Autoridades da França avaliam aplicar uma única dose de vacina contra Covid para quem já foi infectado
Medida é vista com cautela por especialistas do Brasil
Foto: Reprodução/Governo Federal
Há pouco mais de uma semana, a Alta Autoridade de Saúde (Haute Autorité de Santé) da França recomendou que pessoas que já foram infectadas recebam apenas uma dose de vacina contra a Covid-19, gerando um debate entre os cientistas sobre a possibilidade de, dentro de um cenário de oferta restrita de vacinas, adotar a medida para economizar doses.
O argumento é que as pessoas curadas do coronavírus desenvolveram uma memória imunológica durante a infecção e, por isso, a vacina em dose única vai servir como "lembrete” para aumentar a imunidade. Ou seja, para quem teve a doença, uma dose de vacina é suficiente para estimular a geração de mais anticorpos.
"A ideia é boa, mas é difícil de ser colocada em prática. Campanhas de vacinação têm de ser baseadas em fatos fáceis. Quanto menos regra tiver, melhor funciona", diz Rosana Richtmann, infectologista do do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo.
Segundo ela, em uma campanha de vacinação em massa, como é o caso da mobilização brasileira, é impossível criar muitas regras. A infectologista ressalta também que a ciência ainda não conseguiu definir o chamado "correlato de proteção", que é quantos anticorpos um indivíduo precisa ter para não ser infectado novamente pelo coronavírus.
Para a imunologista Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, as pesquisas sobre a resposta imune à Covid-19 são ainda incipientes e a quantidade de anticorpo de um indivíduo, neste momento, não quer dizer que ele está protegido contra uma possível reinfecção.
"A tendência é que a quantidade de anticorpos das pessoas que tiveram Covid caia com o passar do tempo. Se ela segue não vacinada, vai se reinfectar de novo. Sabemos muito pouco ainda sobre o coronavírus. Por que as crianças raramente ficam doentes? Ninguém sabe", diz Bonorino.