Associação de catadores de Inhambupe cria coleta seletiva de porta em porta em busca da sustentabilidade
Segundo o presidente, Manoel Basílio, o objetivo também é educar a população sobre a importância da coleta
Foto: Divulgação/COOCAI-BA
É na cidade de Inhambupe, a cerca de 170 km de Salvador, que a Associação de Catadores de Material Reutilizável e Reciclável (COOCAI), instalada e passou a desenvolver formas de incentivar a coleta seletiva. Uma delas é a coleta de porta em porta, onde os moradores são instruídos a reciclarem o próprio lixo e entregarem à associação, que vai na porta da população coletar os materiais.
Conhecido por ser o primeiro catador do Brasil a ser contratado pelo poder público, onde desempenhou a função de coordenador de resíduos sólidos e coleta seletiva, Manoel Basílio, é o criador e presidente da COOCAI, uma associação que tem o objetivo de buscar a sustentabilidade a partir da coleta seletiva.
"A COOCAI é uma associação, mas é COOCAI porque o meu sonho era ter uma cooperativa. Mas, infelizmente, as pessoas não entendiam o que era trabalhar em cooperativismo e acabava saindo muito. Então, resolvemos criar como associação, mas acabou ficando COOCAI", disse Basílio.
Ao Farol da Bahia ele destacou o feito da associação de implantar a coleta seletiva solidária de porta a porta em Inhambupe e explicou como foi planejado para funcionar.
"Nós setorizamos a cidade em seis etapas, de segunda a sábado. E cada setor desse, estabelecemos um acordo. Tantas casas coletamos os materiais somente nas segundas-feiras, tantas casas somente nas terças-feiras e assim sucessivamente", explicou.
Entre os materiais coletados pela COOCAI estão o papel, o plástico, o metal e o vidro, além do lixo eletrônico e o óleo de fritura. "A nossa ideia com a população é educar sobre a importância de separar os materiais dos resíduos. Pedimos que eles separem o orgânico do reciclável e a parte técnica fica com a gente. E nós separamos os elementos, o papel, o vidro, o metal para depois comercializar", pontuou.
Dificuldades
Segundo Manoel Basílio, a única dificuldade enfrentada até hoje pela COOCAI com relação aos projetos e realizações sustentáveis é a adesão dos políticos.
"A gente entende que já tem as políticas públicas e uma das nossas tristezas é que a lei de políticas de resíduos sólidos nasce em 2010, e de lá para cá, vem sendo sempre prorrogada porque os gestores se queixam que nunca tem recursos. Mas eu sempre digo, tem recursos sim porque é o mesmo recurso que eles utilizam para jogar o lixo fora. Infelizmente, eles não têm essa sensibilidade de apoiar. A maioria dos municípios não tem uma cooperativa ou associação, mas existem catadores. Então, o que a política orienta sobre as prefeituras motivarem, incentivarem e educarem o grupo organizado, não acontece", destacou.
"As prefeituras, ao invés de ajudar, criam barreiras. Então, a COOCAI é um empreendimento que sofre diariamente, mas nossa resistência e a vontade de transformar tantas vidas faz a diferença", acrescentou.
Impactos da pandemia
A COOCAI já passava por dificuldades para manter os projetos e palestras sobre a sustentabilidade e coleta seletiva. Mas, com a pandemia, esse trabalho se tornou ainda mais difícil, pois o grupo precisou parar com todas as atividades por quase dois anos e agora tenta retomar do ponto zero.
Entre as perdas da associação, está o galpão que era utilizado pelo grupo para realizar o processo de separação dos tipos de materiais e armazenamento dos mesmos. Mas, com o passar dos tempos, a COOCAI ganhou um terreno de 8.000m², no entanto, o local não conta com muros ou cobertura. De forma online, Manoel Basílio criou uma vaquinha para arrecadar qualquer contribuição para o objetivo principal do grupo.
"Nós não temos caminhão, não temos nada. Mas nós temos a coragem. Já iniciamos a movimentação para a construção da nossa sede, que inicialmente será o levantamento dos muros. A gente acredita que o nosso trabalho vai chegar em muitas pessoas e elas vão nos ajudar", pontuou.
De acordo com Basílio, a COOCAI conta com nove associados, mas somente seis estão ativamente trabalhando. Os outros três estão temporariamente afastados por questões de saúde. Mas, nós temos quase 20 famílias querendo entrar para a COOCAI", completou.
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