Cientistas da Unicamp receberam cerca de 60 mil mensagens em canal de denúncia de fake news sobre Covid-19
Grupo de estudo afirmou que pseudociência se propaga como epidemia
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Pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp), realizaram um estudo para mapear a pandemia da desinformação, as fakes news, que estão presentes no cotidiano e assuntos essenciais da humanidade, seja na saúde ou nas eleições. A pesquisa comparou as notícias falsas com a epidemia, que aparecem como um pico de divulgação e depois diminui, assim como o número de infectados.
Uma das frentes de atuação dos pesquisadores é o mapeamento de desinformação que circula no WhatsApp sobre a pandemia do novo coronavírus. Para isso, foi criado uma linha de denúncia, onde já recebeu cerca de 60 mil mensagens.
Segundo a professora do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) Instituto de Geociências (IG) da Unicamp Leda Gitahy, colaboradora do grupo de estudos, a desinformação não é somente sobre notícias falsas, porque existem conteúdos verdadeiros que são retirados de um contexto e compartilhados depois de uma mudança de cenário.
O canal de denúncias criado pelo grupo foi aberto em março deste ano, com a chegada da pandemia de Covid-19. O objetivo é classificar os conteúdos de desinformação em "famílias" para encontrar padrões e motivações em comum. Na distribuição dessas informações para filtrar em 14 a 18 famílias, um deles aborda tratamentos milagrosos para Covid-19, como receitas caseiras e uso de remédios não comprovados cientificamente. Outro tem a afirmação de que o vírus foi criado pela China e um terceiro ataca o uso de máscaras.
O trabalho ainda segue em andamento, mas uma análise preliminar já identifica que as notícias falsas têm como objetivo diminuir a gravidade da Covid-19.
De acordo com o professor do Departamento de Física Aplicada do Instituto Gleb Wataghin (IFGW), da Unicamp, Leandro Tessler, um dos membros do grupo, o conjunto das fake news criam uma sensação de segurança em relação a pandemia. “Ou seja, é sempre na direção de minimizar a gravidade da pandemia e isso está alinhado a um discurso político que nós conhecemos muito bem aqui no Brasil”, disse.
Tessler acrescenta que a "versão" das fake news no campo da ciência, descrito como pseudociência, também circula nas redes e alimenta a desinformação.
“Você tem uma série de atividades humanas que se transvestem de ciência, quer dizer, vestem a roupa da ciência sem seguir os cânones científicos. (...) Esse tipo de atividade pseudocientífica vem acontecendo há muito tempo, por isso eu me interessei sobre a divulgação científica como um possível caminho para mitigar esse efeito”.
Ainda segundo ele, a pseudociência pode "afetar a percepção que as pessoas têm do mundo”. Isso porque a pseudociência é comparada a epidemias, que avançam de forma descontrolada e têm picos antes de desacelerar. “Pessoas com outros interesses vêm tratando disso como se fossem evidências científicas. Ciência mal feita, artigos mal escritos, como se tivessem evidência para coisas que não têm", destacou Tessler.