Dia das Mães: Fernanda Montenegro recita crônica de Drummond sobre relação de maternidade
Poeta mineiro escreveu texto em 1954, seis anos após morte da mãe
Foto: Reprodução/Redes Sociais
A atriz Fernanda Montenegro publicou um vídeo nas redes sociais, neste domingo (11), data de celebração do Dia das Mães, onde lê e interpreta uma crônica de Carlos Drummond de Andrade intitulada "Mãe".
Fernanda Montenegro tem dois filhos, sendo mãe da atriz Fernanda Torres e do diretor, roteirista e produtor Cláudio Torres. O texto lido, foi escrito em 1954, e fala sobre a relação entre mães e filhos.
O texto recitado por Fernanda Montenegro foi escrito por Carlos Drummond de Andrade, após seis anos da morte da mãe do poeta, Julieta Augusta Drummond de Andrade.
Confira na íntegra trecho lido por Montenegro:
"Pouco pensei em ti hoje, do muito que gostaria de pensar. Tua lembrança caminhou algum tempo comigo, mas era antes o desejo seu de uma convivência mais íntima, repetida e tranquila com a tua essência que mantém eu tão abafada sob interesses imediatos. Perdoa-me não amar-te como queria, tanto mais quanto sou eu mesmo que me reduzo e me empobreço com esta falta. Pensei, sobretudo, na distância de tempo que nos separa do dia do teu nascimento, há oitenta e cinco anos.
Nesse espaço, uma criança vem ao mundo, torna-se órfã e se faz moça, casa-se, os filhos vêm chegando... A maior parte deles morre cedo, outros crescem. Crescem para ligar suas vidas com a tua e depois separá-las, cada um no seu rumo. Por fim, és tu mesma que te retiras, enquanto um ramo da tua vida aqui está, nesta cidade que nunca viste. E poucos são os que te conhecem. E sabem sequer que exististe um ramo a lembrar o curso humilde da tua vida caseira à sombra do homem forte que também lá se foi antes de ti. Os dois hoje integrados no mesmo pó que me espera.
Foi a 85 anos. O que passou? Não passou? Ou tudo que vivemos é sempre espaçado sem a impureza do suposto presente? Vou me aproximando de ti porque envelheço e minha vida volta às origens. Abençoa-me, acaricia-me, porque sou sempre criança a teus olhos. Enquanto o velho em mim se confirma e se dentro de mim existes, em ti também vou existindo e nossas vidas se confundem, apesar do muito que te esqueço."
Veja vídeo:
