Coronavírus

Ciência brasileira ganha destaque durante pandemia de Covid-19

A emergência evidenciou a capacidade do país de produzir ciência de altíssima qualidade e de alterar a prática clínica

Por Da Redação
Ás

Ciência brasileira ganha destaque durante pandemia de Covid-19

Foto: Warley Andrade/TV Brasil

A pandemia da Covid-19 deu à ciência brasileira um papel de destaque mundial na busca por soluções para uma crise sanitária nunca enfrentada pelas gerações dos últimos 100 anos. 

A partir do alarme mundial, feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS), da pandemia, os pesquisadores do Brasil passaram a realizar pesquisas clínicas de vacinas e tratamentos cujos resultados se mostraram extremamente relevantes para o combate da pandemia. Além disso, várias universidades estaduais e federais passaram a desenvolver, com uso de ciência e tecnologia, testes  para detecção do Sars-CoV-2, potenciais imunizantes e respiradores. 

De acordo com informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), atualmente 39 estudos clínicos de medicamentos e produtos biológicos, incluindo as vacinas e tratamentos contra Covid-19, estão em andamento no país. Outros 25 foram finalizados e 54 ainda não foram iniciados. 

Entre as vacinas contra a Covid-19, desenvolvidas com contribuição da ciência brasileira, estão a Oxford-AstraZeneca,  a primeira a ser testada no Brasil. A fase III do estudo recrutou mais de 10 000 voluntários em diversas regiões do país em tempo recorde. A celeridade da pesquisa brasileira permitiu a rápida comprovação da eficácia e segurança do imunizante e ele foi aprovado na Inglaterra ainda em 2020. Depois disso, vários desenvolvedores de vacinas que estão em uso também iniciaram testes no país, incluindo Pfizer-BioNTech, Instituto Butantan e Janssen.

Outro ponto a ser destacado são os testes clínicos realizados pela Coalizão Covid-19 Brasil, uma aliança para a condução de pesquisas que reúne o Einstein, HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a BP – Beneficência Portuguesa de São Paulo, o Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e a Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet), com hidroxicloroquina, azitromicina e dexametasona que contribuíram para a adoção de protocolos clínicos mais eficazes contra a doença.

“Fizemos o primeiro trabalho controlado e mostramos que a hidroxicloroquina não funcionava. A hora que isso foi exposto, o mundo olhou para nós e viu que somos capazes de fazer pesquisas de grande qualidade, com dados confiáveis, que cuidamos bem do paciente e, mais do que qualquer outra coisa, que temos bons profissionais de pesquisa aqui”, afirma o imunologista Luiz Vicente Rizzo, diretor-superintendente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein.

O aumento da publicação de artigos de grande impacto é outro legado deste período. O levantamento do Sírio-Libanês Ensino e Pesquisa, diz que a produção científica brasileira aumentou 24,6% em 2020 em relação ao ano anterior. Para fins comparativos, os Estados Unidos tiveram um aumento 14,8% no mesmo período.

Nas universidades públicas também houve grande mobilização. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), por exemplo, coordena o estudo com a vacina de Oxford no Brasil e está envolvida em mais de 200 pesquisas em Covid-19, incluindo vacinas, fármacos e os efeitos da pandemia na população. Segundo Soraya Smaili, professora de farmacologia da Unifesp e coordenadora do centro Sou_Ciência, as universidades públicas brasileiras realizaram mais de 1.400 projetos em Covid nos últimos 18 meses de pandemia.

O exemplo recente mais significativo da relevância da pesquisa clínica brasileira durante a pandemia é a publicação de um estudo com o medicamento tofacitinibe, da Pfizer. A pesquisa, coordenada pela Academic Research Organization (ARO) – divisão para realização de estudos clínicos no Brasil – do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, mostrou que o tratamento reduziu em 37% o risco de morte ou falência respiratória entre pacientes internados com quadros moderados de Covid-19.

“A produção e a divulgação da ciência brasileira nesse período de pandemia ajudaram a mostrar, com evidências, que a ciência é o que realmente nos tira a de uma situação como essa”, afirma o cardiologista Otávio Berwanger, diretor da Academic Research Organization (ARO) do Einstein.

Um dos principais legados da evolução da ciência brasileira neste período tão sombrio é a aproximação da sociedade com o universo científico. Em alguma medida, termos como ensaios clínicos ou pré-clínicos e teste duplo-cego passaram a ser conhecidos, permitindo ao menos o vislumbre de métodos nos quais a ciência séria se sustenta. “As pessoas não sabiam muito sobre ciência. Hoje, a percepção e o desejo de entendê-la é muito maior”, afirma Soraya Smaili. “É uma herança importante deste período. Quanto mais as pessoas entenderem, mais protegidas da desinformação e das fake news elas estarão.”

Os cientistas brasileiros já mostraram que fazem ciência de primeira linha. Agora, é preciso que sociedade e governos forneçam o apoio necessário para que o Brasil avance na geração de conhecimento.

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