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Dia das Mães: o sonho da maternidade realizado na adoção

Na Bahia, 33.743 inscritos aguardam por uma criança ou adolescente na fila de adoção

Por Lara Curcino
Ás

Dia das Mães: o sonho da maternidade realizado na adoção

Foto: Arquivo/Agência Brasil

Um dos grandes sonhos da vida da publicitária Fernanda Ramos sempre foi ser mãe. Em 2013, quando recebeu o diagnóstico de que não poderia engravidar por questões de saúde, ela pensou em desistir do desejo. Porém, ter contato com uma família que passou pelo processo de adoção fez com que ela transformasse o conceito que tinha de maternidade e desse um passo que mudou os rumos da sua história.

Neste domingo (14), Fernanda terá o seu oitavo Dia das Mães. Isso porque, em janeiro de 2014, ela e o marido entraram com um processo de adoção. Em junho de 2015, a boa notícia finalmente veio: a Vara da Infância avisou que encontrou uma criança no perfil que eles haviam definido e que chegou a vez deles.

“Fomos conhecer nossa pequena Esther, de dois anos, e assim que eu a vi eu descobri que a maternidade é a coisa mais potente que pode existir. Quando nosso olhar se encontrou, tudo se transformou em mim e ali mesmo eu já era mãe e é como se eu conhecesse ela desde sempre. Sei que muita gente tem o pensamento que eu costumava ter de que o sentimento é diferente, de que vai existir o incômodo pelo filho não ter vindo do seu ventre, mas nada disso importa mais. Eu falo que a conexão é ainda maior, porque ela nasceu separada de mim e a força do universo nos uniu, um encontro para toda a vida”, contou Fernanda.

Processo de adoção

Para adotar, Fernanda e diversas outras pessoas precisaram passar por um processo longo e criterioso, como explica Jozias Sousa, diretor presidente da Organização de Auxílio Fraterno (OAF), que acolhe crianças e adolescentes.

“A pessoa ou casal que desejar adotar procura a Vara da Infância e inicia o processo de habilitação. É preciso preencher dados pessoais, pontuar o perfil de criança ou adolescente, passar por consultas com psicólogo. É um processo muito sério, que às vezes dura mais de dois anos e precisa ser atualizado para que a pessoa inscrita se mantenha na fila. Para adotar, é preciso comprovar que tem condições financeiras para sustentar um filho e ser maior de idade”, detalhou ele.

Quando chegar o momento da pessoa que está na fila, Jozias explica que o juizado entra em contato para que sejam iniciadas as visitas de familiarização entre o adotante e a criança ou o adolescente.

"O juizado liga e diz que encontrou uma criança que se encaixa no perfil. A pessoa, então, vai até a instituição de acolhimento para conhecê-la. Depois de um período de contato entre as duas partes, aí sim o adotante vai decidir se realmente vai levar o processo até o fim. Caso queira, passam a ser mãe/pai e filho e a criança estará autorizada a ir para casa", detalhou Jozias.

Fila e perfil

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na Bahia, 33.743 inscritos aguardam na fila de adoção. Destas, 88,2% são casais e 11,8% são de cadastros individuais.

Jozias ressaltou que o tempo para que um processo de adoção seja concluído varia muito, principalmente de acordo com o perfil apontado pela pessoa que está na fila. “A maioria opta por recém-nascido, então a espera é muito mais longa e pode durar anos, enquanto pessoas que buscam crianças já no fim da infância ou adolescentes podem concluir o processo em poucos meses.

Mãe solo, a enfermeira Débora Brasil assinalou no documento de habilitação a preferência por adolescentes acima de 14 anos. Ela deu entrada no processo em fevereiro de 2016 e conseguiu adotar Ana, de 15 anos, oito meses depois.

“Sei que muita gente tem preconceito, mas esses adolescentes também merecem receber a oportunidade de ter uma família. Me sinto mãe tanto quanto qualquer outra e me sinto contemplada com a maternidade através do amor que eu e minha filha cultivamos uma pela outra. A parceria que construímos é incrível e eu não trocaria a minha decisão por nada. Não vou dizer que é fácil, pois sei que crianças são mais maleáveis, não têm conhecimento sobre muita coisa e a cabeça ainda está longe de estar formada. Mas todas as fases da vida são difíceis e lidar com outro ser humano tem seus desafios independente do contexto. O importante é saber que o nosso laço de mãe e filha não será quebrado por nada e, desde o início, trabalhamos juntas nesta relação”, relatou Débora.

A economista Paula Araújo, hoje com 32 anos, foi adotada aos sete também por uma mãe solo. Ao falar sobre o assunto, ela se emociona até hoje e, com os olhos marejados, explica que, quando deixou a casa de acolhimento para integrar uma família, sentiu que nasceu de novo.

“Dentro de um abrigo, a gente acorda todos os dias com a angústia da dúvida. Não sabemos se vamos ser adotados em algum momento e eu já estava com sete anos, em pouco tempo faria 10 e as esperanças começam a diminuir bastante a partir daí. Então, quando fui adotada, foi mágico, como se minha mãe tivesse me feito nascer de novo ali. Ela mudou a minha vida para sempre e eu nunca vou conseguir retribuir esse gesto de puro amor”, disse ela.

Talvez não consiga retribuir, mas quer passar adiante. Por ter o desejo de criar filhos e saber do poder transformador da adoção, hoje é Paula quem aguarda na fila por uma criança, com a esposa.

“Entrei com o processo há dois meses e sinto um frio na barriga quando penso nisso. O mais legal é que, quando contei para minha mãe, ela se emocionou muito, porque ela sabe o quanto a adoção foi importante para mim. Vai ser uma mudança maravilhosa a chegada de mais um membro da família e eu mal posso esperar”, celebrou a economista.

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