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Assassinato é assassinato

Leia o artigo desta segunda-feira de José Medrado

Ás

Assassinato é assassinato

Foto: Divulgação

É repetitivo, eu sei, mas a cada dia que passa se configura pujante a verdade de que estamos vivendo a banalização de tudo, inclusive da morte. O País se estancou com a notícia da morte do aniversariante Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu. Muito mais do que um simples lamento, as autoridades e a sociedade, em geral, deveríamos repudiar, fazendo valer o princípio cidadão, cristão, religioso o que seja do respeito incondicional à vida do outro.

No entanto, pude constatar nos comentários de sites que exibiram o vídeo do assassinato, que muitas pessoas reagiram com considerações do tipo: é preciso ver os dois lados; debaixo deste angu tem caroço, há coisa aí; eu não acredito que seja só por isto... Estarrecedor, haja vista que assassinato é assassinato, nada justifica tirar a vida de outra pessoa, salvo por legítima defesa. Esses comentários, penso, só evidencia que tudo está realmente se banalizando no Brasil, inclusive matar.

A dogmática do Direito Penal não admite crime sem motivo, mas o que vemos são apenas contrariedades, divergências de opiniões. Este Brasil está doente. 

Ainda lembro dos policiais rodoviários federais fazendo uma câmara de gás em seu carro de fiscalização, diante de todos, sem qualquer constrangimento ou preocupação com o que fosse; em Cascavel, no oeste do Paraná, um homem atira em um rapaz por conta de uma briga de trânsito; um bombeiro atirou no atendente de um fast food, por conta de bonos de quatro reais...e por aí vai. Não citei o caso de Bruno e Dom Philips porque se trata de crime de quadrilha. 

Repito, em meu entendimento, nada justifica um assassinato, infelizmente o extremismo que é um estado psicológico de fervor excessivo, irracional e persistente por qualquer coisa ou tema, historicamente associado a motivações de natureza religiosa ou política está se estabelecendo com uma perigosa naturalidade, quando vemos as justificativas da tragédia. O ato é que o fanatismo de qualquer natureza é extremamente frequente em paranoides, cuja apaixonada adesão a uma causa pode flertar com o  delírio. O fanático não guarda amizade ou respeito com ninguém, pois, para ele, alguém só presta se estiver a serviço de sua ideologia.

A questão conceitual jurídica, quando reporta a  motivo fútil, ou inexistência de motivo, não muda o entendimento de que a vida humana vai perdendo valor, por isto o crime de morte vai se banalizando e se normalizando na sociedade, em retrocesso dos ideais de civilidade que só precisam ser ampliados.  

Tantos homicídios por motivo fútil só chocam a opinião pública, em geral, por alguns poucos dias, ou não mais se escandalizam com a intensidade que a dignidade da vida humana exige. Alguém disse que “o ser humano vem sendo apequenado em dignidade e se agigantando em maldades”. E não mais poderemos dizer que estamos livres, pois cada um pode ser vítima desta maldade que campeia por aí.

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