Chile vai às urnas para mudar Constituição
A campanha eleitoral entre os que desejam reforma e não desejam terminou na última sexta-feira (23)
Foto: Felipe Egaña Villagra
Chile, o país mais estável da América do Sul, foi sacudido em outubro do ano passado com manifestações contra o atual presidente Sebastián Piñera e o apático governo. Os protestos começaram em 2019 com um cenário semelhante aquele do Brasil em 2013: chilenos foram às ruas protestar contra o aumento dos bilhetes do metrô na capital Santiago e, em seguida, a pauta foi encorpada com críticas ao sistema de saúde, educação, truculência dos carabineros (polícia militar do país andino), entre outros temas ardilosos ao bem-estar social.
Em um ano, o Chile literalmente ardeu em chamas e o palco principal dos protestos na Praça Itália, que ganhou o ‘nome de guerra’, Praça da Dignidade, e no entorno, ali do lado da estação de metrô Baquedano, do bairro boêmio Bellavista (onde também estão diversas universidades) e do turístico Cerro San Cristóbal. Houve um período, entre os últimos meses de 2019, e novamente, neste mês de outubro, que os atos eram – e são – diários, que quase sempre terminam em confrontos com os policiais, pejorativamente chamados de ‘pacos’, em suas armaduras e caminhões.
A revolta dos chilenos não foi em vão. Em dezembro passado, um trêmulo Piñera anunciou um plebiscito para determinar se os chilenos querem alterar a atual Constituição do país, que está vigente desde o governo de Augusto Pinochet. A reforma da Carta Magna chilena é outra crucial reivindicação dos manifestantes. Aconteceria em abril, mas a pandemia obrigou o Congresso a mudar para este domingo (25).
A campanha eleitoral, dividida em ‘Apruebo’ (quer mudar) e ‘Rechazo’ (mantê-la intacta), terminou na última sexta-feira (23). Domingo os chilenos voltam às ruas para ir às urnas, e talvez retornar mais à noite à Praça da Dignidade, a depender do resultado.
O Farol da Bahia conversou com o chileno, morador de Santiago, Felipe Egaña Villagra, que participou de diversas manifestações, inclusive da de domingo passado, quando uma igreja foi incendiada em meio aos protestes pacíficos.
Ele viu, de longe, e conta que, “De repente a situação saiu do controle. Lamentavelmente, naquele dia, torcidas de dois mais populares clubes de futebol do Chile se enfrentaram em meio às manifestações, e foi um evento isolado, porque a grande maioria das pessoas protestavam pacificamente”.
No entanto, Villagra revela que nada de fato concreto se sabe sobre a queima da igreja (administrada pelos policiais), como quando começou e pessoas supostamente envolvidas. “Mas um detido no local era um funcionário do exército chileno”, conta. Ele é também crítico à atuação policial desde outubro de 2019. “É brutal. A violência na forma como reprimem já matou 33 pessoas e quase 500 com trauma ocular”.
Sobre o plebiscito, Villagra opina que o Chile precisa de uma constituição feita dentro de uma democracia. “A atual não nos representa e corrompe a todos os poderes do país. Evidente, mudar não é a solução para todos os problemas, mas pode ser, sim, um grande passo”.