Câncer de próstata matou mais de 1.100 homens na Bahia nos primeiros 10 meses de 2024
Salvador e Feira de Santana são as cidades com maior registro de óbitos
Foto: Divulgação/ Prefeitura de Feira de Santana
O câncer de próstata já matou 1.144 homens na Bahia entre janeiro e outubro deste ano. Deste total, 214 mortes foram registradas em Salvador, cidade que também lidera o número de internações, com 575 do total de 2.122 em todo o estado, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab).
Conforme o levantamento enviado ao Farol da Bahia, a maior parte dos casos da doença foi registrada em homens com idade a partir de 80 anos, totalizando 508 ocorrências. As faixas etárias de 70 a 79 anos e de 60 a 69 anos também apresentam altos índices, com 384 e 204 casos, respectivamente. Ainda houve registro de óbitos nas faixas etárias de 50 a 59 anos (42), de 40 a 49 anos (5) e de 35 a 39 anos (1).
Na Bahia, Salvador lidera o número de mortes, com 214 registros neste ano. Comparando os dados dos últimos quatro anos, a capital baiana se destacou em 2023 pelo maior número de óbitos por câncer de próstata (271). Em seguida, foram registradas 261 mortes em 2020, 252 em 2022 e 213 em 2021.
Depois da capital baiana, Feira de Santana, Vitória da Conquista e Teixeira de Freitas são as cidades que registraram 20 ou mais mortes pela doença, com 54, 27 e 20 óbitos, respectivamente, segundo os dados da Sesab.
A doença é a segunda principal causa de morte e a mais comum entre os homens brasileiros, depois dos tumores de pele não melanoma. Na maioria das vezes, o paciente pode ter uma taxa de cura de 90% se diagnosticado e tratado na fase inicial. Por esse motivo, o Novembro Azul busca conscientizar sobre o câncer de próstata e incentivar os homens a cuidarem da saúde, não apenas no mês da campanha, mas em qualquer época do ano.
Fatores de risco
Um levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca) aponta que a Bahia é o segundo estado em incidência do câncer de próstata, atrás apenas do Rio de Janeiro, que lidera as estatísticas. Ao Farol da Bahia, o urologista e coordenador do serviço de Urologia dos Hospitais Mater Dei Salvador e Municipal de Salvador, Dr. Nilo Jorge Leão, explicou que Salvador é a cidade mais negra fora da África e isso explica os índices do estado baiano.
Além da idade (maior que 60 anos), histórico familiar e obesidade, os homens devem atentar para a raça, já que a etnia negra está associada a casos mais agressivos de câncer. "Uma das coisas que justificam a Bahia ser um dos estados com mais casos de câncer de próstata é o fato de vivermos em um estado predominantemente negro. Salvador é a cidade mais negra fora da África, o que está associado a uma maior probabilidade de homens negros desenvolverem câncer de próstata, especialmente na forma mais agressiva da doença", disse.
Por conta dos fatores de risco, a campanha do Novembro Azul faz um alerta para os perigos do câncer de próstata e destaca a importância do diagnóstico precoce, que não apenas aumenta as chances de cura em mais de 90%, mas também reduz o risco de impotência sexual e incontinência urinária.
"Para isso ocorrer, o paciente deve vencer o preconceito. Segundo, maior acessibilidade ao médico, principalmente dos pacientes de sistema único de saúde. Terceiro, o homem entender que precisa cuidar da própria saúde", pontuou o Dr. Nilo Jorge Leão, que também coordena o Núcleo de Uro-Oncologia das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid).
"A saúde é fundamental. Sem ela, não é possível cuidar da própria família, alcançar sucesso profissional ou viver plenamente. Bons hábitos alimentares, prática de exercícios físicos, evitar o consumo excessivo de álcool, cigarro e outras drogas, além de realizar acompanhamento regular com um profissional de saúde, são essenciais", complementou.
Importância do exame de toque retal
O câncer de próstata em fase inicial geralmente não apresenta sintomas, o que torna essencial o exame de toque retal anual a partir dos 50 anos, como forma de rastrear a doença. O procedimento consiste na verificação da parede retal, feita por um médico que insere um dedo através do ânus do paciente. Com essa prática, o profissional consegue avaliar a glândula prostática, verificando possíveis anormalidades.
Segundo o urologista, o exame é rápido e dura cerca de 15 segundos. "É um exame simples e, que apesar da gente poder contar com ferramentas como o exame de sangue (o PSA), o toque pode ajudar a flagrar tumores que excepcionalmente não alteram o PSA", reforça o especialista.
"A maior barreira hoje é fazer o homem entender que ele não é infalível, que ele precisa cuidar da própria saúde, que é muito mais do que câncer de próstata, que tem a ver com disfunção hormonal, obesidade, risco de infarto e doenças infecciosas. A maior barreira com certeza é vencer essa questão cultural", finalizou.