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Em dez anos, internações por 3 infecções custaram R$ 4,7 bilhões ao SUS paulista

Pesquisa estima que 9,2 milhões de anos de vida foram perdidos devido a essas três infecções

Por FolhaPress
Ás

Em dez anos, internações por 3 infecções custaram R$ 4,7 bilhões ao SUS paulista

Foto: Marcello Casal/ Agência Brasil

Em dez anos, três infecções (pneumonias, infecções urinárias e da corrente sanguínea) responderam por quase 10% de todas as 24 milhões de internações nos hospitais públicos paulistas e causaram 541.702 mortes. Os gastos somam US$ 788 milhões (R$ 4,7 bilhões).

Os dados são de um mapeamento inédito do Gaia (Grupo de Análise em Infecções e Antimicrobianos), ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), das infecções mais prevalentes e da resistência antimicrobiana no ambiente hospitalar. A proposta é que isso leve a mudanças de protocolos de tratamento e uma alocação de recursos públicos mais efetiva.

A pesquisa, financiada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), estima que 9,2 milhões de anos de vida foram perdidos devido a essas três infecções. A YLL (years of life lost) é uma medida de mortalidade prematura que leva em consideração a frequência das mortes e a idade em que ocorrem.

Os pesquisadores trabalharam com informações do DataSUS de pacientes hospitalizados na rede paulista do SUS (Sistema Único de Saúde), entre 2013 e 2022. Na primeira etapa do estudo, houve a mensuração das três infecções. Na segunda etapa, está sendo medida a resistência antimicrobiana dentro de cada doença.

A resistência antimicrobiana é uma das dez maiores ameaças globais à saúde humana. Segundo estimativas, infecções bacterianas resistentes estão relacionadas à morte de cerca de 5 milhões de pessoas por ano. A continuar neste ritmo, os custos em saúde devem subir a US$ 1 trilhão até 2050, segundo o Banco Mundial.

As pneumonias lideraram em número de internações (1.329,619), com uma letalidade de 18,1% (240.418 mortes). Estimativas iniciais apontam cerca de 515 mil casos de Streptococcus pneumoniae (pneumococo) como causador dessa infecção, com até 145 mil casos de pneumococo resistentes a ceftriaxona, antibiótico muito usado para eliminar bactérias responsáveis por diversos tipos de infecção.

Em segundo lugar vieram as internações com infecção do trato urinário (612.117), com uma letalidade de 8,7% (53.101 mortes). O estudo estima uma ocorrência de cerca de 450 mil casos de Escherichia coli como causadora dessas infecções, com cerca de 70 a 90 mil casos resistentes à quinolona, outro grupo de antibióticos muito usado.

As infecções de corrente sanguínea responderam por 439.444 internações, com uma taxa de letalidade recorde, de 56,5% (248.183 mortes). A resistência a antimicrobianos ainda está sendo calculada. Na Europa, a letalidade por esse tipo de infecção varia entre 12% e 32%. No Chile,

Segundo o pesquisador Carlos Kiffer, professor adjunto da Unifesp e coordenador do Gaia, uma das razões da alta letalidade dessa infecção no Brasil é que porque a taxa engloba também os casos de sepse, doença desencadeada por uma inflamação que se espalha pelo organismo diante de uma infecção. "As taxas são muito altas e significativas. Vamos ainda aprofundar e buscar explicações para isso."

Outras possíveis causas, afirma o pesquisador, podem estar associadas a deficiências na infraestrutura de cuidados nos hospitais, distribuição inadequada de leitos, impactos da Covid ou até a uma maior resistência a antimicrobianos.

Para Kiffer, o estudo tem o mérito de mensurar o tamanho que hoje representa a resistência a antimicrobianos dentro de determinadas infecções. "Em uma mesma doença, você pode ter inúmeras bactérias causadoras e inúmeras resistências", explica.

Mensurar esse cenário é fundamental para a criação de um programa nacional de enfrentamento desse cenário de bactérias cada vez mais resistentes aos atuais antibióticos. O país tem um plano, mas não um programa robusto, a exemplo do programa nacional de imunizações ou de tuberculose.

O grupo utilizou um método de mensuração parecido com a que se usa para medir poluentes atmosféricos (bottom-up). "É pegar o dado local, tratá-lo e transformar esse dado numa informação útil", explica Kiffer.

Os próximos passos serão estudar o impacto das infecções bacterianas e da resistência a antimicrobianos em diferentes perfis de população, de instituições e de regiões, o que pode levar a mudanças de protocolos de tratamento.
"Se a gente perceber que o pneumococo resistente a ceftriaxona está ficando realmente tão comum, ela pode deixar de ser uma droga de escolha", afirma.

O pesquisador diz que no Hospital São Paulo, onde é professor, por exemplo, quando chega um caso com suspeita de pneumococo, se for um paciente grave, a equipe já não usa apenas a ceftriaxona. Outros antibióticos são associados para uma resposta mais efetiva.

Outra linha a ser estudada são as disparidades regionais envolvidas nas infecções, com grupos de municípios apresentando taxas de letalidade muito maiores do que outros.

"Talvez porque tenham menos recursos públicos na saúde, menos leitos de UTI e de profissionais capacitados. Isso tudo a gente vai explorar para o futuro."

Segundo ele, para o planejamento de uma política pública que enfrente essas questões, é fundamental ter dados reais que estimem o problema para que seja possível mensurar o quanto é necessário para enfrentá-lo.

Ele cita o exemplo do tratamento de uma pneumonia pneumocócica. "A ceftrexona funciona para quase 400 mil casos [de acordo com os resultados do estudo], mas não funciona para cerca de 150 mil. Então, eu tenho que ter uma destinação de verba para 150 mil tratamentos [antibiótico] de outro tipo."

De acordo com ele, hoje o tratamento das principais infecções é padronizado no país, mas é possível que, em um futuro próximo, os medicamentos possam ser diferentes de uma região para outra. "Você pode ter bolsões de áreas mais resistentes e outros de áreas mais sensíveis."

O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde.

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