Dia Nacional de Combate à Surdez: OMS alerta para risco crescente devido ao uso excessivo de fones de ouvido
Segundo a Organização, mais de 1 bilhão de jovens adultos poderão sofrer perda auditiva até 2050
Foto: Divulgação
O Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez é celebrado neste domingo (10). A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que, até 2050, mais de 1 bilhão de jovens adultos poderão sofrer perda auditiva permanente devido a práticas auditivas inseguras.
Entre as principais causas de surdez na adolescência estão o uso prolongado de fones de ouvido em volume alto e a exposição a ambientes barulhentos. O som alto pode causar danos ao ouvido interno, resultando em perda auditiva.
Além da exposição a ruídos intensos, infecções e obesidade também são fatores que podem contribuir para a perda auditiva, embora sejam menos comuns entre os jovens. Em entrevista ao Farol da Bahia, o otorrinolaringologista Gabriel Bijos, formado pela Universidade de São Paulo, comentou sobre essas condições.
“Nós não temos nenhum vírus, nenhuma bactéria nova que esteja causando esse tipo de quadro. Então, em relação à infecção a gente não percebe uma mudança importante nesse sentido. A obesidade, tem de fato uma associação. É possível identificar que a obesidade pode estar relacionada a uma elevação do número de pacientes que têm perda auditiva porque a obesidade em si liga a problemas cardiovasculares. Seja pressão alta, colesterol alto e essa questão pode afetar diretamente o ouvido, explicou Bijos.
Embora infecções não sejam uma causa frequente de perda auditiva entre jovens, é importante estar atento. A jovem Beatriz Odiele, de 21 anos, relatou à reportagem sua experiência recente com uma infecção auditiva, que a levou a procurar atendimento emergencial em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
“Foi ficando mais forte, eu estava no meu horário de almoço [do trabalho] e acabei indo para a UPA. Na unidade, eu relatei que meu ouvido estava dando umas pontadas e o médico informou que poderia indicar algo, mas se preocupou mais com a questão da dormência do rosto. Tomei duas medicações na veia e fui liberada, fiquei assim durante um mês, indo para a UPA de duas a três vezes por semana”, contou Beatriz.
Mesmo com o uso de antibióticos, a jovem continuou a sofrer com a infecção até que, em nova consulta, uma médica recomendou benzetacil e uma visita ao otorrinolaringologista. Após os exames, foi diagnosticada com otite, uma inflamação no ouvido causada por bactérias. "Realizei os exames, uma lavagem, e foi aí que aliviou, mas ainda assim, hoje, o meu ouvido não é a mesma coisa que antes”, desabafou.
Sintomas e diagnóstico
Os primeiros sinais de problemas auditivos entre jovens incluem zumbido persistente e dificuldades para entender falas. Segundo Gabriel Bijos, ainda não há aumento no número de jovens buscando atendimento, mas isso pode mudar nos próximos cinco a 10 anos devido ao uso intenso de fones de ouvido.
“A perda de audição ocorre ao longo do tempo e ,normalmente após oito anos de exposição a gente começa a ter problemas. Antigamente utilizava-se um Walk Man por até três horas e hoje se usa um fone de ouvido por até 14 horas. No entanto, a gente não nota um aumento de pacientes procurando ainda. Provavelmente daqui a cinco ou 10 anos, vai ser uma avalanche de pacientes com problema auditivo”, advertiu o médico.
Embora haja vídeos de autotestes auditivos circulando nas redes, Bijos alerta que esses testes e exames devem ser feitos em um consultório, através da audiometria. No procedimento é utilizado um ambiente controlado e com aparelhos calibrados. O gráfico audiométrico também apresenta informações precisas sobre a audição do paciente.
Prevenção
Os principais métodos de prevenção consistem em evitar fones de ouvido e locais com sons altos em longa duração. Atualmente, os próprios smartphones já emitem um alerta quando a utilização dos fones de ouvido pode causar uma lesão.
Em casos onde o paciente já possui um certo grau de perda auditiva, a utilização de aparelhos auditivos também faz parte dos métodos preventivos. Os aparelhos funcionam para prevenir que a perda auditiva não se agrave com o tempo.
Acessibilidade
Os aparelhos auditivos são disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), porém existe uma série de critérios a serem cumpridos para ter acesso ao dispositivo. A fila de espera também é maior do que a capacidade do SUS de fornecer os aparelhos. A média de tempo de espera na fila para conseguir o aparelho é de 2 anos. Durante a espera, muitos pacientes acabam mudando de endereço ou trocando o número de telefone, por esse motivo, o serviço não consegue entrar em contato com os paciente, que perde a vez e precisa ingressar novamente na fila.
A utilização do aparelho é muito importante para evitar que a situação de perda auditiva se agrave, e prevenir alguns tipos de demência, como o próprio Alzheimer.
“O aparelho vai estar ajudando o nosso organismo a entender que é preciso continuar ouvindo e isso funciona em uma espécie de fisioterapia para os ouvidos. Existem trabalhos bem claros que pessoas que têm perda de audição por isolamento social vão ter uma maior tendência a desenvolver demência. Por isso, quanto antes o tratamento, melhor e mais preventivo para a demência também.”, disse Gabriel Bijos.
Em caso de suspeitas de perda auditiva, o recomendado é agendar uma consulta com um médico otorrinolaringologista.