Brasil é o segundo país que mais realiza transplantes, mas fila de espera ainda é grande
Atualmente, mais de 59 mil pessoas aguardam um órgão no país

Foto: Reprodução/Pixabay
O Brasil é o segundo país do mundo que mais realiza transplantes, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Dados do Ministério da Saúde mostram que, somente no ano passado, foram mais de 23 mil procedimentos realizados. Apesar do número expressivo, a demanda por transplantes também é grande no país. Atualmente, mais de 59 mil pessoas estão na fila esperando por um órgão. Dentre elas, está o empresário Gabriel Scalabrini, de 32 anos.
Nascido em São Luís, o maranhense foi diagnosticado com linfoma, câncer que afeta o sistema linfático, responsável por ajudar a combater infecções no organismo, aos 21 anos. Desde então, sua vida mudou. Em entrevista ao Farol da Bahia, ele contou que precisou mudar para São Paulo para fazer o tratamento necessário. Após passar por algumas sessões de quimioterapia e radioterapia, ele conseguiu alcançar a remissão da doença. No entanto, o tratamento intensivo e invasivo deixou algumas sequelas pulmonares.
“Em março de 2012, descobri o câncer. Para fazer o tratamento, precisei sair de São Luís e me mudar para São Paulo porque meu câncer já estava avançado. Apesar de que um dos meus pais ficava aqui para me ajudar, tinha toda essa dificuldade de estar longe de amigos e família durante o tratamento. A expectativa era que eu ficasse oito meses, mas os médicos não conseguiram conter o câncer, a doença progrediu e fiquei sem prazo para retornar”, explicou Scalabrini.
“Então, nós decidimos nos mudar em definitivo para São Paulo. No tratamento, fui submetido a diferentes protocolos de quimioterapia e tive que fazer um transplante de medula. Porém, não tive sucesso e precisei fazer radioterapia. Daí surgiram minhas sequelas pulmonares, que são oriundas da radioterapia e da quimioterapia. Depois desse procedimento, precisei fazer mais outro protocolo de quimioterapia para conseguir ganhar a remissão do câncer. Isso tudo aconteceu entre 2012 e 2014”, completou.
Gabriel relatou também que, em 2013, começou a sentir falta de ar. Sintoma este que, segundo ele, evidenciou a existência de problemas no pulmão e a necessidade de um transplante. “A partir daí comecei a usar oxigênio e precisei fazer reabilitação cardiorespiratória. Minha qualidade de vida caiu muito. Por conta da necessidade do oxigênio, tive a mobilidade reduzida. Em 2015 consegui fazer o desmame do oxigênio, como é chamado esse processo”, disse.
“Mas, em 2019, tive um derrame pericárdico que me causou hipertensão pulmonar e disfunção do ventrículo direito. Isso piorou muito a minha respiração. E, por conta disso, voltei a usar oxigênio. Desde então, estou tentando conseguir um transplante. A minha primeira tentativa para entrar na lista de espera foi em 2020, mas meu estado de saúde estava muito debilitado naquele momento e os médicos recusaram. Em 2022, já estava bem melhor e consegui entrar na fila", continuou Scalabrini, que hoje em dia é casado e tem uma filha de 1 ano.
Foto: Arquivo Pessoal/Gabriel Scalabrini e filha
"Ausência da cultura de doação"
A recusa familiar é o principal motivo que impede a doação de órgãos no Brasil. Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) mostram, por exemplo, que 43% das famílias recusaram a doação de órgãos de seus parentes após morte encefálica comprovada no ano passado. Em 2022, mais de 45% das famílias ainda não concordaram com a doação.
Para Gabriel Scalabrini, a ausência de uma cultura de doação de órgãos no país dificulta a realização de transplantes. “Isso ocorre por causa da falta de conhecimento. Muita gente não sabe o que acontece ou o que é necessário para doação, por exemplo. Além de não termos essa cultura da doação, isso é um assunto pouco discutido ainda”, afirmou Scalabrini, que reforçou dizendo que o Dia Nacional da Doação de Órgãos, celebrado na terça-feira (27), serve para conscientizar as pessoas.
No país, a doação de órgãos acontece somente após a autorização familiar. Os órgãos doados vão para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em uma lista de espera monitorada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), os pacientes recebem assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia e acompanhamento pós-transplante. Hoje, Gabriel ocupa a 57º posição na fila única de espera para receber um transplante de pulmão.
“Nós, pacientes aguardando transplante, temos nossas batalhas como todo mundo. Entretanto, somos os únicos que dependem da boa ação de uma pessoa que nós não conhecemos para viver. Somente os recursos médicos não são capazes de melhorar o tratamento. Então, o que é determinante é a doação de uma pessoa desconhecida ou de uma família que aceita doar os órgãos daquele parente que faleceu" , concluiu.