Censo 2022: populações de Salvador e outras três capitais caíram mais de 5% em 12 anos
Capital baiana foi a que registrou maior redução entre todas as capitais
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Na última semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os primeiros dados do Censo 2022 e revelou que as cidades de Salvador, Natal, Belém e Porto Alegre tiveram reduções populacionais acima de 5% nos últimos 12 anos. Na mesma perspectiva, mas com percentuais menores, o número de moradores em Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e Rio de Janeiro também encolheu no período.
Por outro lado, foram registrados aumentos tímidos, abaixo de 2%, nos estados de São Paulo e Curitiba, o que aponta uma sinalização do crescimento populacional.
No caso de Salvador, a cidade teve uma perda de 9,6% no número de moradores e foi a maior redução entre todas as capitais. No Censo 2022, foram observados aumentos nas populações de cidades como Lauro de Freitas e Camaçari.
Mas, ao considerar Salvador em conjunto com os municípios da região metropolitana, a perda total do número de moradores cai para 4,7%, bem inferior ao índice de 9,6% registrado de forma isolada pela capital baiana.
"Essa desconcentração da população é uma tendência geral de várias capitais. Esse movimento é observado no país como um todo, sobretudo no Sul e no Sudeste, mas também em outras regiões. Como explicar que Natal diminuiu a população, mas os municípios do entorno tiveram crescimento? A atração da região metropolitana não mais se direciona para sede. Não é só um movimento de população saindo da capital da sede para o seu entorno. Isso também ocorre. Mas as pessoas de cidades menores e de outras localidades que antes migravam para uma região metropolitana procurando a sede, hoje migram se fixando no entorno", observa o pesquisador do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Ricardo Ojima, à Agência Brasil.
Um caso parecido com o da capital baiana são as cidades de São Gonçalo do Amarante e Parnamirim, vizinhos a Natal, que chegaram a registrar crescimentos populacionais superiores a 20% nos últimos 12 anos. Em Belo Horizonte, o fenômeno se repete. A população da capital mineira encolheu 2,5%. Mas quando se considera Belo Horizonte e todas as cidades do seu entorno, o número de moradores cresceu 4,4%. Para o pesquisador, diferentes fatores explicam esse fenômeno.
"Um deles é a questão do custo de vida na sede metropolitana, que é mais elevado. O preço do solo é mais elevado. Como tem mais infraestrutura, há um impacto nos preços do mercado imobiliário. Então tem o tradicional movimento de periferização, com a população de baixa renda buscando localidades com menor custo, com habitação de valores mais baixos. Mas também tem um movimento das camadas de média e alta renda que estão se deslocando em busca de condomínios horizontais fechados nas áreas periféricas. E esses condomínios se expandem nas cidades do entorno porque as capitais não têm disponibilidade de terrenos que comportem esses empreendimentos".
O desenvolvimento de atividades econômicas e serviços nos municípios do entorno das capitais também é outro fator de atração populacional.
"É algo que também está relacionado a uma mudança naquele modelo padrão de cidades-dormitório. Antes, os municípios do entorno serviam basicamente como local de residência e quem morava lá se deslocava diariamente para trabalhar ou estudar nas áreas centrais. Hoje você tem uma complementaridade. Há um desenvolvimento de atividades econômicas e serviços nos municípios do entorno das capitais. Então há novos perfis de moradores para além daqueles que trabalham ou estudam na sede metropolitana", completa.