Analfabetismo em crianças brasileiras dobra durante a pandemia
Segundo Unicef, realidade pode ser explicada por escolas fechadas
Foto: Agência Brasil
O relatório Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil, divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) nesta terça-feira (10), revela que, apesar dos impactos causados pela pandemia, o Brasil apresentou melhora em índices de pobreza na infância. No entanto, houve um aumento da taxa de analfabetismo em crianças.
A proporção de crianças de 7 anos de idade que não sabem ler nem escrever saltou de 20% para 40% de 2019 para 2022. Situação similar à de crianças de 8 anos de idade. De uma taxa de 8,5%, em 2019, houve elevação para 20,8%, em 2022. Para as crianças de 9 anos de idade, a proporção cresceu de 4,4% para 9,5%, de 2019 para 2022.
Santiago Varella, especialista em políticas sociais do Unicef, afirmou que esses dados estão ligados ao fechamento das escolas durante a pandemia. “Essas crianças estavam no processo mais sensível, talvez, da vida educacional, que é a alfabetização. Essa piora reflete a dificuldade e o caráter lento que a recuperação do direito à aprendizagem demanda”, avaliou. "É preciso um esforço concentrado para que esse passivo da pandemia não se prolongue", defendeu.
Além disso, os dados mostram discrepância entre negros e brancos. O percentual de crianças brancas de 7 a 10 anos de idade consideradas analfabetas era de 6,3% em 2019 e 15,1% em 2022. Já entre as negras, 10,6% e 21,8%, respectivamente.
Pobreza
Para medir a pobreza multidimensional, o Unicef avalia o acesso de crianças e adolescentes a seis direitos básicos: renda, educação, informação, água, saneamento e moradia. “A gente parte do princípio de que os direitos das crianças são prioritários e todos são igualmente importantes”, explicou Santiago Varella, especialista em políticas sociais do Unicef.
A pesquisa mostra que o Brasil conseguiu reduzir o percentual de pessoas com até 17 anos de idade com alguma privação. Em 2016, a proporção era de 66,1%. Em 2019, último ano antes da pandemia, 62,9%. Em 2022, a taxa ficou em 60,3%. Esse percentual representa 31,9 milhões de crianças e adolescentes de um total de 52,8 milhões no país.