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Bahia

Caruru salgado: preço do quiabo aumenta 53% no bolso dos consumidores de Salvador

Em 2021, o legume era vendido entre R$ 12 e R$ 15 nas feiras da capital baiana

Por Emilly Lima
Ás

Caruru salgado: preço do quiabo aumenta 53% no bolso dos consumidores de Salvador

Foto: Farol da Bahia

Tradição em toda a Bahia, o caruru de São Cosme e Damião é religiosamente realizado no mês de setembro, quando se homenageia os Ibêjis do Candomblé e os santos gêmeos da Igreja Católica. O prato, que acompanha xinxim de galinha, vatapá, caruru, farofa de dendê, milho branco, banana da terra frita, pipoca e outros itens considerados importantes na composição, no entanto, pesou no bolso dos consumidores, já que o principal ingrediente ficou mais caro: o quiabo. 

O aumento já reflete nas barracas, como a de Edvaldo de Jesus, de 56 anos, que vende o quiabo na Feira de São Joaquim, em Salvador, há mais de 15 anos. Segundo ele, o cento do legume está sendo vendido por R$ 20. Um aumento de R$ 5 a R$ 7 na comparação com o mesmo período de 2021. Ou seja, 53%.

"O cento está de R$ 20 em toda a feira.  Está um pouco mais caro que no ano passado. Em 2021, eu comprei o saco por R$ 100, R$ 120. Já esse ano, comprei entre R$ 200 e R$ 220", explicou. 

Mas, apesar do valor estar mais salgado no repasse para os consumidores, Edvaldo acredita que, por causa das flexibilizações da pandemia da Covid-19, as vendas serão maiores que as do ano passado. "No outro ano, a Covid atrapalhou um pouquinho, mas neste ano, Deus vai ajudar e vai ser melhor. A gente está conseguindo vender bem", disse o ambulante, que chegou a vender o cento para um dos clientes por R$ 17.  "O importante é não perder a freguesia". 

Por causa do aumento, quem acaba sofrendo é o cliente, que precisa gastar mais para realizar o banquete, como é o caso de Fátima Vieira, de 50 anos. De acordo com ela, os preços estão bastante salgados, na comparação com o ano anterior, mas que o jeito era comprar. "Não está barato não, mas dá para levar. O quiabo está de R$ 20, mas está bem novinho, vale a pena levar, mas está caro. Já cheguei a comprar bem mais barato, de R$ 12 o cento. É uma diferença bem gritante", disse. 

"Eu aproveito o caruru de setembro e celebro o aniversário da minha filha. Eu nem ia fazer esse ano, por causa dos custos. Mas ela e os amigos me pediram muito, então estou aqui pesquisando os ingredientes. A expectativa é grande para o período", completou. 

Camarão

Outro item bastante utilizado nas preparações do caruru dos santos é o camarão, que além de ser utilizado no prato principal, também vai no vatapá. Na Feira de São Joaquim, o quilo do pescado está sendo vendido entre R$ 40 e R$ 48. De acordo com Wendel dos Santos, de 27 anos, não houve muita diferença entre os valores repassados em 2021. O aumento foi de cerca de R$ 3. 


Camarão aumentou cerca de R$ 3 este ano. Foto: Farol da Bahia

 

"O camarão que era R$ 45 aumentou só R$ 3 e agora está sendo vendido por R$ 48. Não aumentou tanto", explicou. Segundo ele, o movimento estava bastante fraco no início do mês, mas com a aproximação da data dos santos, 26 de setembro, o movimento está melhor.

"Estava um pouco abalado, mas está melhorando. Provavelmente daqui pra lá, a procura deve crescer pelo camarão", concluiu.

Tradição e devoção aos orixás

Quem mora na Bahia sabe que o tradicional caruru de setembro não se resume apenas no vatapá, caruru e no xinxim de galinha, mas também acumulam ancestralidade, já que veneram os orixás Ibêjis, também conhecidos como erês ou orixás crianças no Candomblé. O caruru aos Ibêjis acrescenta o arroz branco, o feijão preto, a banana frita, o acarajé, o abará, a cana-de-açúcar, a inhame, rapadura, milho branco e outras comidas.

Inclusive, essa não é a única diferença da comida baiana. Enquanto na Igreja Católica, o momento é de partilha, no Candomblé, é de veneração aos êres. Ao Farol da Bahia, o Babá Alagi de Oxaguian, do Ilê Axé T'Ori Alá, explica que a diferença também é encontrada no modo de preparação prato típico do mês.

"A maioria das comidas baianas não são preparadas tecnicamente como nos terreiros. No catolicismo, existe o lado sagrado e alguns ingredientes que não são usados no axé de um terreiro. Na nossa preparação, usamos basicamente o camarão, a cebola, o amendoim, o dendê e as castanhas. Já na comida baiana, eles colocam tempero verde. Nós também usamos as galinhas ou galos utilizados em sacrifício aos Ibêjis no caruru. Na comida baiana, os frangos são comprados nos mercados. Tem muita diferença, até mesmo na forma de servir e se louvar a comida", explicou o Babá.

Por ser uma comida votiva de cada orixá, o caruru de santo precisa ter cada alimento relativo ao orixá verenado. Por exemplo, o milho branco e o inhame cozido são de Oxalá, o feijão preto e a pipoca são para Omolú, o vatapá e o caruru são para Xangô, os acarajés para Yansã e o abará e o feijão fradinho para Oxum.

Depois de pronto, é servido primeiro para os santos, depois para os sete meninos, que precisam comer juntos, com as mãos. Só depois, o caruru é liberado para as demais pessoas. Os sete meninos representam os Ibejis, Taiwo, Kehinde, Idhoú, Alabá, Talabí, Adoká e Adosú. Também conhecidos como Cosme, Damião, Doú, Alabá, Crispim, Crispiniano e Talabi.

"O conjunto de comidas servidas no caruru significa o lado profano de nossa religião, sem ser necessariamente algo que desvirtue do sagrado ou quebre as regras da fé. É algo que expande, festeja a energia dos erês e do orixá Ibeji. É um momento de trazer as comidas votivas de uma forma divertida e repleta de alegria", conclui o Babá Alagi.

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