Antônio Rueda intermediou venda de empresa de gás ligada a grupo que lavava de dinheiro do PCC
Três líderes do mercado detalharam o esquema envolvendo a TankGás

Foto: Antonio Rueda, presidente do União Brasil. Créditos: União Brasil
O presidente do União Brasil, Antônio Rueda, intermediou a venda da empresa de gás de cozinha, TankGás, ligada à líderes de mega-esquema de lavagem de dinheiro do PCC. As informações foram obtidas pelo ICL NOTÍCIAS de três líderes do mercado, que não quiseram se identificar.
Segundo apurações do portal, Rueda convidou um executivo do setor de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), em abril de 2024, para um reunião com Roberto Augusto Leme da Silva, conhecido como “Beto Louco”, que se apresentou como investidor da TankGás para discutir uma possível venda da empresa.
Relatos apontam que a reunião tinha como objetivo a apresentação de uma proposta às grandes empresas nacionais de GLP. Na época, Beto Louco propôs que ele e seus sócios deixariam o mercado, já que sua atuação agressiva incomodava o setor, em troca de R$ 60 milhões pela operação de GLP da TankGás.
A proposta, porém, foi recusada pelo executivo.
Sobre o esquema do TankGás
Com sede em Jandaia do Sul, no Paraná, a TankGás Comércio Varejista de Gás Liquefeito de Petróleo S/A, posteriormente chamada de Petróleo Distribuidora de Petróleo, foi aberta em fevereiro de 2020.
No ano seguinte, se aproveitando da legislação paraense que contraria diretriz da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a empresa começou a encher botijões vazios de outras marcas. Ela envasa botijões no Paraná e os transportava até São Paulo para serem distribuídos.
De acordo com o relato de um motorista, que atuou entre setembro de 2023 a fevereiro de 2024 e ajuizou uma ação trabalhista contra a empresa, ele foi contratado por uma divisão que utilizava um CNPJ registrado em São Paulo. Além do número do cadastro ser diferente do Paraná, ele estava no nome de uma sócia de Mohamad Hussein Mourad, o “Primo”, líder do esquema de lavagem de dinheiro junto a Beto.
A mulher em questão é Jivanilde Francisca dos Santos, sócia do líder do esquema na G8 Log Serviços Ltda., responsável pelo transporte dos caminhões de combustíveis vendidos pelos grupos Aster e Copape, investigados pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Devido ao esquema, a TankGás começou a ser alvo das ações judiciais, sendo parte delas movida por concorrentes por meio do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (SindiGás) e outra movida pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) .
Uma fiscalização da agência na empresa, em 2023, chegou a localizar 272 botijões cheios de outras marcas,botijões e cilindros vazios com defeito ou na esteira para envase.
Pressionados, Beto Louco e Primo decidiram oferecer a empresa a concorrentes com o auxílio de Rueda.
Somente em maio de 2024 os ativos operacionais da TankGás foram vendidas à Consigaz, que passou a ser o único alvo dos revendedores após ações judiciais de distribuidoras de São Paulo, de acordo com um empresário do setor.
“Ela desistiu de atacar todas as empresas e atacou uma única. Ela mirou exclusivamente nos revendedores da Consigaz. A TankGás sequestrou o mercado da Consigaz. A Consigaz não comprou a empresa. Ela pagou o resgate”, disse.
As negociações, de acordo com a fonte, contava com a participação de Antônio César Assunção, que segundo documentos consultados pela ICL NOTÍCIAS, era o representante oficial da empresa.
Pronunciamentos
Consultados pelo portal, alguns dos envolvidos se pronunciaram sobre seus supostos envolvimento no esquema.
Apesar de não responder se conhece Beto Louco ou Primo, nas três vezes que foi questionado sobre, Rueda afirmou que nunca participou de nenhuma reunião relacionada à TankGás.
“Repudio de forma veemente essas insinuações levianas e politizadas. Desconheço qualquer reunião ou tratativa mencionada e nego, categoricamente, qualquer vínculo com o que foi citado”, afirmou.
“Nunca tive nenhuma reunião sobre esse tema, não conheço essa empresa. Não considero sério esse tipo de ilação. Trata-se de uma tentativa de criar fatos inexistentes, sem base ou responsabilidade. Minha trajetória empresarial e política é pautada pela transparência, responsabilidade e trabalho”, completou.
Já a empresa de gás sediada em Barueri, região metropolitana de São Paulo, a Consigaz, esclareceu que a compra da TankGás foi oferecida por representantes da Ruby Capital e que a efetivação se deu por questões operacionais.
“A Ruby Capital verificou nosso interesse na aquisição da pessoa jurídica TankGás, o que foi recusado. Contudo, após essa negativa foram oferecidos ativos operacionais da TankGás, momento em que foi demonstrado o interesse na aquisição destes ativos”, afirmou.
Além disso, a empresa pontuou que nem Beto Louco e nem Primo participaram das tratativas e da operacionalização da transferências, as quais foram realizadas “ diretamente pelos representantes legais desta empresa”. Ela ainda finalizou defendendo a responsabilização dos investigados.
“Que a participação de pessoas suspeitas de envolvimento com o crime organizado no mercado de GLP ou de qualquer outro mercado devem ser investigadas e apuradas pelos órgãos governamentais competentes e se comprovada qualquer irregularidade devem responder pelos seus atos com o rigor da lei”, concluiu.
Importante destacar que a Ruby, citada pela Consigaz, é o mesmo do fundo Altinvest Asset, uma hub de soluções financeiras liderada pelo advogado Garcia Peres e tem 10 fundos citados pelos promotores da Operação Carbono Oculto.
Peres é ainda apontado como um dos responsáveis pelas “dinâmicas fraudulentas envolvendo fundos e a BK Instituição de Pagamento”, além de administrador de fundos de investimentos relacionados a Mohamad.
O ICL NOTÍCIAS salienta que a autorização paranaense que permitiu os atos da TankGás tem sido avaliada pela ANP para estender para todo o país. Duas propostas chegaram a ser incluídas no Relatório de Análise de Impacto Regulatório (AIR) pela ANP em 10 de julho.
O documento tem relatoria de Daniel Maia, o qual é defendido à diretoria-geral da agência por Ciro Nogueira (PP). O senador piauiense, por sua vez, é um dos principais articuladores da federação do PP como o União Brasil, ao lado de Rueda.