Ao menos 30% dos desempregados estavam sem conseguir emprego há dois anos, aponta levantamento
A proporção é a maior registrada na série histórica
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Segundo um levantamento da LCA Consultores, em dezembro do ano passado, 30,3% do total de desempregados do país estavam há mais de dois anos sem conseguir voltar ao mercado de trabalho. A proporção é a maior registrada desde o início da série histórica da Pnad Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O economista Bruno Imaizumi aponta que, dos 3,637 milhões de desempregados há mais de dois anos sem conseguir emprego, 2,393 milhões são mulheres (65,8%) e 2,422 milhões são pretos ou pardos (66,5%). As informações são do G1.
O estudo acolhe dados da Pnad Contínua trimestral desde março de 2012 até dezembro de 2021. A proporção registrada em setembro de 2021 era de 28,9%, sendo a mais alta até dezembro.
Em contrapartida, a proporção entre os que estão desempregados entre um mês e menos de 1 ano foi a menor desde o início da série histórica, com 39,4%.
Desemprego entre os jovens
O levantamento aponta também que os trabalhadores mais jovens são os que mais apresentaram dificuldade de retornar ou entrar no mercado de trabalho.
As faixas etárias de 19 a 27 anos apontaram o maior contingente de desempregados há mais de 2 anos, com números acima do patamar de 100 mil pessoas, somando 1.395.041, ou 38,3% do total de 3.637.069. Deste número, a faixa etária de 21 anos liderou, com 195.594, seguida pela de 20 anos (182.076).
Segundo a pesquisa, as pessoas menos escolarizadas são as que mais apresentam dificuldade para se reinserir ao mercado de trabalho. A proporção é maior entre os trabalhadores com nível fundamental e médio, já 82% dos que não conseguem emprego há mais de dois anos não têm nível superior.
Além disso, de acordo com Imaizumi, o desemprego atinge mais as mulheres negras e pardas e pouco escolarizadas. Segundo o economista, o número recorde do percentual de desempregados há mais de dois anos pode ser atribuído à pandemia.
"Essas pessoas vão sobrando no mercado de trabalho, e todo mundo que está um pouco mais bem qualificado ou que está há menos tempo sem conseguir emprego tem mais facilidade para voltar a trabalhar. Então esse pessoal vai saindo da fila de desempregados e fica um grupo maior de pessoas procurando emprego há mais tempo. Esse é um dos efeitos duradouros da pandemia", explica, sobre a dificuldade de realocação no mercado.
O economista ressalta que a desigualdade racial e de gênero no mercado de trabalho, sempre existente, se tornou ainda pior na pandemia.
"Existe uma correlação forte entre renda e raça. Os negros estão atrelados à questão da escolaridade e renda mais baixas, são problemas estruturais do país, e a pandemia intensificou essas desigualdades socioeconômicas no mercado de trabalho. Infelizmente o fato de eles serem a maioria e os mais prejudicados não surpreende", concluiu.