BC vende US$ 3,287 bilhões em dois leilões extras após disparada do dólar
Ao todo, foram aceitas 22 propostas
O Banco Central injetou US$ 3,287 bilhões no mercado de câmbio em dois leilões extraordinários de dólares à vista realizados nesta terça-feira (17). A segunda intervenção ocorreu depois de a moeda norte-americana saltar para o patamar de R$ 6,20.
No segundo leilão do dia, a autoridade monetária vendeu US$ 2,015 bilhões. Ao todo, foram aceitas 22 propostas (acolhidas entre 12h17 a 12h22), e a taxa de corte do leilão foi de 6,1500.
Mais cedo, o BC vendeu US$ 1,272 bilhão em leilão surpresa no mercado à vista. A primeira intervenção foi anunciada depois de o dólar subir em reação à divulgação da ata do Copom (Comitê de Política Monetária). No primeiro certame, foram aceitas sete propostas, acolhidas entre 9h36 e 9h41, e a taxa de corte (por meio da qual o BC decide quais ofertas foram aceitas) foi de 6,1005.
Às 10h22, a moeda norte-americana disparava 1,29%, cotada a R$ 6,170. Mesmo com a primeira intervenção do BC, o dólar continuou subindo, o que exigiu nova atuação da autoridade monetária.
Na ata, o Copom justificou o choque de juros apontando que a piora da inflação de curto e médio prazo exigiu postura mais tempestiva e que o cenário se tornou mais adverso com a materialização de riscos.
"Riscos à alta da inflação, tais como a resiliência da inflação de serviços, a desancoragem [afastamento da meta] das expectativas e a depreciação cambial se materializaram", disse.
No documento, o colegiado do BC ressaltou que recentemente as condições financeiras e a taxa de câmbio passaram por forte alteração. "A conjunção de uma taxa de câmbio mais depreciada com a elevação das curvas de juros nominal e real torna o ambiente mais complexo", afirmou.
Destacou também que o repasse do câmbio para os preços aumenta quando a demanda está mais forte, as expectativas dos agentes econômicos mais distantes da meta ou quando o movimento cambial é considerado mais persistente.
"O comitê deve acompanhar de forma mais detida como se dará a transmissão da taxa de câmbio e das condições financeiras para preços e atividade", acrescentou.
Ao analisar o comportamento da inflação de curto prazo, disse que a trajetória do câmbio pressiona os preços e sugere aumento nos bens industrializados nos próximos meses.
A cotação do dólar usada pelo Copom na última reunião foi de R$ 5,95 -uma elevação significativa com relação ao encontro anterior, quando a moeda norte-americana estava cotada a R$ 5,75, mas já distante do patamar alçado nesta terça.
O BC, apesar das intervenções, não tem sido capaz de reverter a tendência de alta do dólar. O cenário reflete a preocupação do mercado financeiro com a trajetória das contas públicas do país. Há dúvidas sobre a aprovação do pacote de contenção de despesas no Congresso Nacional na reta final do ano.
Na última quarta (11), o Copom elevou a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, de 11,25% para 12,25% ao ano, e antecipou que prevê aumento de mesma intensidade nas duas próximas reuniões, em janeiro e março de 2025.
Se o cenário se concretizar, a Selic chegará ao patamar de 14,25% ao ano -pico da taxa básica na crise do governo de Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016.
Na segunda (16), o BC injetou US$ 4,6 bilhões no mercado de câmbio, sendo US$ 1,6275 bilhão em um leilão extraordinário de dólares à vista e mais US$ 3 bilhões com compromisso de recompra, no chamado leilão de linha.
Mesmo com a intervenção da autoridade monetária, o dólar fechou o dia no maior valor nominal da história, encerrando o pregão com disparada de 1,03%, cotado a R$ 6,091. O real foi a moeda que mais se desvalorizou entre as divisas dos países emergentes e entre as principais moedas do mundo.
Esse tipo de leilão à vista funciona como uma injeção de dólares no mercado, como forma de atenuar disfuncionalidades nas negociações e diminuir a cotação da moeda, seguindo a lei da oferta e demanda.
Na segunda, as intervenções feitas pelo BC tinham como principal objetivo fazer frente à saída sazonal de dólares, dando liquidez ao fluxo e deixando o câmbio flutuar em função das condições de mercado. Tradicionalmente, a autoridade monetária costuma fazer leilões extras no fim do ano, sobretudo em dezembro, período em que empresas com filiais no Brasil enviam recursos ao exterior.