Cientistas realizam experimento para entender mudanças climáticas na Amazônia
Objetivo é avaliar, por uma década, impacto do aumento de CO² na atmosfera
Foto: Maria Clara Ferreira Guimarães/AmazonFACE
Um experimento inédito está sendo conduzido por pesquisadores da Unicamp, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o governo britânico, em busca de abrir um "portal" para 2060 e entender os efeitos das mudanças climáticas na floresta do Amazonas. As informações são do g1.
Chamado de AmazonFACE (acrônimo para free air CO₂ enrichment, em inglês, ou enriquecimento de CO₂ ao ar livre), o experimento científico conta com 96 torres metálicas cerca de 80 km ao norte de Manaus, e deve durar pelo menos 10 anos.
As estruturas estão na fase final de instalação e a previsão é que o experimento comece em maio de 2025. O objetivo inicial é avaliar como a floresta vai reagir ao aumento de 50% na concentração de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera esperado para os próximos 35 anos.
Para isso, os pesquisadores iniciaram a construção de seis estruturas – chamadas de anéis, com 30 metros de diâmetro cada – compostas por 16 torres de alumínio de 35 metros de altura dispostas em um círculo. A infraestrutura também conta com quatro guindastes de 45 metros de altura.
Três anéis serão enriquecidos com CO₂ líquido, armazenado em tanques grandes, isolados e vaporizados por meio de uma rede de tubos, sendo dois canos por torre. Já os outros três anéis vão acompanhar o comportamento da floresta sem o enriquecimento.
Os pesquisadores buscam responder a uma pergunta: como o aumento do CO₂ atmosférico afetará a resiliência da floresta Amazônica, a biodiversidade que ela abriga e os serviços ecossistêmicos que fornece diante das mudanças climáticas?
A equipe escolheu a Amazônia por uma necessidade de resolver “uma das maiores fontes de incerteza em relação ao futuro do Amazônia, que é o potencial efeito que o aumento de gás carbônico na atmosfera teria em segurar os efeitos ruins de mudanças climáticas na região sobre a floresta”, de acordo com David M. Lapola, coordenador científico do experimento.
Isso significa que, embora estudos apontem um risco substancial de que a floresta entre em colapso por conta das mudanças climáticas, teorias também apontam que o aumento de CO₂ na atmosfera pode fazer com que a Amazônia se torne mais resiliente às secas.
"O efeito do aumento de temperatura, redução de chuva, tende a ser ruim, no sentido de reduzir a produtividade das árvores, favorecer mortalidade. E, teoricamente, e só teoricamente, o aumento de gás carbônico propicia uma coisa que se chama efeito de fertilização por CO₂", afirma o coordenador científico do experimento.
O experimento reúne aproximadamente 130 pessoas, incluindo pesquisadores, estudantes e cientistas sociais de cerca de 40 instituições.