Dia do Patrimônio Histórico: conheça principais bens culturais de Salvador e a importância da sua preservação
Confira histórias e curiosidades sobre cartões-postais da capital baiana
Foto: Reprodução
Que Salvador é uma cidade rica em cultura e história, não é novidade para ninguém. Mas o que muitos não têm é a dimensão dessa riqueza que se esconde a cada esquina, atrás de muitas paredes e tijolos. É quase inevitável andar pela capital baiana e não se deparar com algum monumento ou casarão histórico, bem como não passar por ruas e avenidas que carregam tantos fatos e histórias, que fazem de Salvador o que ela é hoje.
Como primeira capital do Brasil, entre 1549 e 1763, Salvador testemunhou a mistura das culturas européias, africanas e ameríndias. Edificada sobre uma colina, dominando uma imensa baía em ponto estratégico da costa brasileira, a capital baiana foi capaz de preservar muitos edifícios renascentistas excepcionais, bem como toda essa mistura e diversidade que perdura há séculos e que tanto encantam turistas que por aqui passam.
Neste dia 17 de agosto é celebrado o Dia do Patrimônio Histórico, e como não poderia deixar de ser, aproveitamos a data para revisitar patrimônios da capital, desde aqueles que ninguém conhece, até os mais famosos e que todo mundo adora parar para tirar uma foto e postar nas redes sociais.
Capital da cultura e diversidade
Do Farol de Itapuã ao Elevador Lacerda, a verdade é que Salvador possui encantos que nenhum outro lugar do mundo tem. Não à toa, a cidade, este ano, foi eleita uma das melhores do mundo por viajantes de todo o Brasil. De acordo com a pesquisa da Booking.com, a primeira capital do Brasil está na segunda posição quando o assunto é preferência de destino na hora de viajar. Ela perde apenas para o Rio de Janeiro.
Seja por aqueles que preferem a natureza, para explorar a rica fauna e flora, ou por aqueles que adoram conhecer cidades históricas e visitar museus, casarões e outras edificações centenárias, Salvador está sempre este as principais opções de viajantes nacionais e internacionais.
A preferência é resultado, também, de uma série de transformações que a cidade vem sofrendo ao longo dos últimos anos, passando a oferecer mais opções de lazer e fomentando, ao mesmo tempo, o acesso à cultura e à história da cidade.
Para o diretor de turismo da Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador (Secult), Gegê Magalhães, tudo isso é fruto do trabalho intenso que vem sendo feito por toda a capital.
“A prefeitura de Salvador busca realizar revitalizações em diversos equipamentos, incluindo prédios históricos, como os prédios da Cidade da Música da Bahia e da Casa das Histórias de Salvador”, conta ele.
Ambos os imóveis fazem parte do projeto Complexo Cultural Cidade da Música, anunciado pelo prefeito Bruno Reis no início do ano, e que deve começar a funcionar até meados de 2024, ajudando Salvador a se consolidar como primeiro destino turístico do país e gerando mais emprego e renda para a população.
Além disso, outros projetos que visam valorizar o patrimônio histórico da cidade estão sendo adotados e analisados pela prefeitura. “Estamos também tendo um olhar cuidadoso para a parte do centro histórico. A ideia é fornecer, em breve, incentivos para a revitalização dos antigos casarões que são tombados, valorizando ainda mais aquela parte da cidade”, acrescenta o diretor de turismo da Secult, que faz questão de destacar investimentos futuros também no Elevador Lacerda, um dos cartões-postais mais famosos da capital baiana.
Inclusive, o Elevador Lacerda não à toa é um dos pontos turísticos mais famosos da cidade. Construído entre 1869 e 1873, o sistema de transporte público, um dos mais conhecidos do Brasil, é tombado desde 2006 pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e para o historiador Rafael Dantas, um dos locais mais importantes e emblemáticos da nossa capital.
“O Elevador Lacerda está entre os patrimônios que ajudaram a consolidar a imagem de Salvador ao longo do tempo. E essa fama não é exagero, já que ele foi o primeiro elevador público do mundo e, desde então, tornou-se um cartão-postal da cidade por expressar essa ideia de modernidade e progresso naquele momento. É inegável que o Elevador Lacerda colocou a cidade nos caminhos da modernidade em pleno século 19”, conta Rafael.
Outro destaque, segundo o historiador, é um bastante conhecido pelos baianos e turistas: o tão querido Farol da Barra. Quem nunca tirou uma foto com o famoso farol de fundo ou parou por um instante para admirar o pôr do sol cinematográfico que existe ali? E acredite se quiser: há quem não saiba que, ali dentro, funciona o Museu Náutico da Bahia, que conta um pouco da história náutica do estado, através de exposições e artefatos encontrados na vasta costa baiana.
