Brics: Putin defende bloco econômico como organização-chave com influência em expansão

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, enviou um vídeo à 17ª Reunião de Cúpula do Brics em que destacou que o bloco de países emergentes se tornou uma das principais organizações-chave do mundo com grande potencial político, econômico e tecnológico e influência em expansão. A reunião foi realizada neste domingo (6), no Rio de Janeiro. 

“A autoridade e a influência desse grupo aumentam a cada ano, e o Brics é agora um dos principais grupos e organizações-chave no mundo. E nossa voz é ouvida em alto e bom som em todo o cenário internacional”, afirmou Putin.

Putin salientou também que o mundo unipolar – compenetrado nos Estados Unidos (EUA) – está “se tornando coisa do passado”, declarando que o padrão de globalização liberal instalado pelos norte americanos está obsoleto.

“[A ordem unipolar] está sendo substituída por um mundo multipolar mais justo. Tudo indica que o modelo de globalização liberal está se tornando obsoleto, o centro da atividade empresarial está se deslocando para os mercados em desenvolvimento, o que está desencadeando uma poderosa onda de crescimento, inclusive nos países do Brics”, continuou o presidente.

Nos anos de 2023 e 2024, o Brics teve um aumento de cinco integrantes passando para 11 ao total, além de adicionar dez novos membros parceiros. Gerir essa nova expansão foi uma das dificuldades da presidência do Brasil para consolidar o fórum que pretende alterar a arquitetura global atual de poder.  

Putin ainda agradeceu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo “trabalho ativo" no interior do Brics. 

“É importante que nossos colegas brasileiros tenham se aprofundado nas iniciativas apresentadas durante a presidência da Rússia no ano passado e proposto trabalhar em sua implementação”, afirmou.

O presidente da Rússia também se mostrou favorável ao aprofundamento da cooperação. “Nossa associação expandiu-se significativamente e inclui os principais Estados da Eurásia, África, Oriente Médio e América Latina. Juntos, temos um potencial político, econômico, científico, tecnológico e humano verdadeiramente enorme”. 

Putin não foi pessoalmente a reunião devido ao mandado de prisão que está aberto contra ele no Tribunal Penal Internacional (TPI) por acusações de crimes de guerra na Ucrânia, o que ele nega, segundo informações do governo russo. Como o Brasil é signatário do TPI, existia a possibilidade da Justiça brasileira determinar a prisão dele.

Equilibrar o poder

A professora de Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Ana Garcia, pesquisadora do BRICS Policy Center, salientou que atualmente o bloco desempenha o papel de balancear o poder com as potências ocidentais para proporcionar uma ordem internacional mais equilibrada.

“A Rússia utilizou o Brics muito para expandir sua zona de influência, para propor mecanismos inovadores, particularmente na área monetária e financeira. O Brics hoje é um instrumento para equilibrar o poder global que é muito favorável ao bloco liderado pelos Estados Unidos (EUA)”, disse.

Ana Garcia mencionou que, economicamente, o poder atualmente já está distribuído, contudo politicamente, as organizações internacionais, como Fundo Monetário Internacional (FMI) e Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, continuam sendo controladas por pouquíssimos países.

“Economicamente, o Brics está participando da economia global. O que não se tem é isso refletido nas instituições internacionais. As estruturas políticas estão defasadas e é isso que precisa ser reequilibrado”, finalizou.

Brics

O Brics é um bloco econômico que possui representantes de 11 países membros permanentes: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia.

Ainda possui os países parceiros: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Tailândia, Cuba, Uganda, Malásia, Nigéria, Vietnã e Uzbequistão.

Os 11 países que estão no bloco representam 39% da economia mundial, 48,5% da população do planeta e 23% do comércio global. No ano passado, países do Brics receberam 36% de tudo que foi exportado pelo Brasil, enquanto nosso país importou 34% do total do que compramos desses países.