Dia dos Avós: além da celebração, data propõe reflexão sobre a importância da troca entre gerações

Falar dos avós é lembrar de algum conselho cheio de sabedoria, de uma tarde com histórias que você nunca ouviu dos seus pais, ou lembrar daqueles doces que você sempre podia comer antes das refeições. São momentos como esses, cheios de amor e afeto, que nos resgata a importância de conviver com os avós ao longo da vida. O Dia dos Avós, celebrado nesta quarta-feira (26), não é uma data somente para lembrar dos avós, mas também de provocar reflexões relacionadas à importância dessa troca entre gerações.

No caso das crianças, o relacionamento com os avós apresenta diversos benefícios para o seu desenvolvimento e para a construção de boas memórias com a família. Um estudo realizado pela Academia de Oxford durante 19 anos revelou que as crianças que conviveram mais tempo com o avô e a avó demonstraram menores chances de apresentar quadros de ansiedade e depressão na vida adulta. 

E foi pensando nas memórias afetivas que a filha vai ter, que a mineira Luisa Leles, de 27 anos, mãe de primeira viagem, explicou ao Farol da Bahia que sempre quis a presença dos pais no crescimento de Maria Luisa, de oito meses. "Eles são exemplos de bondade de companheirismo. Malu ama eles e já os reconhece. E pensando no desenvolvimento dela, ter eles tão perto é muito bom e eu sempre quis isso. Ela terá memórias para a vida toda, vai lembrar das brincadeiras, dos cuidados, passeios, comidinhas e chamadas de vídeo", disse ao completar que sempre esteve rodeada pelos avós e esse tipo de relação afetou de uma forma diferente que a dos pais. "Nos dá outros olhos em várias áreas para a vida adulta". 

_{Maglei e Luis Leles, com a neta Malu}

De acordo com a psicóloga, psicanalista e especialista em Saúde Mental de jovens e adultos, Renata Santana, uma criança que convive com seus avós desfruta da visualização de diferentes ciclos de vida, além de representar a continuidade da família.

"Os netos representam para os avós a continuidade da vida e da família e esse vínculo é de uma importância única, a beleza dos relatos desse amor por eles definidos com imensa intensidade e lindeza que aquele que ouve aquece o coração de forma imensamente encantadora", destacou

"Crianças que convivem com seus avós se beneficiam com uma vida mais desacelerada, com a visualização de diferentes ciclos de vida dentro do sistema familiar, além das habilidades especiais desses avós que nos marcam por toda uma vida, os perfumes, o cheirinho da vovó, do vovô, o aconchego de morar naquele abraço fofinho, o gostinho da comida mais deliciosa do mundo, as surpresas e os presentes dessa convivência", acrescentou.

Um exemplo do impacto positivo da figura dos avós na vida adulta é o engenheiro Leonardo Vinicius, de 28 anos, que cresceu com os avós e mantém relação com os dois até os dias de hoje. Durante sua infância e agora adulto, uma das coisas que mais adora nos dois são as histórias contadas por eles. "Meus avós, em toda a vida, sempre foram muito prestativos. Não só comigo, mas com todos. Quando chega alguém lá em casa, sempre é bem recebido. Minha avó coloca a comida na mesa. E com eles eu aprendi a não ter distinção, que não precisamos tratar ninguém mal", contou Leonardo à reportagem. 

"Eu amo eles mais do que a mim, pode ter certeza disso. Eu acredito que os benefícios que adquiri com eles é ter bondade para tudo. Eles não têm besteira com nada, sempre ajudou toda a família. Meu avô é apaixonado por futebol e eu acabei pegando essa paixão, só que não foi pelo mesmo time. Acabei escolhendo o do meu pai (risos). Meus avós têm um amor gigante por Andaraí [cidade na Chapada Diamantina] e eu também tenho hoje, mais pelas histórias que eles contam. Os dois são uma enciclopédia viva", destacou.

_{Dona Dalva, Sr. Zudgard e seu neto Leo}

A jornalista Luana Neiva, de 26 anos, cresceu com a avó Ligia Sandra, de 69 anos, e chegou a morar com ela até os seus oito anos de vida. Mas depois, precisou se mudar com os pais para outra cidade, mas isso não tirou a sua vontade de voltar a morar com a avó. Quando completou 18 anos e conquistou a independência financeira, ela voltou para o lar de dona Lígia e segue com ela oito anos depois. "Minha avó contribuiu e muito na minha formação como pessoa. Eu não seria a pessoa que eu sou sem os ensinamentos dela, a paciência e o cuidado que ela sempre teve comigo desde meu nascimento", destacou à reportagem.

"Eu a considero a pessoa mais importante da minha vida, por sempre estar com ela, desde meu nascimento, independente das situações que me fizeram mudar para outra cidade. Nossa relação nunca mudou por conta disso, pelo contrário, fortaleceu ainda mais. Entre os benefícios, é que tenho o privilégio de crescer com uma avó super presente, nem todo mundo tem essa sorte e também por aprender a conviver com as diferenças e amadurecimento, já que ela me ensinou muitas coisas seja para vida ou para coisas de casa", disse. 

O Farol da Bahia também perguntou à dona Lígia o que é ser avó. "É muito maravilhoso ser mãe duas vezes e aprender a ter mais paciência no dia a dia. A experiência é melhor que a primeira com certeza, porque a primeira não sabia nada e hoje com a minha experiência consigo levar as coisas com mais facilidade".

_{Luana e sua avó Lígia Sandra} 

E os benefícios também podem ser observados nos avós. Uma pesquisa feita pelo professor americano James Bates apontou que os avôs que cuidaram dos netos apresentaram melhor qualidade de vida e bem-estar, enquanto as avós demonstraram menores chances de desenvolverem doenças como o Alzheimer.

Essa qualidade de vida vem de momentos de interação com os netos, brincadeiras, mas também há muitos avós que exercem literalmente a responsabilidade de mãe e pai. Segundo a Dra. Renata Santana, de qualquer forma, a figura do avô e da avó representam união familiar. 

"Os avós são de uma importância muito especial dentro do contexto familiar, existem esses que estão em um momento da vida mais estável e geralmente marcado por uma maior disponibilidade de tempo para interação, brincadeiras e cuidados com os netos, além da isenção da responsabilidade pela educação e formação escolar dos netos, isso permite um vínculo mais confortável e repleto de boas memórias afetivas de amor", explicou.

"Existem também aqueles avós qué literalmente exercem funções complementares  de maternar, e paternar, os netos diante da indisponibilidade, ou imaturidade dos pais. De uma forma, ou de outra, os avós representam a união familiar, a integração com tios e primos, as ocasiões especiais, aniversários e festejos familiares.", completou.