Café, manga e cacau: EUA sinalizam possível isenção de tarifa para produtos não fabricados no país
Segundo o secretário de Comércio americano esses são alguns dos itens que podem escapar da sobretaxa

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Em um possível sinal de negociação antes da entrada em vigor do tarifaço previsto para sexta-feira (1º), o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, afirmou que produtos não fabricados internamente podem ser isentos da nova tarifa. As informações são do jornal O GLOBO.
Sem citar o Brasil, ele mencionou itens como manga, café, cacau e outros recursos naturais, produtos que estão entre os principais da pauta de exportações brasileiras. Atualmente, o Brasil fornece cerca de um terço do café consumido nos EUA.
Lutnick tem sido o principal interlocutor do vice-presidente Geraldo Alckmin com o governo americano. Alckmin participou de uma nova rodada de diálogo com big techs nessa terça-feira (29), com a presença de um representante da Secretaria de Comércio dos EUA, que acompanhou a reunião por videoconferência a pedido de Lutnick.
No encontro, o vice-presidente propôs a criação de um grupo de trabalho para tratar de temas como ambiente regulatório, inovação, segurança jurídica e oportunidades para as empresas de tecnologia. Estiveram presentes representantes da Meta, Google, Amazon, Apple, Visa e Expedia.
"Na conversa com o secretário Lutnick eu disse a ele que teria um segundo encontro com as empresas de tecnologia americanas e ele perguntou se poderia um representante dele participar. Participou um representante da secretaria de Comércio, por videoconferência. Foi uma reunião bastante proveitosa, tiramos (como conclusão) uma mesa de trabalho para discutir em seguida uma série de questões voltadas a big techs", afirmou.
Alckmin disse que o Executivo brasileiro não interfere nas decisões do Judiciário, ao comentar a carta em que Donald Trump anuncia a tarifa de 50%. No texto, o ex-presidente dos EUA cita o processo contra Jair Bolsonaro no STF, a regulação das big techs e um suposto déficit comercial com o Brasil, que, segundo Alckmin, na verdade tem superávit nas trocas com o país.
Sobre a regulação das plataformas digitais, o vice-presidente afirmou que o tema está sendo discutido internacionalmente. "Essa questão de regulamentação de big techs e redes sociais está em discussão no mundo. Vamos aprender. Onde já foi implementado? Na Europa? O que deu certo, o que levou a crítica? Não devemos ter muita pressa nisso. A gente deve verificar a legislação compara, ouvir e dialogar", disse.
Mais cedo, em entrevista à CNBC Internacional, Lutnick reforçou que produtos que os EUA não produzem podem ter tarifa zero. Desde o anúncio do tarifaço, veículos da imprensa americana vêm destacando os efeitos que o aumento pode ter sobre itens comuns no dia a dia da população, como café, carne e suco de laranja.
"Se você cultiva algo que nós não cultivamos, isso pode entrar com tarifa zero. Então, se fizermos um acordo com um país que cultiva mangas ou abacaxis, eles podem entrar sem tarifa, porque café e cacau seriam outros exemplos de recursos naturais", afirmou em entrevista concedida no âmbito das negociações entre EUA e China, em Estocolmo.
O café brasileiro segue como o principal item exportado para os EUA, com 3,3 milhões de sacas enviadas entre janeiro e junho deste ano, segundo o Cecafé. Os EUA compraram 17% de todo o café exportado pelo Brasil no período. Já o cacau brasileiro gerou US$ 72,7 milhões em exportações para o país em 2024, o equivalente a 8,1 mil toneladas, segundo a AIPC.
No caso do suco de laranja, o setor estima perdas de até R$ 4,3 bilhões caso a tarifa seja mantida. O Brasil exporta 95% da produção, sendo 42% com destino aos EUA. O país norte-americano, que já foi o segundo maior produtor mundial de laranja, sofre com a doença greening, que derrubou em 90% a produção na Flórida desde os anos 2000.
Atualmente, o suco brasileiro paga uma tarifa de US$ 415 por tonelada. O objetivo do governo é negociar a redução da alíquota de 50% para todos os setores. Segundo fontes, uma das estratégias em análise é propor a retirada de produtos como suco de laranja, café e aviões da Embraer da lista de sobretaxa.
Apesar disso, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio nega que haja negociação por setores. A equipe de Alckmin afirma que o foco segue sendo a revisão da medida como um todo.
O governo também evita apresentar um plano de apoio a empresas afetadas antes de saber se a tarifa será realmente aplicada, mas já considera medidas de proteção ao emprego, como as usadas na pandemia.
O presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, está nos EUA para reforçar que o país também pode ser prejudicado. A empresa tem uma unidade com 3 mil funcionários e US$ 3 bilhões em ativos em solo americano.
Outro trunfo da Embraer é que até 2030 existe um potencial de compra de US$ 21 bilhões em equipamentos de fornecedores dos EUA, que vão compor os aviões que serão exportados para todo o mundo. Os EUA representam 45% de mercado de seus jatos comerciais e 70% dos jatos executivos.