Congresso do Peru derruba a presidente Dina Boluarte; chefe do parlamento assume cargo
A votação e a cerimônia de posse ocorreram pouco depois da meia-noite desta sexta-feira (10)

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Os parlamentares do Peru empossaram o chefe do Congresso, José Jeri, como o novo presidente do país menos de uma hora após votarem unanimemente pela remoção da presidente Dina Boluarte, uma das líderes menos populares do mundo.
A votação e a cerimônia de posse ocorreram pouco depois da meia-noite desta sexta-feira (10), apenas algumas horas depois que blocos políticos de todo o espectro apresentaram pela primeira vez moções para a remoção de Boluarte por motivos de incapacidade moral.
Jeri, que se torna o sétimo presidente do Peru desde 2016, sinalizou que adotaria uma abordagem dura em relação à crescente insegurança, uma das principais críticas dirigidas contra Boluarte. Ele discursou no Congresso usando a faixa da bandeira nacional.
As quatro moções de vacância contaram cada uma com mais de 100 votos de 122 possíveis na sessão parlamentar.
"O principal inimigo está lá fora nas ruas: gangues criminosas", disse. "Devemos declarar guerra ao crime".
O membro de 38 anos do partido conservador Somos Peru, que se tornou presidente do Congresso em julho, junta-se ao grupo dos chefes de Estado mais jovens do mundo.
Multidões se reuniram do lado de fora do Congresso e da embaixada equatoriana, onde havia rumores de que Boluarte poderia buscar asilo, alguns em clima de celebração agitando bandeiras, dançando e tocando instrumentos.
Pouco depois de o Congresso votar por sua remoção, Boluarte fez um pronunciamento no palácio presidencial onde reconheceu que o mesmo Congresso que a havia empossado no final de 2022 agora havia votado por sua remoção, "com as implicações que isso tem para a estabilidade da democracia em nosso país".
"Em todos os momentos, clamei por unidade", disse ela.
Legisladores de todo o espectro político haviam convocado Boluarte na noite de quinta-feira (9) para se defender perante o Congresso naquela mesma noite. Ela não chegou, e os legisladores tiveram votos suficientes para prosseguir com um rápido processo de impeachment.
Boluarte, de 63 anos, é profundamente impopular, com índices de aprovação entre 2% e 4%, após acusações de que lucrou ilicitamente com seu cargo e é responsável por repressões letais a protestos em favor de seu antecessor.
Ela nega qualquer irregularidade.
"Sou a mulher que em 7 de dezembro de 2022, corajosamente assumiu o mandato constitucional como presidente da República, em uma sucessão constitucional após um cenário de golpe de Estado, recebi com honra a faixa presidencial pelo Congresso da República. O mesmo Congresso que hoje aprovou a vacância, com as implicações que isso tem para a estabilidade da democracia em nosso país", discursou Boluarte após a decisão.
Segundo ela, apesar da baixa popularidade, seu governo contribuiu para a estabilidade do país. "Em todos os momentos invoquei a unidade, para trabalhar juntos, para lutar pelo nosso país, neste contexto não pensei em mim, mas nos mais de 34 milhões de peruanos que merecem um crescimento com estabilidade democrática e com um governo que funcione sem corrupção como temos feito", acrescentou.
A votação do Congresso pela remoção marca uma reviravolta depois que os legisladores rejeitaram uma série de moções anteriores. Nenhuma das quais chegou à fase de debate.
O último impulso foi marcado pela participação de partidos de direita que historicamente a apoiaram, incluindo a Renovação Popular de Rafael López e a Força Popular de Keiko Fujimori. Ambos os pesos-pesados políticos devem concorrer à presidência nas eleições presidenciais de abril de 2026.
Boluarte chegou ao poder em dezembro de 2022 quando seu antecessor, o presidente Pedro Castillo, sob o qual ela própria havia sido vice-presidente, foi destituído e preso após tentar dissolver o Congresso.
A remoção de Castillo foi recebida com meses de protestos generalizados e mortais, particularmente em comunidades rurais andinas e indígenas, e grupos de direitos humanos acusaram o governo de Boluarte de usar força excessiva para reprimir os protestos.
"A remoção ou renúncia da usurpadora sempre foi uma reivindicação popular. Nesse esforço, os filhos e filhas do povo derramaram seu sangue e perderam suas vidas a mando de um governo. Hoje, a hipocrisia dos golpistas que levaram Dina Boluarte ao poder, vendo que o fim e a justiça eventualmente se aproximarão deles, busca apagar seus rastros da ditadura", comemorou Castillo no X.
O desgaste político de Boluarte aumentou devido a escândalos de corrupção, incluindo a investigação sobre enriquecimento ilícito. A política negou as acusações, mas seu governo enfrentou críticas pela falta de diálogo com a população e por sua resposta repressiva a protestos, fazendo com que ela se distanciasse de sua base.
Ela buscou apoio de partidos conservadores como Força Popular e Aliança para o Progresso. A tentativa de somar aliados, no entanto, não foi suficiente para manter seu governo, em meio ao aumento da criminalidade e do descontentamento social.
Uma controvérsia significativa foi o aumento em quase três vezes de seu salário presidencial, intensificando a insatisfação popular. O governo Boluarte deixa o país mais polarizado, com instituições enfraquecidas e a população descontente.