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Bahia

Vídeo: após denúncia, Farol da Bahia investiga caso de suposto padre falso que atua na Ilha de Maré

Kelmon Luís de Souza é acusado de “enganar pessoas”

Por Da Redação
Ás

Vídeo: após denúncia, Farol da Bahia investiga caso de suposto padre falso que atua na Ilha de Maré

Foto: Reprodução

Após receber denúncias sobre a atuação de um suposto “falso padre” na comunidade quilombola de Bananeiras na Ilha de Maré, em Salvador, o Farol da Bahia entrou em contato com instituições religiosas ortodoxas do Brasil para questionar o pertencimento de Kelmon Luís de Souza a alguma delas e checar se ele realmente foi ordenado padre. Nas redes sociais, ele afirma que é sacerdote da Igreja Ortodoxa de Malankara, instituição pertencente às igrejas ortodoxas orientais, ou ainda se apresenta apenas como um sacerdote ortodoxo. Para muitos, ele é conhecido apenas por ser padre.

O representante da Catedral Ortodoxa Antioquina de São Paulo e de todo o Brasil, diácono Genê, disse que Kelmon não pertence à instituição e a nenhuma outra ortodoxa do país. Segundo ele, o suposto padre já é uma figura conhecida no meio das igrejas justamente por se intitular pertencente a instituições religiosas ortodoxas. “Já faz muito tempo que o conheço e ele nunca pertenceu a nenhuma igreja ‘de verdade’, canônica… Ele sempre gostou de se envolver com essas igrejas falsas que ele diz que é pertencente, mas na verdade não é”, afirmou.

“Tem que ter cuidado porque ele fica enganando as pessoas, ele não é padre coisa nenhuma”, completou. Além disso, o representante da igreja comentou sobre um episódio recente onde Kelmon Luís de Souza esteve em uma outra unidade da igreja no centro de São Paulo vestido de batina. O diácono, então, alertou: “Ele anda nas ruas vestido assim para enganar mesmo, tem que ter cuidado”, reforçou.

Representantes da Catedral Ortodoxa Russa no Exterior de São Nicolau e da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa Antioquina disseram ao Farol da Bahia, respectivamente, “não conhecer” e “nunca ter ouvido falar” de Kelmon Luís de Souza.

Redes sociais:

 

Kelmon também já pediu ajuda humanitária na internet, através de uma ‘vakinha’ online, afirmando ser um membro da “Igreja Ortodoxa”: 


 

Ilha de Maré e ocupação irregular

Em outubro do ano passado, uma capela de bambu usada pelo suposto padre, segundo ele para ser o que seria a primeira construção da Paróquia São Lázaro de Betânia, na Ilha de Maré, foi destruída. Na época, Kelmon disse que o episódio era de intolerância religiosa por parte da comunidade e, além disso, ele disse que o local era usado temporariamente enquanto uma paróquia de pedra não ficava pronta. Inclusive, o Farol da Bahia noticiou o ocorrido pois não havia checado se ele realmente era padre.

Contudo, o Conselho Ecumênico Baiano de Igrejas Cristãs (CEBIC) divulgou uma nota de apoio à comunidade de Bananeiras, na Ilha de Maré, afirmando que não existe igreja a ser construída. De acordo com o texto, a comunidade está sendo acusada publicamente de cometer “Intolerância Religiosa” na tentativa de garantir o uso “comum da área de preservação permanente localizada no território da Ilha”. "Esta acusação por parte de Kelmon Luis Souza, que se diz padre Católico Ortodoxo, nos chama atenção porque, ao contrário da referida igreja, conhecemos a comunidade e sabemos da diversidade de crenças e tradições religiosas que convivem na Ilha de maneira harmoniosa”, diz trecho da nota. 

“Para nós, que atuamos na defesa do Diálogo e da Convivência respeitosa entre as religiões, o uso do termo ‘intolerância religiosa’, pode estar sendo usado para justificar interesses pessoais. Se este for o caso, consideramos uma afronta e um desrespeito a esta luta, tão cara aos movimentos ecumênicos que há décadas atuam na defesa do diálogo, do respeito e da convivência pacífica e harmoniosa entre as religiões. Tememos que o uso do termo ‘intolerância religiosa' seja usado para justificar interesses pessoais e de grupos, em detrimento do bem coletivo de uma comunidade que há anos enfrenta o racismo ambiental religioso e institucional”, completa a nota.

A comunidade quilombola  publicou um vídeo nas redes sociais para expor as acusações. No vídeo, a população afirma que todas as acusações de intolerância religiosa fazem parte de uma estratégia do suposto padre para construir uma "paróquia" que nem oficial é, no local conhecido como Ponta do Capim. Ainda segundo a população local, a área é utilizada historicamente para práticas de pesca, lazer e geração de renda. 

