Após audiência do MP-BA que investiga Claudia Leitte por racismo religioso, vereador cita 'cristofobia' e diz que vai abrir audiência na Câmara: ‘ataque aos valores cristãos’
Segundo Cezar Leite, ele não teve direito à fala durante discussão promovida na segunda-feira (27)
Foto: Reprodução
O vereador Cezar Leite (PL) afirmou que vai abrir uma audiência pública na Câmara de Vereadores de Salvador para discutir casos de “cristofobia”. O anúncio foi feito após o ministério Público da Bahia realizar uma audiência, na segunda-feira (27), para discutir o inquérito civil que investiga a responsabilidade da cantora Cláudia Leitte por danos morais às religiões de matriz africana.
Claudia Leitte foi acusada de cometer intolerância religiosa após substituiu a frase “Saudando a rainha Iemanjá” por “Eu canto meu rei Yeshua”, na música “Caranguejo”. Evangélico de tradição Batista, Cezar Leite é defensor da atitude da artista e, segundo ele, não conseguiu expor seu posicionamento na audiência, pois dos 247 inscritos, apenas 12 tiveram direito à fala.
Nas redes sociais, o edil afirmou que representantes de religiões de matriz africana tiveram a oportunidade de discursar e opinar, mas quando uma participante evangélica teve vez, foi vaiada pelo público, o que ele classificou como um caso de “cristofobia”.
“Essa decisão arbitrária representa um grave ataque à liberdade de expressão e ao direito de defesa das nossas crenças e valores cristãos [...] O que estamos presenciando é uma evidência de cristofobia e silenciamento de vozes que defendem princípios e tradições. Não nos calarem diante dessa tentativa de cesura”, disse.
Investigação de Claudia Leitte
No dia 14 de dezembro, durante a o primeiro show de ensaio de verão da artista, no Candyall Guetho Square, em Salvador, Claudia Leitte substituiu o nome da órixa na música pelo nome de Jesus em hebraico. A situação repercutiu nas redes sociais.
Três dias secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Pedro Tourinho, teceu críticas aos artistas que retiram o nome de orixás de músicas de axé e enalteceu os 40 anos do movimento. A publicação ganhou apoio de artistas como Ivete Sangalo, Teresa Cristina, banda A Mulherada e outros.
No dia 19 do mesmo mês, um inquérito civil contra Claudia foi instaurado. A informação foi confirmada pela promotora Lívia Sant'Anna Vaz, representante da Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa.
Claudia é evangélica há 12 anos. No dia 30 de dezembro, em coletiva de imprensa, ela cantora definiu o caso como “assunto delicado” e disse que preza sempre pelo respeito.
“Eu acho que esse assunto é um assunto muito sério. Daqui do meu lugar de privilégios, racismo é uma pauta para ser discutida com muita seriedade, não de forma tão superficial. Prezo muito pelo respeito, pela solidariedade, pela integridade. A gente não pode negociar esses valores de jeito nenhum, nem colocar isso dessa maneira, jogado ao tribunal da internet", concluiu.
O Ministério Público levará em consideração a efetiva lesão ao patrimônio cultural e à dignidade das comunidades religiosas culturais de matriz africana. Após a apuração, poderão ser estabelecidas medidas a serem cumpridas por Claudia Leitte, como reparação de danos morais coletivos. A cantora também pode ser obrigada a não repetir atos considerados ofensivos.
Veja posicionamento de Cezar Leite: