especialistas. Fontes acidentais, como bitucas de cigarro, cacos de vidro e latinhas não têm qualquer importância nas queimadas.

"É muito conveniente colocar a conta na mão do clima. Se estamos nessa situação é porque tem gente ateando fogo", relata Karla Longo, especialista em queimadas e transporte de poluentes do Inpe.

O especialista em ecologia do fogo Christian Berlinck, do ICMBio, expõem que para começar um incêndio é necessária uma fonte de calor de aproximadamente 300°C. Poucos cigarros ultrapassam a temperatura de150°C, a maioria não chega a 100 °C. Pesquisas realizadas pelo grupo de Berlinck mostram que um em cada cem cigarros alcança temperatura suficiente para iniciar um foco de fogo, ainda que pequeno. O mesmo pode acontece com cacos de vidro ou reflexos de latas.

"É muito difícil um incêndio começar com um cigarro. A grande maioria, tendendo a 100%, é causada por um isqueiro ou fósforo e alimentada por querosene ou gasolina, alguém que quis atear. E não existe incêndio natural em período seco no Brasil porque não há raios", afirma a especialista. 

Conforme o Cemaden, a estação chuvosa já está atrasada na América do Sul, como previsto. Ao menos para esta e as próximas duas semanas, a previsão é que o calor continue com intensidade na maior parte do Brasil.

Já os mapas de previsão confirmam que praticamente o país inteiro está seco até o dia 23 e quase certo que a chuva não virá antes do início de outubro para quase todo o país, à exceção do Rio Grande do Sul e de partes do extremo Norte da Amazônia, relata o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador de Operações do Cemaden.

Autoridade climática

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou ontem o Amazonas e anunciou em encontro com prefeitos que vai criar uma Autoridade Climática para enfrentar as tragédias provocadas pelas mudanças ambientais. A criação era uma promessa de campanha assumida na adesão de Marina Silva, atual ministra do Meio Ambiente, à candidatura de Lula.

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