Dia Mundial do Rim: não fazer atividade física e comer alimentos ultraprocessados favorecem o adoecimento dos órgãos
Especialista destaca importância de acompanhar a função renal através da dosagem de creatinina
Foto: Reprodução
Diante de uma rotina agitada, é muito comum que um indivíduo opte por alimentos que sejam mais rápidos e mais fáceis de serem consumidos, a exemplo dos embutidos, processados e ultraprocessados. No entanto, o consumo excessivo pode ocasionar complicações na saúde, como obesidade, pressão alta e diabetes, que são alguns dos fatores de risco para a doença renal crônica (DRC). De acordo com o professor de Medicina Interna e Nefrologia da Faculdade de Medicina da UFBA e diretor da Divisão de Diagnóstico e Terapêutica do Hupes/Ebserh, Dr. Antônio Raimundo, o paciente que não tem uma alimentação saudável e equilibrada somada a não realização de atividade física pode desenvolver o diabetes, que é a principal condição para a DRC.
"A gente tem todas as armas para retardar a entrada do indivíduo na diálise, retardar a progressão da doença e, em muitas situações, nós não queríamos que chegasse a esse ponto. Eu digo que a medicina é como se fosse um excelente corpo de bombeiros, que não soube prevenir o incêndio. É como se a gente tivesse falhado nessa parte de alimentação. A pessoa não fazer atividade física e não se manter com o peso ideal, comer alimentos embutidos, muito sal, muitos alimentos processados, tudo isso é favorável ao adoecimento como o diabetes, que por acaso vem a ser a principal causa da doença renal crônica do mundo", detalha em entrevista ao Farol da Bahia.
Anualmente, sempre na segunda quinta-feira do mês de março, o Brasil celebra a campanha mundial do Dia do Rim e reforça a importância de prevenir a doença, no caso de pacientes sadios, e prevenir a progressão da doença, no caso de pacientes que se encontram no grupo de risco, através do exame de dosagem da creatinina, utilizado para avaliar e acompanhar o funcionamento dos rins. Neste ano, a campanha, que completa 18 anos, chama atenção da população para o direito ao diagnóstico e acesso ao tratamento.
"Os pacientes de risco são os que tem diabetes, tanto a tipo 1 quanto a tipo 2, com hipertensão de longa data, tabagistas, obesos, com histórico familiar de doença renal crônica. Todos esses pacientes são grupos prioritários que a gente deve rastrear a doença. Mas, o ideal é que as pessoas, que fazem tantos exames laboratoriais e nós temos uma ferramenta que é muito simples, façam a dosagem da creatinina sérica. É um exame que custa R$ 5 e que as pessoas deveriam sempre incluir sempre no check-up anual. É através da creatinina e da idade do paciente, a gente calcula a taxa de filtração glomerular, ou seja, o percentual de função renal do indivíduo", recomenda o especialista.
Segundo o nefrologista, o rastreio da doença pode ser solicitado ao médico sempre que o paciente realizar os exames de check-up geral e, no caso do diabético, é recomendado o exame no ato da avaliação do diabetes mellitus.
"Toda vez que uma pessoa começar a fazer o exame de sangue de check-up seja para checar a glicemia, colesterol, é importante fazer a dosagem da creatinina. Isso aí por si só já é um exame simples de rastreio. Outro exame simples é o de urina. Toda vez que a pessoa tem proteinúria no sumário de urina ou a presença de sangue, independente da creatinina, já é uma forma de você rastrear", acrescenta.
No Brasil, a doença renal crônica afeta mais de 20 milhões de pessoas, ou seja, cerca de 10% da população em todo o país, de acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). A entidade ainda estima que, em 2040, a condição será a quinta maior causa de morte do mundo.
Na Bahia, em 2023, o número de pacientes em hemodiálise pelo Sistema Único de Saúde (SUS) era 8.677. Atualmente, o número é de 9.400 pacientes em tratamento no estado. Já dos que aguardam na fila para transplante de rim, o total é de 1.749. Os dados foram enviados para o Farol da Bahia na terça-feira (12) pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab).
Sinais e sintomas
A maioria das doenças que afetam os rins é silenciosa e, por esse motivo, muita gente só descobre que tem um problema renal quando ele já está avançado. Contudo, há alguns sinais de alerta que podem surgir no início do quadro e servir de aviso para você procurar um médico. Por exemplo, quando o paciente apresenta inchaço, urina espumosa, ou o exame de imagem apresenta alterações na anatomia dos rins, ou quando desenvolve hipertensão arterial de difícil controle. Essas são algumas pistas que podem ser verificadas através da dosagem de creatinina e exame de urina.
Já entre os sintomas que podem surgir, estão: hipertensão arterial, diabetes melitos, cólica renal, infecção urinária (ardor para urinar ou dor lombar associada a febre, urina com mal cheiro ou turva, dificuldade para urinar ou sentir vontade de urinar muitas vezes ao dia), sangue na urina, fraqueza ou palidez cutânea não explicada por outras causas.
Recomendações
Por ser uma doença grave, podendo levar a perda de até 90% da função renal, necessitando de tratamento de hemodiálise ou transplante de órgão, os indivíduos que são parte do grupo de riscos devem ter a atenção redobrada para não compactuar com a progressão da doença.
"Se o paciente se encontra no grupo de risco por ser hipertenso, ter obesidade ou diabetes, o primeiro passo é controlar bem a pressão arterial, controlar muito bem a diabetes, se tiver ganhando peso, é importante entrar em um programa para reduzir o peso. A outra coisa importante é evitar drogas, principalmente as tóxicas para os rins. Existem poucos medicamentos que fazem bem aos rins, então, muito cuidado. Há determinados chás e suplementos que não são fiscalizados pela Anvisa porque são considerados suplementos, mas muitos deles causam lesão renal", explica o Dr. Antônio Raimundo.
Outra recomendação fundamental é a automedicação, considerada muito perigosa pelos profissionais de saúde. Segundo o especialista, o paciente deve ficar em sinal de alerta se estiver consumindo muito anti-inflamatório. O uso prolongado deste medicamento pode provocar lesão renal.
Boa alimentação e atividade física
No caso de pacientes saudáveis, que não fazem parte do grupo de risco (diabetes, obesidade e hipertensão), a orientação é adotar novos hábitos alimentares e de vida, como atividade física, ingestão de mais água, evitar o consumo excessivo de álcool, não fumar e realizar exames de rotina para monitorar a função renal pelo menos uma vez no ano.
À reportagem, o professor de Nefrologia ainda lembrou que há 45 anos o hospital em que trabalhava ocupava pelo menos duas enfermarias com cerca de 45 pacientes, sendo desse total um ou dois com diabetes. Hoje, no entanto, a realidade é diferente com o novo estilo de vida adotado pela população.
"Hoje, nesse mesmo local, nós temos uma quantidade imensa de pessoas ou com diabetes ou com alguma complicação relacionada ao diabetes. O nosso estilo de vida ficou mais sedentário, passamos a comer mais alimentos processados, nos alimentar mal", disse.