Caso Vitória: acusado nega autoria do crime e diz que secretário de Segurança prometeu apartamento por confissão
Em entrevista à Record, Maicol dos Santos afirma que foi coagido a assumir o crime

Foto: Reprodução/Youtube Domingo Espetacular
Maicol dos Santos, único preso pelo assassinato da adolescente Vitória Regina de Sousa, de 17 anos, negou a autoria do crime, em entrevista à TV Record, no domingo (1º), e disse que a confissão feita por ele foi forçada.
Segundo o acusado, um delegado, dois investigadores e o secretário de segurança de Cajamar prometeram aposentadoria para a mãe dele e um vale aluguel, caso ele assumisse que matou Vitória.
“Minha confissão foi baseada nos fatos que não só o delegado, mas como vários policiais e investigadores me induziram naquele momento [...] O secretário de segurança pública disse que a aposentadoria da minha mãe estaria garantida, que daria um vale-aluguel para ela”, disse.
A perícia encontrou material genético de Vitória no carro de Maicol e fotos da vítima no celular dele. Durante entrevista, ele disse que na noite do crime estava em casa, assistiu um jogo de futebol e foi dormir "acordei só no dia seguinte".
A confissão foi revelada pela Polícia Civil em 17 de março. No dia seguinte, durante coletiva de imprensa, os delegados Fábio Cenachi e Luiz Carlos do Carmo informaram que o depoimento ocorreu na madrugada, após a saída dos advogados da delegacia. A polícia alega que a defesa “abandonou” o cliente para tentar impedir a confissão.
No final do mês de março, a Polícia Civil divulgou um dos vídeos anexados ao processo do depoimento de Maicol onde ele confessa o crime. Na gravação, feita por investigadores na Delegacia de Cajamar, ele aparece de costas dentro de uma sala da delegacia. Veja o vídeo:
Desde a divulgação do vídeo, a defesa do suspeito nunca reconhece a legalidade da confissão e disse que o depoimento teria sido obtido com uso de coação. Além disso, a confissão apresentava uma série de inconsistências, como a quantidade de facadas deferidas contra a vítima — Maicol fala em duas, mas a perícia comprovou três —, sobre evidências encontradas no veículo, além de ter afirmado que enterrou Vitória, mas o corpo dela estava sobre o solo, em local diferente do que ele indicou.
Maicol foi indiciado por homicídio qualificado, sequestro e ocultação de cadáver e denunciado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) por feminicídio e outros três crimes.
No mês de maio, a defesa de Maicol anexou um pedido de anulação da denúncia do MPSP e apontou irregularidades no processo, sendo o interrogatório o ponto principal.
Em uma gravação de voz anexada no pedido de anulação, Maicol disse que uma autoridade policial ameaçou prejudicá-lo e dizer que a família dele ajudou a limpar a cena do crime. Segundo a defesa, câmeras da delegacia podem comprovar essa situação. O pedido ainda não foi analisado pelo juiz do caso.
O secretário de segurança de Cajamar, Leandro Arantes, desmentiu a versão de Maicol e apontou que toda a investigação do caso foi realizada pela Polícia Civil. Já o delegado Fabio Cenachi, responsável pela apuração, declarou que a denúncia contra o homem foi feita pelo Ministério Público e recebida pela Justiça.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) garantiu que todos os procedimentos seguiram o Código de Processo Penal e destaca que o caso foi concluído em abril, com o indiciamento de Maicol. Um novo inquérito investiga o possível envolvimento de outras pessoas na ocultação do cadáver.
A investigação apontou ainda que Maicol monitorava Vitória desde 2024 e apontou crime de stalking. Ele tinha cerca de 50 fotos de mulheres jovens em seu celular, todas semelhantes à vítima. Na entrevista, ele negou que conhecia Vitória e afirmou não saber como as fotos dela foram encontradas no celular que pertencia a ele.
"Não tem como ter fixação por uma pessoa que eu não conheço. Sou inocente de todas as acusações”, afirmou.
Além de Maicol, outras três pessoas já foram apontadas como suspeitas do crime pela polícia, inclusive o próprio pai da vítima. No entanto, todas as outras versões foram descartadas.
Relembre o caso
Vitória desapareceu em Cajamar, na noite do dia 26 de fevereiro, após sair do shopping onde trabalhava para retornar à casa dos pais. Câmeras de segurança gravaram o momento em que ela deixou o local onde trabalhava e caminhou até um ponto de ônibus.
Momentos antes de desaparecer, Vitória enviou áudios para uma amiga chorando e contando que foi seguida e assediada por homens que estavam em um carro.
Ela desceu sozinha no ponto final em Ponunduva, bairro da zona rural de Cajamar, onde morava com sua família. Depois não foi mais vista.
O corpo dela foi encontrado no dia 5 de março em uma área de mata, em estágio avançado de decomposição. Segundo as autoridades, o corpo estava nu e apresentava marcas de violência.
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