As comunidades de Ilha da Maré são reconhecidas quilombolas desde 2004 quando iniciaram o processo de reconhecimento e certificação junto à Fundação Cultural Palmares (FCP). Para impedir a invasão ilegal do território, como é o caso desse episódio, os moradores solicitam há anos o reconhecimento, delimitação, titulação e registro das terras ocupadas pelos quilombolas ao Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). 

Em 2008, o INCRA, em convênio com a Fundação de Apoio à Pesquisa, Ensino e à Cultura (FAPEC) reuniu uma equipe formada por especialistas nas áreas de antropologia, reforma agrária, e engenharias agronômica e agrimensura para realizar a caracterização histórica, econômica, ambiental e sócio-cultural das comunidades envolvidas no pleito territorial. Atualmente o processo está em finalização. Todo território tradicional já foi identificado e está registrado no Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID). Pesquisas apontam que houve um aumento significativo do número de igrejas protestantes, além das próprias igrejas católicas. Por causa desse avanço, as manifestações culturais e religiosas tradicionais têm sido cada vez mais inibidas.

Veja o vídeo:
 

“Padre” celebrando missas 

Fotos: Reprodução/redes sociais 

Caso na Polícia Federal

Nas eleições presidenciais de 2010, Kelmon Luís Souza também se envolveu em polêmica. Na época, a Polícia Federal (PF) apreendeu, por determinação da Justiça Eleitoral, cerca de 1 milhão de panfletos que disseminavam material falso contra a ex-presidenta Dilma Rousseff que, na época, era candidata. 

Bispo não conhecia Kelmon

Ainda naquela época, foi descoberto que a gráfica paulista que imprimiu os panfletos com uma mensagem contrária ao PT e à candidata Dilma Rousseff seria da irmã do coordenador de infraestrutura da campanha de José Serra (PSDB), Sérgio Kobayashi. A informação é do jornal Folha de São Paulo. Segundo informações do jornal, a irmã de Sérgio, Arlety Satiko Kobayashi é dona de 50% da Editora Gráfica Pana Ltda, onde os panfletos foram impressos. 

Além disso, descobriram que quem mandou imprimir os panfletos e entrou em contato com a gráfica foi Kelmon Luís de Souza. Na ocasião, ele afirmou que encomendou 20 milhões de panfletos em nome da diocese de Guarulhos (SP) e que o dinheiro para a impressão veio de “doações pesadas de quatro ou cinco fiéis”. Na época, a imprensa divulgou que Kelmon é presidente da Associação Theotokos, uma ONG criada por ele e ligada a setores de ultradireita da Igreja Ortodoxa. O nome da instituição, inclusive, foi usado na 'vakinha' online (citada acima). Uma publicação do jornal Estadão revelou, na época, que, em Guarulhos, na diocese que foi dirigida pelo bispo d. Luiz Gonzaga Bergonzini, de quem Kelmon se intitulava assessor, ele é um completo desconhecido.

Política e Igreja Católica 

Kelmon Luis de Souza sempre tentou, usando a batina, transitar em meios políticos. Desde este ocorrido, em 2010, com José Serra até recentemente, quando, pelo PTB de Roberto Jeferson, no Rio de Janeiro com o Pastor Joel Serra lançando o  Movimento Cristão do partido onde ficou acordado que Joel ajudaria com os evangélicos e o suposto padre, com os católicos. Procurada, a igreja católica  afirmou que este senhor "não faz e nunca fez parte de sua estrutura, que Kelmon Luis de Souza não é apto a exercer liderança religiosa usando batina e se dizendo padre”. O representante da Igreja Católica afirma que se ocorreu manifestação religiosa sem ordenação, houve fraude  podendo levar a crime de falsidade ideológica. Veja a matéria do próprio PTB.

Defesa 

Procurado pelo Farol da Bahia para se explicar ou enviar os documentos de sua ordenação como padre em qualquer igreja que fosse, Kelmon Luís de Souza se tornou agressivo e ameaçou a jornalista: "Publique que vamos lhe processar. Se você quiser medir forças comigo, publique. Agora prepare o bolso porque nós vamos fazer vocês pagarem. Vocês não me conhecem, não sabem da minha vida e eu tenho documentos que provam que sou padre", disse Kelmon Luis em diversos áudios devidamente registrados em ocorrência como ameaça a integridade. 

O Farol da Bahia dará o devido espaço caso Kelmon Luis de Souza envie os documentos para provar sua ordenação.
 

 

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