Democracia: o governo dos insatisfeitos

Confira o artigo de Mateus Oliva

Por Da Redação
Ás

Democracia: o governo dos insatisfeitos

Foto: Divulgação


"Multidões nunca têm senso; elas apenas seguem seus instintos e paixões."
(Arthur Schopenhauer – Parerga e Paralipomena, Volume 2)

Democracia é o menos imperfeito dos sistemas. Todos são falhos, mas a democracia é o que funciona menos pior. O maior perigo que ela enfrenta hoje talvez seja a distorção de seu significado mais básico: governo do povo. Esse risco cresce em tempos de revisionismo histórico, “opinionismo" categórico e manipulação descarada de dados para sustentar narrativas ideológicas maliciosas.

Ela exige que se aceite seu sabor amargo, assim como o gosto da saliva metálica na quimioterapia, necessária para combater forças destrutivas. Se pesquisas eleitorais fossem realizadas em Unidades de Terapia Intensiva, talvez os resultados refletissem perspectivas mais iluminadas. Diante da morte o espírito humano se ilumina. Daí os estoicos estarem em voga: memento mori — lembre-se de que vai morrer.

Schopenhauer, filósofo germânico, cético das virtudes humanas, curiosamente, seu sobrenome pode derivar de Schopft (ceifar) e Hauer (celeiro), sugerindo a imagem de um “ceifador de celeiros”. Talvez sua sina fosse, metaforicamente, destruir o paiol, ou a paróquia da humanidade, para admirar o céu.

Foto: “Para qual lado você torce?” - Praia de Busca Vida - Matheus Oliva

O amargor da democracia reside em sua regra. Um único voto, além da metade, define quem governa o todo. Os eleitos são encarregados de governar para pessoas satisfeitas e insatisfeitas, trabalhadoras e preguiçosas, cultas e ignorantes, privilegiadas e marginalizadas, do bem e do mal, sulistas, nortistas, sudestinos, nordestinos e centro-oestinos, rurais e urbanos. Governam para todas as almas que constituem uma nação, sem exceção.

A liberdade de expressão é um pilar da democracia. Controlar uma é ruir a outra. Quando uma “frente ampla democrática” — expressão que soa mais como nome de bloco carnavalesco — propõe regulamentar o que se pode ou não dizer, algo fundamental está sendo violado. Pior, togados, Ministros do Supremo Tribunal Federal não podem impor convicções pessoais no exercício do seu ofício. Sua função é interpretar a Constituição com notório saber e imparcialidade, nunca legislar sobre a liberdade de expressão além do que já está previsto.

Controlar discurso é um desperdício da contribuição regiamente paga pelos cidadãos e empresas que sustentam o Estado e dele esperam não apenas liberdade, mas também qualidade e produtividade. Um Ministro do Supremo Tribunal Federal que impede livre manifestação constitucional é equivalente, no reino animal, a um cachorro atacar o outro por causa do latido. Em um plano mais grave, lembra o atentado de 7 de janeiro de 2015, quando terroristas do Estado Islâmico massacraram os jornalistas do periódico satírico Charlie Hebdo, em Paris, cidade das luzes, por uma charge sobre Maomé. 

Trevas. Hoje, o Estado Islâmico governa partes do Iraque sob um califado cruel, onde liberdades individuais, mulheres, minorias, ciência e propensões homoafetivas são esmagadas. Na Mesopotâmia, berço da civilização, persiste uma tirania que afronta tudo o que a democracia defende. Ironicamente, foi ali que nasceu Jesus Cristo, séculos antes de Maomé. A história nos ensina que a liberdade não é gratuita, mas sagrada.

Ainda mais irônico é que a “frente ampla democrática”, originada no sindicalismo, agora enfrenta insatisfação generalizada do sindicato dos servidores do IBGE. Sob a gestão de Márcio Pochmann, que decidiu criar um braço privado da estatal para captar recursos, o órgão mergulhou em uma crise identitária institucional e confunde emprego com assistencialismo social. Pochmann, cujo sobrenome germânico pode derivar de Poch (martelar) e Mann (homem), poderia ser chamado, em uma interpretação livre, de “homem martelador”… de números. Assim, o IBGE se transforma em palco de manipulação estatística para uma plateia que aplaude sem entender.

Talvez seja hora de derrubar o celeiro e olhar para o céu. Afinal, nesta noite de 25 de janeiro, os planetas do sistema solar estarão mais visíveis, oferecendo belas imagens — mas não alinhados, como afirmam os desinformados das redes sociais. É fácil se iludir com os astros, assim como é fácil confundir uma toga com uma burca, uma esmola com uma renda.

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