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'Arte de morar', 'O que rola por aí', 'De olho na rede digital': disciplinas e estrutura do novo Ensino Médio têm preocupado pais e alunos

Comunidade estudantil pressiona MEC por revogação do formato

Por Da Redação
Ás

'Arte de morar', 'O que rola por aí', 'De olho na rede digital': disciplinas e estrutura do novo Ensino Médio têm preocupado pais e alunos

Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília

A reforma do Ensino Médio, implementada oficialmente em 2023, não tem agradado uma grande parte de pais e alunos já neste começo de ano letivo.

A nova grade curricular, que virou lei em 2017 e teve 2022 como ano-teste, reduz o espaço na carga horária para disciplinas como História, Sociologia e Educação Física e introduz matérias fora do comum, como "O que rola por aí", "Arte de morar" e "De olho na rede digital".

O objetivo principal da reforma é equilibrar a base nacional comum obrigatória com os chamados itinerários formativos, que são disciplinas voltadas para áreas de conhecimento e formação técnica de interesse dos jovens. Estas são matérias optativas, ou seja, em que cada aluno pode escolher fazer a que preferir. 

Pressão na internet

O resultado da insatisfação é uma imensa quantidade de mensagens nas redes sociais do ministro da Educação, Camilo Santana (PT), pressionando para que o formato seja revogado. Os pais e alunos, nas mensagens em redes sociais, apontam incômodo tanto com o conteúdo das disciplinas, como com a falta de estrutura das escolas, já que muitas unidades públicas não têm laboratórios ou internet, e de preparo do corpo docente para ministrar as novas matérias.

Esse é o caso, por exemplo, de Iago Gomes, professor da rede estadual da Bahia. Minha formação é Língua Portuguesa, e estou dando aula em várias disciplinas fora da minha área para completar carga horária. Uma é Arte de Morar, eletiva de geografia", contou ele, que leciona na cidade de Candeal, no centro-norte da Bahia, ao jornal O Globo.

A repercussão foi tanta que o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) criou um abaixo-assinado para contribuir na celeridade de um possível processo de revogação da reforma.

Camilo, por sua vez, já se posicionou sobre o tema, mas não deu a resposta que alguns pais, alunos e representantes políticos estavam esperando. O ministro diz que essa é uma “agenda complexa de política educacional” e que, diante do desafio da melhoria da qualidade do ensino médio, “respostas fáceis não cabem”.

"Falar em revogação sem aprofundar o debate sobre quais são os elementos problemáticos e as promessas não cumpridas não seria justo com os nossos jovens e não nos ajuda a avançar. Defendemos a retomada do diálogo democrático sobre o sentido do ensino médio e sobre como podemos, juntos e com a prudência necessária, entregar a melhor escola", ponderou ele, em mensagem publicada online.

Na prática

A implantação concreta segue até 2024. Entre 2017, ano de promulgação da lei da reforma, e 2023, em que o modelo foi posto em prático, houve uma ausência de direcionamento mais aprofundado do Ministério da Educação sobre as novas diretrizes de ensino, o que fez a aplicação de cada estado ser de uma forma diferente.

Em alguns, os itinerários já são ofertados desde a 1ª série, primeiro ano do Ensino Médio. Em outros, somente a partir da 2ª, após os alunos cursarem Projeto de Vida no ano anterior, que serviria como uma disciplina introdutória a estas eletivas. Ficou a cargo dos estados ainda a definição de novas disciplinas não especificadas, a partir do espaço gerado pelo aumento da carga horária anual, que saiu de 2,4 mil horas para 3 mil horas no Ensino Médio.

Mesmo com mais tempo, as matérias da base nacional comum (Geografia, História, Química, Física, etc.) perderam carga horária. As menos prejudicadas foram Língua Portuguesa e Matemática, ainda consideradas pelo MEC como parte primordial do ensino básico para qualquer aluno.

Na definição do MEC, as eletivas são aulas temáticas propostas pelos professores a partir justamente da introdutória Projetos de Vida. Nela, os alunos sugerem assuntos sobre os quais têm interesse em aprender. Na rede, até como fazer brigadeiro é assunto em sala de aula, assim como o mundo dos pets. No Rio de Janeiro, matérias como “O que rola por aí” e  "De olho na rede digital!".

Para Fernando Cássio, pesquisador da Universidade Federal do ABC (UFABC) e integrante da Rede Escola Pública e Universidade (Repu), a proposta da reforma de direcionar a qualificação profissional e de dar mais liberdade para o aprendizado não foi implantada da forma correta.

"Uma das promessas para a juventude brasileira é de que ela terá liberdade de escolha com a flexibilização do currículo, suprimindo disciplinas que seriam chatas, velhas. O que vemos, no entanto, é um monte de disciplinas aleatórias com pouco conteúdo. E tem situações como a do Paraná, onde alunos estão indo para escola assistir aula pela TV", afirmou ele, ao jornal O Globo.

Estrutura

Para abarcar o novo modelo de ensino, a promessa da reforma foi qualificar os profissionais. Para a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), dentro da preocupação em preparar as escolas para o formato, faltou pensar nas estruturas das unidades, especialmente públicas, já que muitas não possuem ambientes adequados para algumas novas práticas, como laboratórios, escolas técnicas e salas com tecnologias e internet disponíveis.

Somos oposição ao novo ensino médio, que não foi construído por quem está dentro da escola pública. Mas revogar por revogar e voltar para o que era antes não faz sentido. As escolas públicas têm que entrar no século XXI", disse Jade Brasil, presidente da Ubes, em pronunciamento online.

caminho?

A diretora do Centro de Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Claudia Costin, é a favor do novo formato, mas acredita que o MEC precisa estar mais presente no processo de mudança.

"A implementação do novo ensino médio começou na pandemia com o Ministério da Educação completamente ausente desse processo. Não houve articulação para ajudar a pensar em critérios. O que precisamos agora não é revogar, porque ninguém merece voltar a ter 4h de aulas com 13 matérias. Mas olhar para o que está dando certo e discutir como aperfeiçoar", opinou ela, à CNN.

O líder de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, Gabriel Corrêa, enxerga o cenário de maneira similar a Claudia. "O novo modelo precisa ser aperfeiçoado. Precisamos garantir que os jovens tenham itinerários formativos que preparem de fato para o ensino superior ou mercado de trabalho e que os professores tenham as condições necessárias, com mais investimentos na infraestrutura das escolas", afirmou.

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