Câncer colorretal é mais agressivo entre os jovens, diz estudo brasileiro
O grupo mais jovem apresentou um risco 93% maior de recidiva (reaparecimento da doença) em relação aos pacientes acima de 50 anos

Foto: SBCO
Um estudo brasileiro com 434 pacientes com câncer colorretal mostrou que adultos mais jovens, entre 18 e 49 anos, apresentaram quadros mais agressivos da doença em comparação a pessoas com mais de 50 anos.
Do total de pessoas analisadas, 78 tinham entre 18 e 49 anos (58,97% mulheres e 41,03% homens) e 356 tinham mais de 50 (55,06% mulheres e 44,94% homens). O grupo mais jovem apresentou um risco 93% maior de recidiva (reaparecimento da doença) em relação aos pacientes acima de 50 anos, além de uma maior taxa de tumores indiferenciados quando a doença tem um potencial mais agressivo.
A pesquisa, realizada com pacientes do Hospital Universitário de Brasília, será apresentada no 73º Congresso Brasileiro de Coloproctologia, que ocorre em São Paulo entre quarta-feira (3) e sábado (6).
Um dos responsáveis pelo estudo e coordenador do serviço de coloproctologia do Hospital Santa Lúcia Norte, em Brasília, André Silva diz que a pesquisa analisou pacientes operados entre 2010 e 2020, com acompanhamento mínimo de três anos.
"Queríamos entender duas coisas: como era o perfil do câncer colorretal nessa população de adultos jovens e qual era o impacto nos desfechos oncológicos, como sobrevida livre de doença e sobrevida global", explica.
Ele afirma que já se observa no mundo um aumento de casos da doença em pessoas abaixo dos 50 anos. Relatório publicado em janeiro de 2024 pela ACS (American Cancer Society) apontou que as taxas de câncer colorretal estão aumentando rapidamente entre pessoas nas faixas dos 20, 30 e 40 anos. O fenômeno, segundo Silva, está associado a fatores como sedentarismo, obesidade e hábitos alimentares, além da ausência de estratégias de rastreamento nessa faixa etária.
O rastreamento da doença se dá por meio do exame de sangue oculto nas fezes e, em caso positivo, deve ser feita a colonoscopia exame recomendado apenas para pessoas com mais de 50 anos. Mas devido ao aumento de casos na população mais jovem, várias sociedades médicas passaram a recomendar o teste para todos os adultos com mais de 45 anos, mesmo que não tenham sintomas.
Sobre a agressividade, Silva explica que tumores em pacientes jovens tendem a ser biologicamente mais agressivos, mas que não há uma causa exata para isso. "Identificamos nessa população um número maior de tumores indiferenciados, que são mais desorganizados e têm maior taxa de proliferação celular. Além disso, os adultos jovens apresentaram maior risco de recidiva", diz.
Especialistas afirmam que a recidiva pode ser mais desafiadora de tratar do que o câncer inicial, porque costuma indicar um comportamento biológico mais agressivo da doença.
O câncer colorretal se refere a tumores que se iniciam em parte do intestino grosso (cólon) e na porção final do intestino (reto). É um dos tumores mas comuns entre os brasileiros, segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer).
Presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, Sérgio Araújo afirma que a maior agressividade da doença pode estar ligada tanto ao atraso no diagnóstico quanto a características biológicas do tumor. "Provavelmente as duas coisas. É comum que tumores sólidos em jovens sejam mais agressivos, e isso vale para o câncer colorretal", diz.
De início silenciosa, como acontece com a maioria dos tumores, a doença costuma se manifestar com alterações no hábito intestinal (intestino que naturalmente é preso começa a ficar solto ou vice-versa), presença de sangue nas fezes, dores abdominais e alterações no formato das fezes, que ficam mais finas ou alongadas.
Araújo alerta para a importância de não subestimar sinais como sangramento retal. "Hoje, quando um paciente jovem apresenta sangramento, precisamos verificar a presença do câncer antes de tratar outras causas, como hemorroidas. Isso porque, embora a maioria não tenha câncer, a proporção de casos é maior do que se imaginava", explica.
Sobre prevenção, Araújo reforça a recomendação atual: "Hoje indicamos a pesquisa de sangue oculto nas fezes anualmente ou colonoscopia a cada cinco anos a partir dos 45 anos. É um desafio no sistema público, mas é possível."