Cientista da OMS afirma que “cenário mais plausível pode envolver ondas epidêmicas recorrentes”
Ela ainda destacou que é preciso engajamento da população
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A cientista-chefe e diretora executiva da Organização Mundial da Saúde (OMS), Soumya Swaminathan, afirmou que o controle total do novo coronavírus pode demorar até cinco anos. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, por e-mail, Soumya falou sobre aspectos relacionados aos cenários atual e futuro da pandemia.
Sobre o comportamento da população e o planejamento das autoridades públicas para tentar controlar a crise, ela disse que todos esses setores precisam estar engajados. “O envolvimento da comunidade é uma das medidas que precisa ser implementada para minimizar o risco de ressurgimento nos casos. As populações precisam estar totalmente engajadas e entender que a transição das restrições de movimento em larga escala e das medidas de saúde pública, da detecção e tratamento de casos graves à detecção e isolamento de todos os casos, é um 'novo normal' no qual medidas de prevenção devem ser mantidas, e que todas as pessoas têm papéis-chave na prevenção de um ressurgimento nos números de casos”, afirmou.
Quando questionada sobre um possível reaparecimento de pandemias, ela afirmou que a urbanização e as mudanças climáticas contribuem para o aparecimento de doenças. “A convergência da carga climática e desmatamento, densidade populacional, movimento populacional está impulsionando uma nova onda de eventos de emergência. A urbanização do mundo, o aumento da população global e as mudanças ecológicas, como as mudanças climáticas, contribuem para a transmissão de doenças. As mudanças climáticas e a urbanização provavelmente aumentarão a frequência e a intensidade dos surtos. Além disso, animais e humanos estão vivendo mais próximos um do outro. Vários vírus conhecidos, incluindo coronavírus, estão circulando em animais que ainda não infectaram humanos. À medida que a vigilância melhora em todo o mundo, é provável que mais vírus sejam identificados”, disse.
Ela comentou a situação de alguns países que começaram a flexibilizar as medidas restritivas e que cada nação deve avaliar os riscos. A cientista ainda afirmou que há riscos de ocorrem outras pandemias de Covid-19. “Todos os países têm diferentes curvas epidemiológicas e estão passando por diferentes cenários. Cada um de nós tem um papel a desempenhar para manter o vírus sob controle. Agora estamos na bifurcação da estrada. Para os países que estão diminuindo algumas das restrições, este é o ponto em que nossas ações e comportamento individual determinam o caminho a seguir, aquele que nos leva a um novo normal ou o que nos envia de volta às restrições em nosso movimento e interações sociais. Como Mike Ryan disse, os países que estão assumindo o controle de seus próprios riscos enquanto saem dos bloqueios se sairão melhor e poderão evitar grandes segundas ondas se puderem interromper a transmissão, através de um forte sistema de saúde pública capaz de detectar casos precocemente e uma população em alerta. Embora não se saiba como a pandemia continuará evoluindo, com base nas evidências atuais, o cenário mais plausível pode envolver ondas epidêmicas recorrentes, intercaladas com períodos de transmissão de baixo nível”, destacou.