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Dia do Índio: indígenas querem reflexão da sociedade e desejam não serem associados a lenda folclórica

Principal reivindicação ainda segue sendo as demarcações de terras no Brasil

Por Emilly Lima
Ás

Dia do Índio: indígenas querem reflexão da sociedade e desejam não serem associados a lenda folclórica

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O que para muitas pessoas pode ser considerado um dia de caracterização, para outras, que estão diretamente ligadas a data, o Dia do Índio, celebrado nesta terça-feira (19), deveria ser utilizado para provocar reflexão e conscientização na população, para que passem a pensar sobre como vivem, como estão a vida desses povos atualmente ou ao que eles têm acesso. "É pensar como estão os indígenas na atualidade e não no passado como fazem os livros didáticos", explicou o estudante de Direito pela UFBA, Genilson Taquari Pataxó ao Farol da Bahia

"O Dia do Índio é uma data controvérsia para muitos indígenas. Ela é entendida muitas vezes de forma equivocada por boa parte da sociedade, sobretudo pela escola e por algumas pessoas que acabam folclorizando a data e ao invés de provocar uma reflexão sobre os povos indígenas, disseminam certos estereótipos e preconceito", continuou.

Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

Ainda segundo Taquari, a população indígena não quer ser comparada a uma lenda folclórica, a exemplo do saci ou da mula sem cabeça. Ser reconhecido pela diversidade, cultura e religiosidade, é um dos pontos que os indígenas gostariam de ser reconhecidos pela sociedade no geral. 

Ao contrário da forma que são celebradas nas escolas e contadas pelos livros, os indígenas utilizam da data para reforçar a luta e resistência. Mesmo espalhados pelo Brasil, o objetivo segue sendo o mesmo: lutar pelo território e contra a precariedade das terras. "O governo não tem interesse em demarcar. Mas o direito não tem a ver com interesses, ele precisa ser respeitado e não vem sendo respeitado", disse o estudante de Direito.

Luta pela demarcação de terras é a principal reivindicação

O direito à demarcação de terras e territórios é o ponto em comum dos 305 povos indígenas espalhados pelo país, o que gera 274 línguas diferentes, conforme dados Censo 2010 feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Atualmente, segundo informações do Instituto Socioambiental (ISA), há 726 terras indígenas no Brasil. Do total, 122 em identificação, que estão em estudo por grupo de trabalho nomeado pela Fundação Nacional do Índio (Funai); 43 identificadas com relatório de estudo aprovado pela presidência da Funai; 74 terras declaradas pelo Ministério da Justiça; e 487 homologadas e reservadas pela Presidência da República, adquiridas pela União ou doadas por terceiros.

 “Ao longo desses mais de 500 anos de invasão, a nossa maior prioridade é a luta pelo nosso espaço e territorialidade, pela mãe natureza, pela luta. O que nós queremos é só o direito de viver e o direito de viver é a garantia de morada dos nossos ancestrais, que é o nosso território”, pontuou o comunicador social Alexandre Pankararu. 


Foto: Arquivo Pessoal

Além da demarcação das terras, outro tema também debatido e protegido pelos indígenas é a preservação do meio ambiente. Em 2021, o Brasil registrou uma taxa recorde de desmatamento na Amazônia, que alcançou 10.362 mil km² de mata ativa, sendo é a maior dos últimos 10 anos, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). “A degradação do meio ambiente não atinge somente os povos indígenas, ela atinge o planeta e a humanidade no geral. A nossa luta é pela vida e não só pela nossa, de toda humanidade. É a vida que nos sustenta”, disse Pankararu. 

'A luta não vai acabar com uma simples secretaria no governo'

Na semana passada ocorreu o 18º Acampamento Terra Livre (ATL), onde contou com lideranças de diversos movimentos sociais pela luta indígena e autoridades políticas, a exemplo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), onde ele prometeu revogar todas as decisões do presidente Jair Bolsonaro (PL) e criar um Ministério dos Povos Indígenas. No entanto, para Pankararu, apesar da ideia ser muito boa, ela não resolve todos os problemas dos povos. 

"É uma promessa maravilhosa, mas a gente precisa ver na prática, como isso vai atender às nossas demandas. São as pessoas não indígenas que ainda invadem nossos territórios, degradam nossas florestas, nossas matas e rios. A gente vem de uma luta centenária e a luta não vai acabar com uma simples secretaria indígena no governo", disse ao completar que ainda não consegue enxergar uma melhoria para sua atual geração.

Já para Taquari Pataxó, assim como o presidente Bolsonaro, o ex-presidente Lula também não demarcou as terras indígenas, portanto, não sabe se agora o petista fala a verdade. "O ex-presidente Lula foi fundamental na educação e em vários programas sociais, mas para os povos indígenas, não foi diferente dos demais. As terras não foram demarcadas, não houve melhorias nas condições de vida dos indígenas. Por isso a gente não sabe se ele vai cumprir ou ficar como promessa", explicou. 

"O movimento indígena tem o dever de reivindicar e a gente precisa estar atento. O presidente Bolsonaro não serve para nós. Ele tem sido inimigo e declarado que o indígena não tem vez no seu governo. Mas também não podemos ficar iludidos com aquele que diz que vai acolher as nossas demandas", acrescentou ao dizer que é preciso ter cautela.

Índio ou indígena?

Para os povos indígenas, ser chamado de índio é considerado um termo pejorativo porque eles nunca andam só e sim em comunidade. De acordo com Alexandre Pankararu, o nome foi dado inicialmente pelos colonizadores, mas que não é respeitoso com essa população. "O indígena ele reflete a diversidade cultural e multicultural que existe. Índio se refere a uma pessoa", diz. "A palavra índio foi muito folclorizada e diminui muito o ser indígena, que é sobre pertencimento", acrescentou. 

Compartilhando do mesmo entendimento de Pankararu, Taquari também pontua que o ideal é que a pessoa se refira aos indígenas pelo nome que lhe foi dado. "Se tiver falando de um povo Xavante, fala Xavante. Cada povo tem seu nome. Nós gostamos de ser chamados pelos nossos nomes e não por apelidos", disse. 
 

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