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Cotidiano tenso de Salvador é retratado nos contos de Relatos da Guerra Preta ou Bahia Baixa Estação, de Nelson Maca

Aos detalhes...

Por Michel Telles
Ás

Cotidiano tenso de Salvador é retratado nos contos de Relatos da Guerra Preta ou Bahia Baixa Estação, de Nelson Maca

Foto: Leo Ornelas

 Da morte violenta às humilhações nas batidas policiais; a busca por uma internação num hospital, por um enterro digno ou pela reintegração social. Estas e outras tensões do cotidiano do povo preto de Salvador permeiam os 19 contos de Relatos da Guerra Preta ou Bahia Baixa Estação, novo livro do professor e militante Nelson Maca, 55 anos, que terá lançamento no dia 10 de dezembro, com a ocupação Tabuleiro Bélico, no Terreiro de Jesus, das 10h às 17h.  

     O conjunto de textos dialoga com a realidade geográfica e simbólica da Bahia Preta, como o autor define o universo em que seus personagens transitam. Relatos da Guerra Preta funda-se na ideia central de como o preconceito, a discriminação e o racismo se perpetuam como elementos estruturantes da nossa sociedade.

     As histórias são inspiradas em relatos ouvidos e presenciados pelo autor em suas incursões pela cidade. Textos como Passagem do Meio, Farinha do Desprezo, Carterada, Saidêra e Tá na UTI Graças a Deus que, de diferentes maneiras, retratam a luta pela sobrevivência da população negra como um ato bélico numa experiência de cidadania desde sempre inconclusa.

     Na visão geral do livro, a realidade do soteropolitano serve como metonímia da estrutura sócio-racial forjada no Brasil colonial e que se mantém até hoje. Relatos da Guerra Preta faz um panorama objetivo da herança de violência, miséria e rejeição recebida pela comunidade negra. Com esses fios históricos, Maca traça sua teia de conflitos calcada no que o escritor Marcelino Freire, que assina o texto de apresentação do livro, interpreta como escrevivência, ao aproximá-lo da escrita de Conceição Evaristo. O texto da orelha é do escritor mexicano Alejandro Reyes e o posfácio da professora baiana Ana Carla Portela.

     “Procuro me inserir no debate literário em torno da negritude cotidiana, principalmente na luta do povo negro pela sobrevivência em pleno século XXI. Essa batalha cotidiana para se manter vivo é o que chamo de Guerra Preta”, afirma Maca. Um dos mecanismos que ele utiliza para isso é figurar como narrador e também personagem de alguns contos.

     “O que busco é um híbrido, até porque todos os argumentos e assuntos do livro partem de experiências que tive ou que me foram relatadas. Logicamente, há muito espaço para a fabulação, mas uma das estratégias narrativas do livro é o aproveitamento de biografias”, reflete. “Outro objetivo é a busca de uma prosódia específica, porém, se possível, não estereotipada em excesso”, completa.

     O livro é dividido em oito partes, cada uma explorando um conceito do universo bélico: Correspondente, Trincheira, Batalha, Recuo, Retaguarda, Confronto, Baixas e Trégua. Segundo o autor, a intenção é generalizar o conceito de guerra, mostrando a luta, por todos os meios possíveis e necessários, para se manter vivo e ter alguma qualidade de vida. E não julgar ou condenar comportamentos e atitudes dos personagens -  narrados a partir da ética própria do universo em que circulam no mundo e no texto.

     Adepto do conceito e estudioso da Literatura Negra, Nelson Maca procura construir negritude em seus textos: na temática, no vocabulário, na sintaxe e no ritmo. “Interessa-me profundamente como se dá e até aonde vai o convívio entre ética e estética na poética da negritude, no estilo e na percepção de mundo”, diz Maca, que lançou em 2015 o livro Gramática da Ira e, em 2019, o libreto Go Afrika, ambos de poemas.    Relatos da Guerra Preta ou Bahia Baixa Estação estampa em sua capa a  tela Espanto, da pintora Ayeola Moore, de Guadalupe. A arte da capa é do designer Welon Santos e a diagramação e arte geral de Francisco Benevides e Andrew César. O livro é a terceira publicação do autor e do selo Blackitude.     

Nelson Maca -Poeta e professor de Literatura. Ensinou na Universidade Católica de Salvador de 1995 a 2019. É fundador do Coletivo Blackitude: Vozes Negras da Bahia, que realiza o Sarau Bem Black, o Slam Lonan e outras ações artísticas e de formação sócio-racial através das linguagens da cultura hip hop. Criou e coordenou o evento infantil Sarau Bem Legal, que aconteceu durante cinco anos na Biblioteca Infantil Monteiro Lobato. Há mais de 30 anos promove e participa de eventos da negritude - seminários, workshops, cursos, shows. Com o escritor Marcelino Freire, organiza a Balada Literária da Bahia, evento completou sua sexta edição em 2020. Lançou Gramática da Ira em 2015 e Go Afrika em 2019 (ambos de poemas). Desde 2014, apresenta as performances CandomBlackesia, inaugurada no XX PERCPAN, e Tamborismo, em dupla com o Mestre percussionista Jorjão Bafafé. Em 2018 viajou o Brasil com a performance Na Rota da Rima, pelo projeto Arte da Palavra, do SESC. Em julho de 2019, participou do Festival Internacional de Poesia e Artes Performativas de Moçambique, na cidade de Maputo.

FICHA - LANÇAMENTO

Livro: Relatos da Guerra Preta ou Bahia Baixa Estação
Autor: Nelson Maca
Selo: Blackitude

Quanto: R$ 40 + taxa de entrega ou postagem.                                                             

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