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Saúde

Dia de Combate à Mortalidade Materna: taxa brasileira dá salto após pandemia e preocupa especialistas

Data é celebrada neste domingo (28)

Por Lara Curcino
Ás

Dia de Combate à Mortalidade Materna: taxa brasileira dá salto após pandemia e preocupa especialistas

Foto: Reprodução/TV Brasil

A mortalidade materna obstétrica tem crescido de maneira preocupante nos últimos anos, dando um salto, especialmente, de 2020 para 2021. É o que alerta o Observatório Obstétrico Brasileiro, que chama a atenção ainda para uma subnotificação dos casos. 

As discussões sobre o tema vêm à tona neste domingo (28), ao ser celebrado o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna. 

O estudo mais recente da entidade foi divulgado em outubro de 2022, com dados de 2021. No ano analisado foram registradas 2.857 mortes maternas, um aumento de 30% em relação a 2020, quando foram contabilizadas 1.964 mortes. 

Pandemia

Em 2021, foram 107 mortes a cada 100 mil nascidos, contra 72 em 2020, 55 em 2019, 56 em 2018, 58 em 2017 e também 58 em 2016. Os dados apontam que, durante os dois anos mais contundentes da pandemia, os números se sobressaíram. 

Ao Farol da Bahia, o obstetra Vinicius Pereira explicou que o aumento se relaciona com o período pandêmico porque o Brasil teve uma das taxas mais altas do mundo de mortalidade materna por Covid-19. 

“A gente percebe um salto na mortalidade materna de 94% entre 2019, antes da pandemia, e 2021, período ainda de restrições e proliferação de casos de coronavírus. Isso acontece porque o país teve uma das taxas mais altas de casos de mortes de gestantes e puérperas pela doença, muito porque o acesso ao serviço de saúde é bastante precário, especialmente o público, e isso se intensificou neste período”, detalhou ele. 

Quando o estudo foi divulgado, o Fundo de População da Organização das Nações Unidas (ONU) se pronunciou publicamente, demonstrando preocupação com a alta nos casos de mortalidade materna.

“No começo da pandemia, já sabíamos que haveria um impacto significativo da Covid-19 na saúde sexual e reprodutiva e na garantia dos direitos reprodutivos. Neste momento, a situação é ainda mais grave. Os dados recentes demonstram que é necessário um investimento significativo na rede de atenção obstétrica e neonatal. É preciso acelerar os esforços para garantir assistência adequada a mulheres gestantes e puérperas, especialmente aquelas em situação de maior vulnerabilidade”, afirmou a representante do Fundo de População da ONU no Brasil, Astrid Bant. 

Subnotificação

A pesquisa do Observatório foi feita a partir de informações do sistema do Ministério da Saúde. Apesar dos dados oficiais, a entidade aponta que o número de casos pode ser 35% maior do que o notificado. 

Isso porque não são contabilizados pelo governo federal morte de mulheres entre 10 e 49 anos ocorridos na gravidez, no parto ou no puerpério que não foram classificados em uma das categorias predeterminadas para morte materna da classificação internacional de doenças (CID). 

Outros casos não considerados são em que a declaração de óbito apontava para morte de gestante, puérpera até 42 dias, mas que não foram incluídos nos dados de morte materna declarados (oficiais), excluídos os casos decorrentes de suicídio, violência, disparo de arma de fogo etc.

“Os casos de subnotificação envolvem, primeiro, um problema geral no Brasil se lacuna no preenchimento de razão de óbito em todas as áreas da saúde. Isso é perigoso porque todas as informações no sistema direcionam políticas públicas. É, portanto, ideal que o poder público tenha conhecimento do cenário real de casos de mortalidade materna no país, para entender como precisa agir e o quão urgente é uma melhora. Afinal, o grau de prioridade das ações é pautado também na incidência de ocorrências”, esclareceu.

O mundo e o futuro

O Brasil não é o único país a enfrentar incidência preocupante de casos de mortalidade materna obstétrica. A OMS definiu como “inaceitavelmente alta” a taxa dos casos em todo o planeta. Por dia são 830 mortes no mundo. 

Para isso, a entidade definiu um plano de ação para que o número chegue a, no máximo, 70 óbitos a cada 100 mil habitantes em todos os países. Nesta iniciativa, Pereira pontuou que, nas Américas, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) desenvolveu uma estratégia para reduzir a taxa de mortalidade.

“O principal objetivo é zero morte materna por hemorragia, um projeto que chegou ao Brasil em 2015. Isso porque da América do Sul à América do Norte a principal causa de óbito de gestantes e puérperas é hemorragia. O plano de ação já está sendo posto em prática e envolve estabelecimento de protocolos específicos e treinamento de especialização de toda a cadeia envolvida na assistência do pré e pós-parto, além da atenção para a disponibilidade de remédios e equipamentos essenciais. A Bahia é um dos estados em que a iniciativa já está em vigor”, disse ele. 

Hemorragia foi o motivo pelo qual um advogado de Salvador, que preferiu não se identificar, perdeu a esposa. Em 2017, ela fez o parto em um hospital público da capital baiana e deu à luz a filha do casal, mas horas após parir não resistiu ao sangramento. 

“O médico explicou à época que o trabalho de parto prolongado e as lacerações do canal de parto foram as duas principais razões para que ela não conseguisse sobreviver. É uma dor que nunca vai se curar, mas ela deixou um presente para que eu pudesse cuidar e hoje eu fico feliz que exista esse investimento na qualificação dos profissionais que lidam com todo esse processo e das estruturas também, para que outras mães tenham sempre a melhor experiência possível e corram o mínimo de risco ao parir”, declarou ele.

Além de hemorragias graves (principalmente após o parto), o levantamento do Observatório apontou que os casos mais comuns de morte materna obstétrica são também por hipertensão arterial (eclampsia), infecções (normalmente depois do parto), complicações no parto e abortos inseguros.

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