Bolsonaro se preparou para golpe quase dois anos antes de derrota para Lula, segundo a PF
Em um slide no computador de Mauro Cid, também estava descrito uma fuga do ex-presidente caso a investida autoritária fracassasse
Foto: Reprodução/FabioRodrigues-Pozzebom/AgênciaBrasil
O relatório final da Polícia Federal aponta que o planejamento do ex-presidente, Jair Bolsonaro, e aliados para promover uma ruptura institucional no Brasil teve início quase dois anos antes da derrota eleitoral para o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conforme a coluna Malu Gaspar do jornal O Globo.
O que reforçou a tese dos investigadores foi uma apresentação de slides encontrada em um notebook do ex-ajudante de ordens Mauro Cid apreendido pela PF, cujo arquivo foi criado em 22 de março de 2021 – 20 meses antes da eleição. O documento apresenta um planejamento de um golpe de Estado com técnicas militares adotadas pelas forças especiais do Exército, incluindo um plano de fuga de Bolsonaro para o exterior caso a investida autoritária fracassasse.
A PF aponta que o então presidente enfrentou o Judiciário e chegou perto de bancar uma ruptura institucional no dia 7 de setembro de 2021, diante da ofensiva de Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, a trama só avançou após a vitória do PT nas eleições presidenciais de 2022.
O plano foi elaborado quando Bolsonaro já estava em uma ofensiva contra a Corte. Começou no início do mandato, em 2019, com a abertura do inquérito das fake news, mas se acentuou durante a pandemia de Covid-19 depois que o STF reconheceu a autonomia de prefeitos e governadores para adotar medidas de isolamento social, criticadas por Bolsonaro, além da pressão dele pela adoção do voto impresso e a reabilitação política de Lula após o tribunal anular os processos do petista na Lava-Jato.
Moraes já presidia o inquérito dos atos de 8 de janeiro na época, o que levou para a prisão aliados do então presidente e derrubou perfis bolsonaristas nas redes sociais. A perspectiva de o ministro assumir o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também provocava apreensão no entorno de Bolsonaro, que afirmava que só aceitaria o resultado das eleições se houvesse um comprovante impresso do voto.
O relatório que estava no computador de Mauro Cid previa três cenários que levariam Bolsonaro a desrespeitar decisões Judiciais e avançar para uma ruptura democrática: intervenção do STF sobre o Executivo; a cassação da chapa de Bolsonaro à reeleição em 2022 ou, então, o veto do Supremo e/ou do TSE à implementação do voto impresso, caso ele fosse aprovado pelo Congresso. Mas o projeto foi derrotado ainda na Câmara dos Deputados meses depois e não chegou a passar pelo Senado.
Os atos em Brasília e São Paulo foram convocados com semanas de antecedência e despertaram grande preocupação entre os ministros da Corte. Alexandre de Moraes proibiu a aproximação de bolsonaristas da Praça dos Três Poderes após discursos violentos, entre eles o cantor e ex-deputado, Sérgio Reis, que incitou a invasão do STF em um áudio nas redes, e Zé Trovão, caminhoneiro e atualmente deputado federal pelo PL de Santa Catarina, que, segundo o tribunal, convocou bolsonaristas para “atos criminosos e violentos de protesto”.
Na ocasião, Bolsonaro anunciou que não cumpriria mais decisões judiciais do ministro e o chamou de canalha, além de exigir sua renúncia no palanque da Avenida Paulista, em São Paulo, onde dezenas de milhares de bolsonaristas se concentravam.