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Cultura

Como Brasil e China firmam laços com coproduções e distribuição de cinema

O produtor Nelson Sato visitou Pequim de olho no que os chineses têm para o mercado brasileiro

Por FolhaPress
Ás

Como Brasil e China firmam laços com coproduções e distribuição de cinema

Foto: Imagem ilustrativa/ Pexels Tima Miroshnichenko

O produtor e distribuidor Nelson Sato, conhecido por levar para o Brasil desde "National Kid", a série japonesa de 1960, e "Akira", animação de 1988, até "Godzilla Minus One", filme lançado no ano passado, visitou Pequim de olho no que os chineses têm para o mercado brasileiro. E, mais importante, buscando parceiros para uma primeira produção comercial sino-brasileira.

"Estamos analisando alguns filmes chineses para distribuir na América Latina", diz ele. "Em coprodução, estamos ajustando um projeto para se adequar às regras de aproximação com os principais players da China. Será uma ficção com tema familiar e inspiracional. Ainda não podemos compartilhar detalhes."

Sato não quis citar o valor da produção nem os brasileiros envolvidos, "mas será atendido o mínimo pedido", por exemplo, "um terço de talentos e profissionais da China". "Será uma história qu‎e gera interesse no público chinês", diz, citando a principal motivação para o esforço de aproximação, acertado pelos presidentes Lula e Xi Jinping no ano passado, na capital chinesa.

Sato veio com outros quatro produtores e distribuidores para o festival de Pequim, que homenageou o Brasil e teve como integrante do júri o diretor Carlos Saldanha. Vieram também representantes do Ministério da Cultura.

O governo brasileiro, diz ele, mostrou "grande interesse em viabilizar negócios neste gigantesco mercado, maior que os Estados Unidos, em especial levando conteúdos brasileiros ou coproduções". Os programas de incentivo estatal para viabilizar as coproduções já estão à disposição na China, mas seguem lento processo em Brasília, onde ainda terão que sair do Executivo e passar pelo Legislativo.

Sato não vai esperar, daí a visita de caráter comercial a Pequim, atrás de filmes para exibir com suas últimas aquisições feitas no Japão, como "Família", e na Coreia do Sul, como "Força Bruta". Os filmes da Sato Company em geral estreiam no Sato Cinema, na Liberdade, no centro de São Paulo, e seguem depois para circuito e, eventualmente, Netflix.

O distribuidor não quis citar os títulos que negocia trazer, mas um filme que aguarda estreia no Brasil é "Terra à Deriva 2", segunda maior bilheteria chinesa no ano passado e nona no mundo.

É também a produção que escancara o esforço de Pequim para aproximar seu cinema com o de outros países emergentes, como alternativa a Hollywood para o público chinês.

A trama precede aquela de "Terra à Deriva", de 2019, ambos os filmes inspirados numa obra homônima de ficção científica de Liu Cixin o mesmo de "O Problema dos Três Corpos", recém-adaptado pela Netflix. Além dos protagonistas chineses, tem um personagem russo, um africano, de Zâmbia, e a astronauta brasileira Emília Soares.

A personagem só foi surgir nos últimos meses de filmagem, em 2022, final da pandemia. Brasileira estabelecida em Pequim há vários anos, Daniela Tassy, após algumas pontas em filmes e séries, de empregada doméstica a diretora de hospital, fez um teste para uma rápida aparição como repórter —e, já no set, foi surpreendida com o papel criado de última hora pelo diretor.

"Levei um tempo para perceber a grandiosidade da coisa", diz ela. "Também foi uma carga grande ter a bandeirinha do Brasil no uniforme." A filmagem foi em Qingdao, uma das cidades cinematográficas do país, entre Pequim e Xangai. Foram cenas grandiosas, no elevador espacial, na Lua e na água. "Você pode fazer uma cena em alto mar num estúdio lá."

Dirigido por Guo Fan e protagonizado por Wu Jing, ator que concentra hoje os blockbusters e as campanhas publicitárias no país, "Terra à Deriva 2" mostra ao longo de três horas como a humanidade se une para sobreviver à expansão do Sol, que ameaça destruir o planeta. São construídos milhares de motores gigantes para colocar a Terra a salvo.

Questionada sobre a aproximação sino-brasileira em cinema, a atriz diz que "falta encontrar as pessoas certas para fazer o elo". Reclama que o filme ainda não chegou ao seu próprio país, mais de um ano após estrear aqui. "Falam que não tem mercado no Brasil. Ao contrário, os grupos de 'dorameiros' no Facebook estão aí para mostrar. O dorama, o drama tanto coreano como chinês, mobiliza principalmente as mulheres."

Para ela, Brasil e China já estão perdendo diversas oportunidades de coprodução. "Lamento muito por não existir ainda essa ligação mais estreita na indústria cinematográfica", diz. "Imagina, fazer uma produção brasileira aqui na China, o inverso também. Juntar diretores brasileiros e chineses e fazer."

"Terra à Deriva 2" foi saudado como um salto nas grandes produções chinesas, em parte pelo avanço em efeitos visuais, evidenciado na comparação com o primeiro filme. Um dos profissionais responsáveis foi Frankie, como ele pediu para ser chamado, formado pela Academia de Cinema de Pequim e presente em outros blockbusters, como "A Batalha do Lago Changjin 2".

Segundo ele, a indústria chinesa de efeitos "cresceu muito nos últimos dez anos, e a distância para Hollywood foi ficando menor". A grande diferença é que "seu estilo é totalmente asiático, em relação ao americano, que é mais próximo do real, mais documentário". Mas Frankie diz que, "para ser sincero, nos últimos dez anos os filmes chineses passaram a usar efeitos demais, quebraram o equilíbrio".

Questionado sobre o intercâmbio com o Brasil, ele afirma que pouco conhece além de "Cidade de Deus", futebol e jiu-jitsu brasileiro, popular na China. "No passado, o governo chinês abriu os portões para o mundo, convidando muitos diretores famosos, e deveria agora abrir sua mente para outras culturas".

Também presente em Pequim, o secretário-executivo adjunto do Ministério da Cultura, Cassius Rosa, disse que os acordos sino-brasileiros "preveem uma profunda integração entre os dois países", inclusive as coproduções, que "vão facilitar muito a entrada no mercado chinês". A começar do cinema brasileiro mais comercial.

O MinC se esforça para correr com os projetos de estímulo, analisando até uma possível aprovação sem ter que ir para plenário. "Aqui, pela contraparte chinesa, já passou por todas as etapas", diz.
 

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