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Dia do rock: música como experiência de vida

Para dançar ou protestar, gênero é expressão plural de diversas gerações

Por Erick Tedesco
Ás

Dia do rock: música como experiência de vida

Foto: Renan Casarin

O rock’ n’ roll é encarado por algumas pessoas conservadoras e leigas como um movimento musical de rebeldia e protesto. Aliás, o rock com guitarras elétricas, que nasceu em meados dos anos 50 do século passado, ganhou notoriedade do público jovem que rompia com a formalidade e suavidade da música dos anos 40. O público jovem que interagia com o rock energético de letras que retratavam aspectos daquele universo adolescente em contraposição à moral adulta, um tanto quanto severa e controladora. Motocicletas e cigarros foram símbolos de uma nova geração, além do abandono, por parte das moças, das saias rodadas de Dior e posteriormente, o uso da minissaia nos anos 60, como prelúdio do feminismo. 

A atmosfera rebelde deste novo estilo que causava furor entre jovens e paulatinamente espaço na mídia torna-se ainda mais “invocado” com a imagem do ex-motorista de caminhão Elvis Presley, eternizado como o “rei do rock”. O bonitão de Mississipi também transformou-se em astro do cinema hollywoodiano e ao longo de sua vitoriosa carreira foi alvo de noticias e lendas do rock até a contemporaneidade. Elvis fazia pose de bom moço, porém envolveu-se com escândalos amorosos e problemas com drogas.

Depois de Elvis Presley nos Estados Unidos, os anos 60, lá e principalmente na Inglaterra, o rock dissipou-se em diversas vertentes, como o acid rock, rock progressivo, garage rock, rock psicodélico e muitas outras, todas abusando de guitarras sujas e postura despojada. Foi a época das primeiras associações entre o rock e as drogas, devido ao uso de LSD que muitos músicos tomavam para os shows. Apenas para referenciar com alguns dos muitos nomes de expressão desta época, Jimi Hendrix, The Who, The Doors, Grateful Dead, Frank Zappa, Iron Butterfly, entre outros.

Uma imagem do rock enquanto movimento cultural transmissor de ideias reacionárias foi o festival Woodstock, que aconteceu durante três dias de agosto de 1969, numa fazenda em Nova York, atraindo mais de 400 mil pessoas. Engajado no movimento hippie, o evento pregava paz, amor e liberdade. O evento é tido até hoje como um marco do movimento de contracultura, que questionava valores tradicionais da cultura norte-americana e também criticava a guerra do Vietnã.

Enquanto isso no Brasil, em meados da década de 60, mais exatamente em 1965, surge o movimento musical chamado Jovem Guarda, capitaneado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia. Eles apresentavam o programa de auditório, Jovem Guarda, na TV Record, cujas atrações eram nomes que se destacaram nesta fase do rock brasileiro. Apesar do rock dançante que agitou a vida de muitos jovens daquela época, não havia nada de sexo, drogas e política nas letras dos artistas do movimento tupiniquim.

A geração roqueira brasileira naquele período não era “revolucionária”. Apenas faziam rock para dançar, não protestar. Era o período de uma ditadura militar que se instaurou em 1964 e mais adiante, em 68, quando o governo estipulou o Ato Inconstitucional n.º 5, decretando fim da liberdade civil de expressão. Assim, toda produção musical passaria a ser controlada pela Ditadura, caso achassem que a letra criticava o governo, não autorizava sua publicação.

Entre 1967 e 1968, a música rebelde e contestadora no Brasil não foi o rock e sim um grupo de artistas que conceberam a Tropicália, liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, contando ainda com outros músicos como Tom Zé e Gal Costa, além do grupo Os Mutantes. Alicerçada em conceitos e propostas da Semana da Arte Moderna de 1922, o tropicalismo não aceitou o autoritarismo musical e fazia frente à Ditadura com letras subjetivas que criticavam a realidade do país naquela época. Como a memória nos ensinou, os músicos da Tropicália foram tidos como subversivos e mais tarde exilados do Brasil.

Já nos anos 80, com uma lenta e gradual abertura política no Brasil, o punk em voga lá fora (e crescendo por aqui com Garotos Podres, Cólera e Ratos do Porão), o rock tupiniquim volta a ser consciente com bandas como Ira!, Capital Inicial, Plebe Rude, entre outras, que cantavam sobre problemas sociais e questões inerentes a juventude. A Legião Urbana destaca-se entre a chamada “geração Coca-Cola”.

Estas bandas continuaram fazendo sucesso e cativando um bom público, porém no Brasil dos anos 90 perdem espaço para um rock descompromissado com a criticidade e mais voltado a temas engraçadinhos e apelos sexuais. Entretanto, no exterior, surge em Seattle o Nirvana, uma das bandas que mais inspirava rebeldia e contracultura de toda história da música, eternizado no hit “Smell like teen spirit”. No Brasil, o maior expoente do grunge foi justamente uma banda piracicabana, a Killing Chainsaw, além de Second Come e Pin Ups, da capital. 

No século 21, o rock que ganhou evidência na mídia era respaldado de aparatos tecnológicos e uma indústria cultural massificadora. Muitas bandas montadas surgiram na cena musical a partir do ano 2000 auto se postando como salvadores da essência do rock com suas roupas de roqueiros anos 60/70, moldando seu som juntando elementos de várias épocas, mas sem nenhuma autenticidade.

Generalizar não é a solução para o fim de conversa, portanto salienta-se que o rock definitivamente não morreu e está longe desta conversa fiada. Enquanto algumas copiam, outras recriam, aproximando o rock de outras sonoridades e experimentando, vide tantos gêneros derivados. Como outrora Lobão disse, “o rock errou”, aliás, ainda erra, mas algumas bandas o resgatam do fundo do poço e o coloca em voga para dizer que a contestação ainda tem vida longa. 

TREZE DE JULHO – A data simbólica para homenagear o rock foi oficializada 24 anos atrás, pelo músico Bob Geldof, o então vocalista da banda Boomtown Rats. Foi nesta data que ele organizou o megashow Live Aid, que arrecadou fundos em prol do combate a miséria e fome da África. Paul McCartney, The Who, Black Sabbath, Dire Straits, David Bowie, Eric Clapton, Led Zeppelin, Lionel Ritchie, Rolling Stones, Queen e Beach Boys foram alguns dos nomes que participaram do evento.

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