Carnaval de Salvador: brilho da festa é ofuscado pelo odor de urina nos circuitos e vira alvo de reclamações dos foliões
Eles se queixam que estrutura montada está longe do ideal para uso; veja o que dizem especialistas
Foto: Agência Brasília
O Carnaval de Salvador é conhecido pela alegria, diversidade e calor humano. No entanto, infelizmente, também é marcado pelo forte odor de urina que toma conta de becos, ruas e avenidas movimentadas. Apesar das campanhas de conscientização realizadas ano após ano, o problema parece persistir, gerando críticas tanto por parte dos baianos quanto dos turistas.
Durante os últimos cinco dias de Carnaval, a redação do Farol da Bahia tem recebido flagras de foliões que, sem qualquer constrangimento, optam por se despir próximo a postes ou muros para atender às suas necessidades fisiológicas. Surpreendentemente, a presença de mulheres e crianças não parece intimidar os mais "apertados". No entanto, será que a estrutura preparada está pronta para atender a demanda durante os festejos?
Problema que se repete
Valter Pontes/Secom Salvador
Uma festa sem hora para acabar, muita bebida e poucos banheiros com boas condições de uso. O cenário parece ser sempre o mesmo. E é. Quem costuma frequentar as grandes festas populares de Salvador já parece ter se familiarizado com uma cena comum: homens e mulheres que, na hora do aperto, encontram um canto mais calmo (às vezes, nem tão calmo assim), para atender ao chamado da natureza.
As reações de quem vê a cena são variadas. Há quem condene a atitude com um simples olhar atravessado e também há quem diz entender bem a situação do “colega” de festa. A parte ruim? O forte odor que pode ser sentido nas vias públicas mesmo, muitas das vezes, após a higienização que é realizada pelos órgãos competentes.
Foi pensando nessa questão que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) promoveu a campanha “Bloco do Respeito”, que tem como objetivo disseminar atitudes positivas e valores éticos entre os foliões. Uma das iniciativas do projeto, veiculada nas redes sociais do CNJ entre os dias 3 e 17 de fevereiro, aborda a importância da boa educação e da gentileza na hora de aliviar a bexiga durante os blocos carnavalescos.
Apesar da prática ser considerada ruim, em alguns momentos, ela é a única disponível naquele momento. Ao menos, é o que falam alguns foliões. “Infelizmente, eu já passei por essa necessidade de ter que urinar em alguma via pública. Os banheiros químicos prometem ajudar o folião, mas, na maior parte do tempo, eles estão sem qualquer condição de uso, seja porque estão muito sujos ou porque estão em quantidade insuficiente e lotados. E, na hora H, tempo é o que não temos”, conta a professora Valneide Oliveira.
Riscos para a saúde
A opinião da foliã é reforçada pela ginecologista Ludmila Andrade, que acredita que o melhor dos mundos seria poder contar com uma boa estrutura de sanitários químicos, algo quase impossível durante o Carnaval. “Em termos de implicações à saúde, o ato de urinar nas ruas impacta mais a experiência da sociedade por conta do mau cheiro, do que, de fato, a saúde da mulher. Em alguns casos, o uso do banheiro químico é impossibilitado por conta do estado em que estes equipamentos estão. Então, pior que utilizar as ruas para liberar a urina, é prendê-la por muito tempo”, explica a especialista.
Ela destaca, no entanto, os riscos que isso pode trazer para a segurança da mulher. “Em alguns casos, a prática pode causar dermatites por ureia, que causam vermelhidão e incômodo nas partes íntimas da mulher. Mas o pior de tudo é a exposição e vulnerabilidades que essas mulheres passam ao tentar urinar nas ruas. Por estarem semi-despidas, tornam-se alvos fáceis para assediadores, por exemplo”, afirma.
O homem também não está livre dos problemas que a prática pode trazer. “A questão da higiene é o ponto central aqui. Um homem que não tem higiene ao utilizar o banheiro da sua própria casa tem muito mais chance de ser vítima de uma inflamação no pênis, por exemplo, do que um outro que adota mais cuidados ao urinar na rua. Agora, claro que durante um Carnaval, a higiene fica comprometida, principalmente pelo fato do folião estar na rua por muito tempo e porque, boa parte das vezes, ele acaba abaixando a guarda em relação a sua própria higienização”, alerta.
“O Carnaval é um local de muito calor, é abafado e favorece a presença do suor, que junto com a urina em excesso, torna o ambiente propício para o surgimento de inflamações, por exemplo. A verdade é que os banheiros químicos trazem uma solução que, em tese, oferece mais conforto para a sociedade, mas que, na prática, pode trazer os mesmos riscos caso a higienização das mãos e do pênis, por exemplo, não seja a adequada”, complementa o especialista.
Estrutura para o folião
Procurada pela reportagem, a Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb) informou que a operação para o carnaval conta com mais de 3.300 banheiros químicos e 90 sanitários climatizados espalhados ao longo do circuito. Os equipamentos foram instalados ainda no início de fevereiro para atender os dias de pré-carnaval.
"Estamos comprometidos em oferecer uma infraestrutura de banheiros acessível e bem distribuída para garantir o conforto dos foliões durante o Carnaval. Nossa equipe está empenhada em manter os banheiros limpos, assegurando uma celebração segura e agradável para todos." afirma Omar Gordilho, Presidente da Limpurb.
Ainda de acordo com o órgão, durante o Carnaval, os equipamentos são higienizados com produtos anti odor – para minimizar o cheiro – e esvaziados para garantir o conforto e a segurança dos foliões que estão curtindo a festa. Além disso, caminhões-pipa, caminhões de sucção e triciclos são alguns dentre os 218 equipamentos utilizados para dar suporte aos serviços realizados.