Economia

Café a quase R$ 50: o que está por trás da alta expressiva nos preços

Segundo João Lopes Araujo, presidente da Associação dos Produtores de Café da Bahia, preçso elevados devem continuar em 2025

Por Inara Almeida
Ás

Atualizado
Café a quase R$ 50: o que está por trás da alta expressiva nos preços

Foto: Pixabay

Juntar moedas para comprar um ‘menorzinho’ foi um desafio em 2024, diante do aumento expressivo do preço do café. Nos supermercados, o pacote de 1 kg está sendo comercializado, em média, a R$ 48,57, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), ante R$ 35,09 em janeiro do ano passado. Em 2025, de acordo com as projeções, a população enfrentará valores ainda maiores para consumir a commodity, que registrou o maior preço (US$ 3,44 por libra-peso) em quase cinco décadas nos mercados internacionais no mês de dezembro.

Na despensa de Andressa Santos, 26, os efeitos do encarecimento do café já podem ser sentidos. A pedagoga, ao fazer as compras do mês, tem evitado levar muitos pacotes de uma só vez, em razão do valor. Além disso, Andressa também tem variado as marcas, na tentativa de economizar. “Compro em menor quantidade, apenas o suficiente para uns quinze dias, e reponho quando acaba. Antes, até tinha uma marca preferida, mas agora dou preferência para a que está na promoção”, contou à reportagem.

Nos empreendimentos que vendem café, mudanças também precisaram acontecer. No Cafélier, tradicional cafeteria localizada no Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, a tendência é que os aumentos sejam repassados ao consumidor final em breve, uma vez que  as vendas dos pacotes de café já caíram mais de 50%. “Fizemos de tudo para segurar o preço do café, tentando ganhar em volume de vendas , mas não sabemos até quando iremos aguentar. E isso é algo que irá impactar bastante nas vendas, pois nunca é só o café, tem sempre um acompanhamento, uma torta , um salgado”, destacou o gerente Lucas Lima Barreto.

Segundo João Lopes Araujo, presidente da Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé), as secas têm sido as responsáveis por ‘quebrar’ as sacas de café e, consequentemente, elevar os preços. Araujo classificou o fenômeno como “raríssimo”, uma vez que atinge não só o Brasil, mas também outros países destaques na produção do grão.

“O Brasil é o maior produtor de café do mundo, o maior exportador há 150 anos e segundo maior consumidor. E depois do Brasil, o segundo maior produtor é o Vietnã, depois a Indonésia, depois vem a Colômbia. O que aconteceu de coincidência fatídica? Uma seca atingiu o Brasil, Vietnã, Indonésia, Colômbia e Nicarágua ao mesmo tempo. Essa seca coincidente em tantos países produtores importantes fez a safra de 2024 quebrar e ficar com o estoque de café do mundo praticamente zerado. Por isso a alta de preços”, explicou.

Na Bahia, o quarto estado que mais produz café no Brasil, as lavouras têm diminuído devido às irregularidades da chuva. “O Estado da Bahia já chegou a produzir cinco milhões de sacas e em 2024 só produziu três milhões e meio. Na região do semiárido, onde começou a ser produzido o café, nós chegamos a ter café em 102 municípios. Hoje, mais de 60 municípios não tem mais, porque a irregularidade climática foi se agravando”, pontuou João Lopes Araujo.

Incerteza permanece

Apesar do aumento nos valores do café, não houve queda no consumo, afirma Araujo. “Para a agradável surpresa do produtor de café, mesmo com esses preços que já subiram 40% em alguns lugares, o consumo não cai. O povo gosta de café, passou a ser um elemento de primeira necessidade, na verdade”, disse.

Questionado sobre os riscos de desabastecimento de café, o presidente da Assocafé esclareceu que não irá acontecer. Contudo, as projeções para o ano de 2025 apontam para a continuidade dos preços altos, uma vez que a safra deste ano já foi afetada pela seca. 

"A procura no mundo está fervilhando e nós não sabemos quando isso poderá se regularizar, porque é um problema climático, e não basta chover que resolve todo o problema. Há um período para a recuperação”, explicou João, sinalizando que a recuperação das lavouras de café brasileiras deve acontecer só em 2026.


 

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