Dois de Julho: apenas a Covid-19 impediu a realização do Cortejo em quase 200 anos de independência
Em 2022, no ano da volta, festa na Bahia tem fanfarras, caboclos e forte presença política
Foto: Crédito: Betto/JR | SECOM
A celebração da Independência da Bahia, comemorada neste sábado (2), será realizada como manda o figurino com fanfarras, caboclo, tocha, político e a participação massiva do público. Em 199 anos de celebração, apenas a pandemia da Covid-19 impediu, por dois anos, que a multidão preenchesse o caminho que marca o percurso que as tropas brasileiras fizeram após expulsarem os portugueses das terras baianas em 1823.
A guerra durou mais de 17 meses – de fevereiro de 1822 a julho de 1823, e apenas com a vitória do Exército e da Marinha do Brasil na Bahia houve de fato a separação política do Brasil e Portugal. Em entrevista ao Farol da Bahia, o historiador, professor e pesquisador na área de cultura material e iconografia, Rafael Dantas, explica que a data é ainda mais simbólica para a história do país que a da independência do Brasil.
“Sete de setembro, a data oficial, não representa de fato a expulsão dos portugueses que na época apoiavam a não independência do Brasil, isso vai acontecer no contexto baiano com a retirada dos portugueses em 2 de julho de 1823. Ai sim, com a entrada do exército vitorioso nas ruas da cidade do Salvador começa a celebração, que segue nos anos seguintes” afirma.
Desde então, é tradição baiana a comemoração anual seguindo o caminho da entrada do exército. “O cortejo como a gente conhece surge em Salvador nas ruas onde os participantes da batalha entraram em sinal de vitória, pegando o caminho de Pirajá, Lapinha, Soledade, a região do Carmo, seguindo pelo Centro Histórico, Terreiro de Jesus, Câmara Municipal e, num segundo momento, Avenida Sete de Setembro e o Largo do Campo Grande”.
Dantas ressalta que a festa sofreu alterações ao decorrer do tempo, mas o mais importante é mantido até hoje. “De lá para cá, muita coisa mudou, criou-se a tradição de enfeitar as casas, uma serie de expressões festivas atreladas a festa foram criadas, inclusive a participação mais frequente de políticos. Então, a festa vai se transformando com o tempo, mas preserva sua essência cívica e participativa”.
Neste ano, com o tema “construindo nossa história”, a decoração montada pelo artista plástico Ray Vianna, com a participação do artista Daniel Soto, vai homenagear personagens populares importantes da independência: Maria Quitéria, Joana Angélica, Maria Felipa, Tambor da Soledade, Índio Jacaré, Corneteiro Lopes e João das Botas, em painéis de 4,5m instalados na Lapinha, Praça municipal e no Campo Grande. Para o artista a participação da população na celebração é “tão importante quanto foi na guerra. Estamos construindo a nossa história agora e sempre” disse.
A festa é marcada também com tradicional participação das fanfarras e do caboclo e da cabocla - que representam o exército formado por brasileiros brancos, tupinambás e negros.
O Cortejo
A 199º edição da festa é iniciada no dia 1º, na capital baiana, no bairro de Pirajá após a chegada do Fogo Simbólico, que parte no dia 30 de junho da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Cachoeira, no recôncavo baiano. O fogo simboliza a união dos povos que lutaram pela independência e percorre diversas cidades, passando de mão em mão por atletas, artistas e líderes políticos. A celebração do Te Deum acontece às 9h, na Igreja dos Rosários dos Pretos.
No sábado (2), às 6h, a tradicional queima de fogos no Largo da Lapinha marca a preparação do Cortejo Cívico. Em seguida, partem em direção à Praça Thomé de Souza.
A partir das 14h, o cortejo caminha para o Campo Grande onde a pira do Fogo Simbólico será acesa pelo campeão olímpico de boxe, Hebert Conceição. Nesta etapa, as flores são depositadas no Monumento ao 2 de Julho e é executado o hino nacional e o do Estado da Bahia. Confira a programação completa no final da matéria.
Política
Além da festividade, a presença política também vai aquecer o dia dois de julho na capital. A cidade vai receber o presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-presidente Lula (PT) e também os pré-candidatos à Presidência Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).
O Bolsonaro não vai participar do ato cívico, mas fará parte de uma motociata, a partir das 9h, na rua Orla Atlântica. A concentração está marcada para 8h, no Farol da Barra. O ex-presidente Lula confirmou que participará do Cortejo. Logo depois deve acontecer um evento com acesso restrito com exigência de cadastramento prévio, na Arena Fonte Nova.
O pré-candidato Ciro Gomes deve participar do desfile, com saída dos carros emblemáticos do Caboclo e da Cabocla, ao lado da comitiva do PDT, partido aliado ao ex-prefeito ACM Neto. A pré-candidata do MDB, Simone Tebet, também marcará presença no Cortejo.
A celebração da Independência da Bahia é historicamente visitada por políticos. Segundo o historiador Rafael Dantas, o momento serve como termômetro. “A tradição política faz parte desde o início do século IX, porque o Dois de julho é um grande cenário, é um palco de exibição de personagens que participam também na tentativa de reavivar sempre a memória dos participantes” concluiu.
Programação
Sexta-feira (1º)
Celebração do Te Deum na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de Salvador (9h)
Chegada do Fogo Simbólico – Largo de Pirajá (16h)
Encerramento da Solenidade (17h)
Sábado (2)
6h - Alvorada com queima de fogos no Largo da Lapinha
7h - Organização do Cortejo Cívico
8h - Hasteamento das Bandeiras por Autoridades, com a execução do Hino Nacional pela Banda de Música da Marinha do Brasil
Colocação de flores, pelas autoridades, no monumento ao General Labatut pelo Governador, Prefeito, 8h10 - Presidente da Assembleia, Presidente da Câmara de Vereadores de Salvador e Comandantes Militares
8h30 - Início do Cortejo Cívico
11h - Recolhimento dos Carros Emblemáticos dos Caboclos nos caramanchões da Praça Thomé de Souza
14h45 - Início do Cortejo Cívico
15h15 - Cerimônia Cívica no 2º Distrito Naval
16h - Previsão de chegada dos Carros Emblemáticos e das Autoridades ao Campo Grande
Programação cultural
Sexta-feira (1º)
Casa do Benin
Visita guiada ao acervo da Casa (14h)
Encenação Museu Vivo na Cidade – A Heroína da Independência (15h)
Sábado (2)
Casa do Benin
Museu Vivo na Cidade – Heróis da Independência saúdam o Caboclo e a Cabocla, na sacada da Casa do Benin (9h)
Culinária Musical – gastronomia com afrochef Jorge Washington, Atração musical: Sinho Bernardo com participação de Denise Correia, Performance poética: Jocelia Fonseca e encenação do Museu Vivo na Cidade (12h - 17h)
Sábado (2)
Campo Grande
XXXI Encontro de Filarmônicas – Regência: Maestro Fred Dantas (17h30 - 21h30)
Domingo (3)
Campo Grande
Show de Gerônimo em homenagem ao 2 de Julho
Baile da Independência – com a Orquestra do Maestro Fred Dantas (19h - 21h30)
Terça-feira (5)
Campo Grande - Lapinha
Volta dos Carros Emblemáticos. Participação da Orquestra do Maestro Reginaldo de Xangô, Fanfarras e Grupos Culturais (18h30)