Codevasf destina 39% dos produtos à Bahia durante governo Lula

A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) destinou uma quantidade significativa de máquinas, veículos e equipamentos para o estado da Bahia nos três primeiros meses do governo Lula, em meio a uma disputa política pelo controle da estatal. Nesse período, a Bahia recebeu sozinha 39% do valor total dos produtos entregues pela companhia em 2023, o equivalente a R$ 41,8 milhões dos R$ 106 milhões utilizados para esse fim. 

No governo de Jair Bolsonaro, no mesmo período do ano anterior, a Bahia ocupava a quarta posição no ranking de distribuição, com doações no valor de aproximadamente R$ 10 milhões. No entanto, ao final de 2022, o estado dividia a liderança com Minas Gerais, ambos com 17% do valor total das doações.

Além da Bahia, a área de atuação da Codevasf abrange outros 14 estados e o Distrito Federal. Em 2023, Minas Gerais ficou em segundo lugar, recebendo 19% do total (R$ 19,2 milhões), enquanto Pernambuco e Goiás receberam 12% cada.

A Codevasf justifica que a distribuição dos equipamentos ocorre de acordo com as demandas e emendas parlamentares. No entanto, o direcionamento preferencial para a Bahia acontece em meio a uma disputa política no estado pelas superintendências locais da companhia. Essas superintendências continuam sendo comandadas por aliados de deputados federais da União Brasil, grupo que faz parte do centrão, indicados ainda na gestão de Bolsonaro. O Partido dos Trabalhadores (PT) reivindica o controle de ao menos uma dessas superintendências.

A briga pelos cargos tem relação com as eleições municipais de 2024 na Bahia, uma vez que a chefia regional da Codevasf é vista como uma vantagem para liberar recursos e equipamentos para prefeitos e líderes políticos aliados, aumentando o poder de influência dos deputados. Enquanto os deputados da União Brasil veem a manutenção do controle das chefias locais como um contraponto ao poder do governador Jerônimo Rodrigues (PT), o PT busca garantir seu espaço na estatal.

A distribuição de equipamentos pela Codevasf também enfrenta problemas de fiscalização, pois cerca de 70% das doações feitas pela regional na Bahia foram direcionadas para entidades privadas, como associações de moradores, comunitárias e cooperativas, dificultando a transparência e controle sobre o uso desses bens. Auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) encontrou equipamentos em propriedades particulares, incluindo a de um vereador, além de indícios de cobrança de aluguel.