BC prevê estouro da inflação e aponta fiscal e câmbio como riscos em ata
O colegiado do BC também ressaltou a questão fiscal e o câmbio como riscos para a convergência da inflação à meta
Foto: Raphael Ribeiro/Banco Central
O Banco Central prevê um novo estouro da meta de inflação em junho, conforme o sistema de alvo contínuo em vigor desde o início do ano, mostrou ata do Copom (Comitê de Política Monetária) divulgada nesta terça-feira (4).
O colegiado do BC também ressaltou a questão fiscal e o câmbio como riscos para a convergência da inflação à meta.
No modelo de avaliação contínua, a autoridade monetária busca a meta sem se vincular ao chamado ano-calendário, ou seja, ao período de janeiro a dezembro. Atualmente, o BC toma suas decisões com o terceiro trimestre de 2026 na mira.
O alvo central definido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta é considerada cumprida quando oscila entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
"Em se concretizando as projeções do cenário de referência, a inflação acumulada em 12 meses permanecerá acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos. Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas", afirmou.
No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação para este ano subiu de 4,5% para 5,2% acima do teto da meta. Para o terceiro trimestre de 2026, a estimativa é de 4%.
O novo modelo prevê que a meta será considerada descumprida quando a inflação, medida pela variação de preços acumulada em 12 meses, ficar por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância.
Logo após assumir o cargo, Galípolo teve de se justificar pelo descumprimento do objetivo em 2024, ainda na gestão de Roberto Campos Neto. Em carta aberta, atribuiu o estouro à força da economia brasileira, ao câmbio depreciado e a fatores climáticos, em um cenário de expectativas deterioradas.
Na ata, o Copom reafirmou a necessidade de políticas fiscal e monetária "harmoniosas", discurso adotado também pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em comparação com o comunicado da semana anterior, empregou um tom mais duro ao falar em disciplina fiscal e expansão de crédito.
"O comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade", disse.
Na última quarta-feira (29), o Copom cumpriu o plano traçado em dezembro e elevou a taxa básica de juros em um ponto percentual, de 12,25% para 13,25% ao ano. O comitê reafirmou a sinalização de que pretende fazer mais uma alta da mesma intensidade na reunião de março. Mas evitou se comprometer com qualquer ritmo de ajuste em maio.
Essa foi a primeira reunião desde que Gabriel Galípolo assumiu a presidência do BC, em 1º de janeiro. O chefe da autoridade monetária é um nome de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Um dia depois da decisão do Copom, o chefe do Executivo afirmou que o presidente do BC não poderia dar "um cavalo de pau em um mar revolto" e disse confiar que Galípolo vai criar as condições de entregar "uma taxa de juros menor no tempo que política permitir".