“O Farol da Barra é importantíssimo no contexto histórico da Bahia, principalmente quando voltamos para os séculos 16, 17 e 18. Naquela época, o mar que ditava os contornos econômicos em todo o mundo. Mas não só por isso. Ele também teve um importante papel na defesa da nossa cidade e do nosso povo”, explica Rafael, que também destaca outros pontos turísticos que tiveram um importante papel de defesa nesse período, como o Forte São Diogo, Forte de Santa Maria e também o Forte São Marcelo.
O historiador ainda destaca as igrejas de Salvador, especialmente a de São Francisco de Assis, a Igreja do Bonfim, tão famosa pelas fitinhas coloridas que atraem turistas do mundo todo, e também a Igreja de Conceição da Praia, que possui um campanário com 16 sinos, o que o faz ganhar o título de maior campanário do estado da Bahia.
Além disso, ele cita ainda construções modernistas, como o Edifício Caramuru, inaugurado em 1951 e que está localizado no bairro do Comércio, e os terreiros de candomblé, como o de Gantois e Casa Branca do Engenho Velho, pertencentes aos bairros da Federação e Engenho Velho da Federação, respectivamente.
Valorizados, mas nem tanto
Apesar da fama que muitos desses locais possuem, ao questionarmos sobre a valorização do patrimônio baiano, especialistas e profissionais da área são unânimes em afirmar que o atual cenário está significativamente distante do patamar ideal. São frequentes os relatos de negligência e ausência de conservação, tanto por parte das autoridades públicas quanto da comunidade local na Bahia.
Para o jornalista e pesquisador do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Jorge Ramos, a falta de conhecimento e educação são alguns dos principais problemas. “Falta ao povo e aos governantes um maior conhecimento sobre a importância da valorização do nosso patrimônio. Sem conhecimento não há a presença de uma necessidade de preservação e o sentimento de pertencimento. O que precisamos é de mais atenção, cuidados e, principalmente, investimentos.”, afirma ele.
Ainda para o pesquisador, um dos caminhos é a inserção do assunto já a partir da educação básica. “Mais do que formar jovens, é preciso formar consciências. Por isso, uma necessidade dos nossos tempos é a presença de noções de Educação Patrimonial e é importante que isso comece a alcançar novas gerações. Se bem planejado, o patrimônio de uma cidade pode se tornar uma importante vertente econômica, impulsionando ainda mais o turismo e gerando emprego e renda”, explica ele.
O IGHB é, inclusive, um importante braço na defesa do patrimônio local. A instituição atua ininterruptamente há 139 anos na defesa da memória histórica da Bahia e oferece uma série de atividades programadas. São palestras, seminários, conferências e cursos. Além disso, dispõe de um museu com valioso acervo e uma biblioteca com mais de 30 mil títulos. Tudo está disponível gratuitamente para a comunidade e à disposição de interessados, sejam curiosos, pesquisadores e estudiosos de nossa historiografia.
Cultura para quem precisa
Foi pensando em prover esse acesso ao conhecimento que o historiador Rafael Dantas, junto com a diretora executiva da Historart Consultoria, coordenam o projeto que oferece cursos de caráter educativo para pessoas que desejam conhecer melhor a história da capital. A ideia é apresentar aos alunos uma Salvador que poucos conhecem, mostrando, in loco, a riqueza do patrimônio pleno de história e arte.
Para Fátima, os cursos são capazes de transformar todo esse cenário atual e influenciar novas gerações. "O grande problema que enfrentamos é a falta de estímulo. Se uma pessoa não é estimulada a conhecer a sua própria história, ela também não irá estimular os seus filhos ou pessoas próximas a ela. Assim, nada vai mudar. Por isso, é importante investir na educação, através de cursos, palestras e é isso que tentamos fazer com os cursos da Historart", ressalta.
Mais de 100 alunos participam dos cursos oferecidos pela Historart, que ultrapassam os limites físicos e estruturais. Engana-se, inclusive, aquele que acredita que o patrimônio histórico se resume a edificações e tijolos. Na realidade, sua abrangência é vasta, englobando não apenas elementos materiais e físicos, mas também aspectos documentais, naturais e imateriais. Como Jorge Ramos ressalta, "patrimônio consiste em todo conjunto de bens que moldam nossa herança histórica e cultural".